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O modelo de masculinidade ainda é baseado em expressar potências e esconder imperfeições e angústias. Isso não faz mais sentido.

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Por Letícia Gonzalez para Revista Trip

A cena é comum nos grupos de reflexão coordenados pelo psicólogo Carlos Zuma, no Rio de Janeiro. Numa sala cheia de homens reunidos por 1 hora e meia, tem alguém que chora primeiro. Aí, conta Zuma, o desconforto é palpável. “Um levanta para pegar um café, outro se mexe na cadeira, outro puxa conversa com o cara ao lado.” Especialmente nos primeiros encontros, a pauta geral é incômoda — o que é, afinal, ser homem hoje? A portas fechadas, ideias de macheza e pressão social vêm à tona. Lembranças de infância se misturam a memórias recentes, como as das agressões que eles próprios cometeram. É que a maioria chega ali via juizado de violência doméstica; outros poucos por exigência da mulher e uma minoria por vontade própria. Mas o que os faz participar é outra coisa. A saudade dos filhos, a perda da mulher que amam e a noção da dor causada levam a uma só conclusão. É preciso ser macho de outro jeito.

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A metodologia usada nos encontros semanais é a criada pelo pioneiro Instituto Noos, fundado por Zuma com colegas em 1994, hoje replicada em mais de 20 programas no Brasil. Fazer falar os homens é a proposta do grupo para abrir suas cabeças e encontrar soluções pacíficas para a vida. A maioria tem mais de 40 anos e é de um tempo em que força era sinônimo de masculinidade. Cresceram em famílias com um líder inconteste que, não raro, “corrigia” mulher e filhos fisicamente. São um retrato ultrapassado, mas ambulante. Apesar do crime que cometeram, têm ideias que circulam livremente por aí.

“Quer ver meninos brigando? Chegue num jardim de infância e pergunte quem é o marica. Eles vão prontamente apontar o dedo uns aos outros, ou escolher um só, que terá de brigar com todos para provar o contrário”, diz o sociólogo americano Michael Kimmel no documentário A máscara em que você vive, que investiga a cultura do macho nos Estados Unidos. Fundador do Centro de Estudos do Homem e das Masculinidades na Stony Brook University, em Nova York, e autor de Guyland: The perilous world where boys become men (algo como “‘Caralândia’: o mundo perigoso onde os meninos se tornam homens”), Kimmel faz coro com colegas brasileiros quando decreta: brincadeiras que humilham a sensibilidade de meninos os destroem por dentro. Não é a capacidade de se defender que está em jogo (argumento de muitos pais para apoiar o lado briguento dos filhos), mas o castigo a toda e qualquer vulnerabilidade. “Expressar sentimentos é ser menos homem. Assim os gêneros vão se moldando”, diz Zuma. De um leque de emoções potencialmente amplo, sobra uma única legítima – a raiva – e um único modo de expressá-la – a agressão física. “Isso não é genético, como muitas mães acreditam. É apenas incentivado desde muito cedo.”




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