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Era uma vez um rapaz que só postava selfies no Instagram. Selfie da barba, selfie das coxas, selfie de cueca com o volume marcando, selfie do peito peludo… Narcisismo? Bem, com uns 10 posts, já tinha milhares de seguidores, então estava agradando a alguém, não? Será que funcionava mais o fato de que ele postava fotos de pau duro, deixava cinco minutos e depois apagava? Mistérios da modernidade…

Essa história é real. Eu vi acontecer no meu feed e fiquei pensando mil coisas, tipo se era só diversão, se outras pessoas achavam um problema, se seria efetivamente o indício de alguma crise existencial, se o exibicionismo digital é bom ou ruim, se é uma questão gay ou capitalista etc. Realmente, fiquei encucado.

Acredito que as experiências de rejeição deixem marcas profundas em nossa personalidade. Não quero dar uma de “analista de botequim”, mas acho que todos concordamos que a mudança do colinho da mamãe para a realidade colorida com massinha da escola é um momento marcante de nossa cultura. É nesse momento que começamos a perceber as estruturas sociais e – principalmente – nosso lugar nelas. Seremos vencedores ou perdedores? Bonitos ou feios? Populares ou esquisitões? Certinhos ou bagunceiros? É tudo muito “Meninas Malvadas”, mas não dá para negar que reproduzimos e mantemos essas classificações sociais por toda a vida, seja em grupos pequenos ou em escala global, através das redes sociais.

- BKDR -
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Nossa sociedade preza o individualismo. Somos os protagonistas dos incríveis seriados de nossas vidas e we were all born superstars, mas como não dá para todo mundo virar a Lady Gaga, acabamos por nos contentar com meia dúzia de likes no Facebookretweets, cutucadas, seguidores aqui e ali e parceiros em potencial nos aplicativos, porque um “match” sempre dá aquela massageada no ego. “Alguém me deseja” não é tudo que queremos dizer quando acordamos com a cara virada do avesso e encaramos o espelho depois de uma ressaca?

Ser gay é ser um excluído. É óbvio que em algumas famílias a coisa é mais tranquila, mas de qualquer forma essa percepção da nossa diferença, apontada pela sociedade, já é uma vivência traumática. É algo que sentimos antes da manifestação de desejos sexuais ou orientações afetivas, e é tão forte a ponto de nos fazer ASSUMIR uma identidade política como rótulo social. Nós SOMOS gays, e uma vez que não passamos 24 horas do dia praticando – uma pena, concordo – atos homossexuais, fica claro que o julgamento externo tem um papel enorme em nossas vidas.

Entretanto, nosso estigma é uma “falha”, e como tal precisa de uma compensação.

Narcisismo, exibicionismo, vaidade, frivolidade, culto ao corpo e à juventude. Nada disso é exclusividade da cultura gay, por mais que o estereótipo propagado reforce essa ideia. Somos catalogados socialmente através dos nichos em que nos colocam – ou em que nos convencem a entrar. Assim, talvez seja o sentimento de inadequação que justifique o porque de “nosso meio” ser ou parecer mais frutífero para esse tipo de coisa. Todos querem ser amados, mas talvez gays queiram um pouco mais. Todos querem fazer sucesso, mas talvez os gays tenham um gostinho a mais em “sambar na cara das inimigas”. De repente o reconhecimento tem mais valor quando somos educados a pensar que valemos menos, e provavelmente as dificuldades enfrentadas servem de prova do quanto as nossas conquistas são difíceis e especiais.

É claro que essa percepção de dificuldade varia de acordo com classe e raça, mas acredito que mesmo em círculos privilegiados o estigma da homossexualidade ainda cause traumas, apesar do verniz de tolerância que nossos “tempos modernos” de propaganda de perfume emprestam à vida. É nesse cenário que uma roupa de marca, a eterna foto de perfil em Paris, um grande número de seguidores, de “curtidas” ou de compartilhamentos em um post ou foto podem fazer a diferença entre uma autoimagem saudável, narcisismo exacerbado ou complexo de inferioridade.

Pensar nessas questões pode ajudar na construção dessa “imagem pública” – a armadura social que vestimos na internet e em sociedade – e talvez nos deixar um pouquinho mais generosos na hora de julgar os outros. Afinal, algumas pessoas provavelmente só estão se divertindo… E isso é ótimo! If you can’t love yourself, how the hell are you gonna love somebody else?

ruwink

Permita-se. Seja livre. Seja fabuloso.

Leia Dando Pinta todas as quartas, em Os Entendidos. Se quiser levantar o meu narcisismo a minha moral, você pode compartilhar esse texto até esfolar os dedos ou me seguir no Instagram.com/fabriciolongo.




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