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Quando iniciamos a entrevista, Markinhos Moura disse que iria falar sobre assuntos nunca antes ditos. De fato, o cantor e também ator não fugiu de nenhuma pergunta, falou abertamente sobre todos os temas na lata, sem rodeios ou frases feitas.

Sincero, Moura contou sobre várias fases e momentos de sua vida, desde a infância no Ceará, a adolescência no Rio de Janeiro e o sucesso estrondoso com a canção “Meu Mel” em 1987, quando ia a todos os programas de TV, e cujo disco vendeu 100 mil cópias.

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Markinhos Moura Acervo pessoal

A música ainda faz parte na vida do cantor, assim como o teatro e até o cinema também. Com mais de três décadas de carreira, Markinhos Moura tem muita história pra contar.

Você começou a sua carreira como ator, protagonizando musicais em Fortaleza. Como se deu a sua entrada no teatro?

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Eu já cantava informalmente na minha escola, nas festas. Eu tinha uma vizinha um pouco mais velha do que eu e ela trabalhava com um grupo de teatro universitário bem político. Na verdade, eu tenho alguns apagões. Eu não me lembro como eu consegui entrar na peça, mas foi através dela que eu conheci o grupo e como sabiam que eu cantava, então eu me inseri no grupo. Comecei atuando e cantando em uma peça pós ditadura, que eu nem sabia o que era, porque eu era muito alienado. Eu nem sabia que havia passado por uma ditadura, acho que isso foi em 1974/75, não me lembro bem.  Depois que eu fui entender, a coisa ainda era bem forte sobre a ditadura.

E como era ser artista em plena ditadura ?

Nós atores tínhamos que nos reunir. A gente fazia isso na praça do Ferreira e, junto com a gente, logicamente, muitos gays. Entre os artistas não existia esse tipo de separação. Acredito que até hoje a praça seja conhecida como a ‘Praça dos Viados’, às vezes, após os nossos ensaios, a gente se reunia para conversar. Eu estava saindo da adolescência, e de vez em quando nós éramos surpreendidos pelo carro da polícia, e quando ele passava, a gente tinha que correr igual baratas tontas (risos). Para entrar no teatro, já foi uma briga muito grande (com a família), pois o artista era visto como ameaçador. Homem era baitola (gay), maconheiro e mulher era puta, galinha, quenga, todos esses adjetivos ‘nobres’ nós tinhamos.

Você veio de uma família muito humilde?

Eu nasci numa família pobre, que antes de eu nascer teve posses, mas quando nasci já estava pobre. Não era uma pobreza que passasse fome, mas uma pobreza que não me dava condições de ter uma bicicleta. Eu era criativo. Eu fazia maquetes, lembro que certa vez, eu fiz uma maquete de uma série que eu amava e que até hoje eu amo, que era Perdidos no Espaço, inclusive meu apelido na escola era Dr. Smith.

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Markinhos Moura Reprodução

Era um bullying ser chamado de Dr. Smith?

Um dos bullyings que eu sofria, porque ele era um personagem muito afetado, mas eu não era afetado. Eu tinha uma aparência feminina, cabelo mais ou menos grande, e pra me agredir, eles me chamavam de Dr. Smith. Na época nem falava bullying, chamava coió, esculhambação etc. Os garotos se juntavam na porta da escola para me bater, porque eu era o mais popular, porque as meninas só queriam ficar comigo. Elas me adoravam. A minha ligação forte com as mulheres já vem desde essa época. Elas me defendiam, se juntavam e não deixavam bater em mim.

Você se lembra de alguma situação específica envolvendo bullying?

Uma vez eu criei coragem e dublei em uma das festas do colégio. Dublei o Ney (Matogrosso) e em outra festa a Elis. Uma música dificílima pra minha idade, chamada “Saudade dos Aviões da Panair”, que eu também não entendia nada da música. Eu não sabia nem que a empresa aérea existia. A dublagem da Elis passou, mas quando eu fui dublar o Ney (risos), um coro único dizia “viado, baitola…” essas coisas todas.

Markinhos Moura

Certa vez, uma pessoa me disse que “o nordestino fala cuspindo pedra”, a respeito da falta de sensibilidade, carinho dos pais com os seus filhos, principalmente quando o assunto envolve sexualidade, como foi a sua infância e adolescência?

Eu brincava bastante na rua. Eu ficava muito tempo no bar do meu avô. Meus tios maternos tinham muitos discos, e eu ia lá pra assistir TV, porque não tinha televisão na minha casa e eu era fascinado por TV, e também para ficar ouvindo discos e lendo revistas. Eu assistia muito ao Jornal Nacional para poder aprender a falar direito, porque tinha aulas de ditado na escola. Lembro de brincar na chuva, nas poças de água e que nunca fiquei doente por isso. Eu lembro que ficávamos brincando na rua e… me lembro que muito tempo depois, bastante tempo mesmo, eu fui entender que algumas ‘brincadeiras’ não eram tão infantis assim. Era o que nós chamamos hoje de assédio, abuso sexual, que eu não entendia. É interessante que eu não me lembro de nenhum rosto desses amigos da época, mas no geral eu fui feliz com aquilo que eu tinha.

Markinhos Moura Reprodução

Havia muito preconceito naquela época de forma geral?

Essa coisa do nordestino falar cuspindo pedra é verdade. Acredito que tenha mudado. Eu saí de lá com 15 anos, mas do que eu me lembro ainda existe muito machismo, muito preconceito e muita hipocrisia. Eu via durante o dia, eles xingarem quando passava na rua algum cabeleireiro dali perto da gente. As próprias esposas deles iam fazer cabelo, e eu ficava ouvindo “viado, baitola”, e eu calado, porque eu não sabia e aquilo me amedrontava muito. Depois eu tive amizade com um deles escondido, que tinha um salão lá, e tinha que ser uma amizade escondida, porque eu não podia dizer que tinha amizade com um cabeleireiro. Inclusive eu já superei isso, mas eu tive uma grande frustração por não ter estudado balé clássico. Eu tinha ganhado uma bolsa, claro que eu não ia ser um bailarino grandioso por causa da minha estatura, mas como artista ia ser maravilhoso pra mim, e eu não pude porque não me deixaram.

Na minha adolescência, eu já estava trabalhando e já estava fora de Fortaleza, mas dentro dessas possibilidades eu fui feliz. As coisas que eu mais lembro são coisas que eu já superei, coisas dolorosas, da minha infância junto do meu pai. Eu vi muita violência, muita briga, e quando voltava pra casa da minha avó, eu também via muita violência, muita briga, então isso era uma coisa que me fazia sofrer muito. Eu também tenho essas lembranças meio dark, sabe? Superei, graças a Deus.

No início da década de oitenta, você apareceu no programa Fantástico como uma voz misteriosa interpretando Elis Regina, aliás a voz era idêntica à da cantora. Eu imagino que a sua vida tenha mudado completamente após isso…

Eu tinha gravado meu primeiro compacto chamado Segredos. O Fantástico se interessou porque eles (gravadora) levaram esse material, e por causa da semelhança com a voz da Elis. Pra mim, o grande fascínio é que eu ia fazer o Fantástico, que eu via Elis, Vanusa, Fafá, Secos e Molhados, que eu via lá na vila que eu morava. Eu ia fazer o programa de maior audiência do Brasil.

E a sua vida mudou após aquela participação no Fantástico?

A minha vida mudou. Eu tinha saído da adolescência. Eu tive que trabalhar muito. Eu tinha que vir muitas vezes a São Paulo. Eu ficava entre Rio e São Paulo, às vezes eu passava três meses solitariamente em hotéis tenebrosos. Isso contribuiu muito para a minha insônia, porque eu só dormia quando eu via que já tinha clareado. Eu tinha verdadeiro pavor, às vezes eu ficava num andar sozinho, parecia filme de terror. A minha insônia começou a piorar aí, e às vezes eu tinha que acordar de madrugada para ir a quatro, cinco rádios em cidades diferentes, para promover o disco, dar entrevista, tocar a música etc.

A música “Meu Mel”(1987) foi um dos maiores sucessos daquele ano, você inclusive esteve em vários programas de TV, Chacrinha, Globo de Ouro, Xuxa etc. Você chegou a dar uma pirada com a fama?

Fiz Chacrinha, Globo de Ouro, Xuxa… todos os programas de TV da época. Eu não pirei com a fama. Eu devo ter tido arroubos em alguns momentos, em algumas situações, eu posso ter tido alguns arroubos de egocentrismo, talvez, eu sou humano né. O que eu queria era cantar, era estar conquistando esses degraus, indo a esses programas que eu assistia de casa, conhecendo essas pessoas que eu via lá do Ceará, isso me bastava, me alimentava. No fundo, eu queria ser um híbrido de Elis Regina e Ney Matogrosso, isso é impossível né (risos), porque ambos eram muito peculiares e divinos.

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Markinhos Moura Reprodução

Naquela época, o seu visual era bastante ousado, original, roupas extravagantes, brincos, acessórios nos braços etc. Era uma forma de mostrar algo como “este sou eu”? Porque você nunca escondeu a sua orientação sexual.

Isso tem a ver com os anos 80. Super andrógino. A moda ia se modificando e experimentações em todos os sentidos. Acho que era isso que você me perguntou, acho que era uma forma de mostrar que “este sou eu”, de uma forma mais velada. Na verdade, eu nunca escondi nada, eu estava indo na onda do que estava acontecendo. Em relação às roupas, eu era vestido por 3 lojas, logicamente que após a fama vieram as propostas de eu vestir outras marcas, na época Yes Brazil e tantas outras. Eu usava camisetas decotadas pra época. Eu era loiro, eu descoloria o cabelo, e fui um dos primeiros artistas depois do Jô Soares e do Benito di Paula, a usar brinco. Você imagina o quanto isso custou na época. Era terrível, porque ninguém, os rapazes, os homens não usavam isso, e eu usava. Quanto a essa questão de não esconder a orientação sexual, não existia nenhuma intenção de me mostrar ou não mostrar.

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Markinhos Moura Reprodução

Você nunca esteve no armário, na verdade…

Acho que aliado a essas roupas andróginas, a minha voz andrógina, o meu jeito andrógino, novinho e cabelo loiro, então eu acho que isso deixava a testosterona dos machões de plantão com ódio (risos). Eu nunca tive a necessidade de falar disso. Era uma época que você não podia falar isso e eu vivia com um séquito atrás de mim, me policiando. Tinha muita gente que como eu, não podia se mostrar, como hoje, como depois poderia se mostrar. Eu nunca estive no armário, eu sempre estive na frente do armário, abrindo a porta pra quem quisesse entrar ou sair. Fora essas coisas de achincalhamento, eu sempre fui bem tratado. Na verdade, eu já estava preparado pra isso. Eu já vinha disso. Eu sabia que eu ia enfrentar isso, e fora isso, eu tinha uma família, eu tinha uma mãe e eu tenho uma mãe. Eu não tinha culhão, conhecimento e nem cultura pra segurar a onda de falar algo, pra quê? Nunca me senti obrigado a levantar bandeiras naquela época.

O Canal Viva reprisou vários programas musicais daquela época, você chegou a se assistir neles? É verdade que rever as imagens te trazia recordações tristes?

Não era isso. Eu não gostava de me ver porque eu não sou nostálgico. Eu sou muito crítico comigo, então eu vejo defeito em tudo. Tenho recordações maravilhosas, mas eu sou super perfeccionista. Agora eu já superei, mas eu sempre tive problemas de autoestima. Eu nunca me achei bonito, eu sou baixinho, pareço mais gordo, então tudo me incomoda muito porque sou vaidoso.

Entendi, pensei que estivesse relacionado com relacionamentos do passado. Você namorou muito? Afinal eram os anos 1980, uma década bastante libertária ainda, pelo menos até a metade, quando veio a AIDS.

Não namorei na época. Vou te falar uma coisa: eu nunca fui casado, nunca tive um relacionamento estável – nunca. Primeiro porque nós éramos muito vigiados, gente me lembrando que eu tinha que ter compostura, que eu tinha que ter um comportamento discreto. Não é que não aconteceu –  aconteceu, mas eu fui me tornando adulto e aprendendo as coisas. Eu não sou nenhum santo, mas eu nunca fui de permissividade. É por isso que eu tô vivo até hoje.

Os anos oitenta eram maravilhosos em alguns sentidos. Carnaval, a Banda de Ipanema, que a gente via os homens mais lindos do mundo, que saiam da praia diretamente para a Banda, e lá a gente ficava naqueles bares. Aqueles caras tranquilamente, sem homofobia, se soltavam numa alegria geral, e beijavam todos os caras que estavam na Banda. Era realmente uma coisa fantástica, parecia uma bacante. Era uma gente linda. Sem confusão. Sem nada disso.

Anos 80
Markinhos Moura – Reprodução Revista Amiga

Então você teve poucos relacionamentos?

Nunca tive um relacionamento sério. Nunca morei com ninguém. Eu cheguei a conclusão que eu sou incapaz de segurar uma relação. Não tenho maturidade pra isso. Eu tenho uma facilidade enorme nas minhas relações fraternais, com amigos, com a minha mãe… eu sou mestre nisso. Quando passa para as minhas relações pessoais/íntimas, eu costumo dizer que eu não tenho um dedinho podre – eu tenho vinte. Porque todas as tentativas que eu fiz… eu sempre quis ter alguém, nunca quis ficar de mão em mão. Eu sempre quis ter alguém, mas sempre me apaixonei pelas pessoas erradas, e sempre fui abandonado. Eu me prendo a essa tese de que tudo começa na infância né, o primeiro homem que me abandonou foi o meu pai, e isso não ficou resolvido. Todos aqueles homens que eu me apaixonei – todos eles me abandonaram sem exceção, inclusive há pouco tempo.

Eu vi que eu não tenho capacidade para ter uma relação assim. Eu não encontrei a pessoa certa e já busquei resposta pra isso na religião, no esoterismo e na terapia. Eu acho que eu nasci para amar e não pra ser amado, esse tipo de amor. Eu sou uma pessoa muito amada, mas o amor carnal, íntimo, eu devo ter aprontado muito em alguma vida passada e pago por isso. Então, eu canalizei todo amor que eu tenho para a minha mãe, meus amigos, e assim vou vivendo. A idade me trouxe maturidade e as ferramentas para que eu superasse essas coisas. Eu já sofri muito por amor. Devo ter sido muito cobiçado, algumas pessoas me dizem, mas nunca percebi. Acho que era porque eu estava querendo outra pessoa, com certeza uma pessoa que não era compatível comigo.

Markinhos Moura Reprodução

Mas na década de 1980 havia ainda uma liberdade oriunda dos anos 70, com muitas festas, sexo, drogas etc…

Existiam as ‘festas loucas’, para as quais eu era convidado, mas eu tinha medo. O medo me ajudou muito. O medo me ajudou a não entrar nas drogas. O medo me ajudou a não me prostituir. O medo me ajudou a não ser permissivo. Eu nunca fui de ficar frequentando guetos, boates gays… essas coisas. Eu nunca gostei de gueto. Eu sempre gostei de lugares misturados, que pudesse ter aquela integração entre as pessoas, e logo depois veio o advento da AIDS né, no qual eu perdi muita gente. Isso também me deixou com mais medo, era uma coisa obsessiva(medo), porque a gente não sabia o que era. Você perdia duas, três pessoas por dia. Então, isso me deu um pavor danado. Eu sempre tive pavor com isso. Em relação às drogas, eu só experimentei maconha e não gostei. A vibe que me deu não foi legal. Quando experimentei, foi na minha casa, e fazia com amigos dentro de casa, e isso foi raras vezes. Em alguns momentos isolados, em lugares, para dar uma de moderninho e eu fazia que fumava, mas eu nunca gostei. Espiritualmente, me deixava muito sem energia, até hoje. Eu não suporto sentir o cheiro. Não é caretice, não é nada disso. Tenho vários amigos que gostam, que fumam, só peço pra não fazer na minha casa.

Está solteiro atualmente?

Não estou namorando. Não estou pensando em namorar. Não acredito nisso pra mim, porque como eu nunca tive experiência, eu não sei lidar com isso. Sou muito passional. Eu já fiz loucuras por estar apaixonado, e quando eu estou apaixonado, eu quero apenas aquela pessoa, eu vivo pra aquela pessoa. Não sei se isso é bom, se isso assusta, e se isso faz a pessoa fugir.

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Markinhos Moura Reprodução

E o fato de ser famoso atrapalhava?

Tinha também aquela desconfiança de achar que a pessoa está comigo sempre com alguma intenção. Até hoje isso acontece, e isso é muito frustrante. A pessoa chega até você, um jogo de conquista, é só amizade e tal… e daqui a pouco, vem o golpe de misericórdia… quer que eu faça algo, algo que me pede, tem sempre algo por trás.

Já se relacionou com famosos ?

Nunca me relacionei com nenhum famoso, e claro que se eu tivesse feito isso, eu não iria dizer quem é. Nunca quis fazer isso, porque tinha muito medo de ser falado no meio na época, até me arrependo muitíssimo. Hoje me arrependo (risos).

Usa aplicativos de paquera?

Já usei sim, mas não deu certo pra mim. Primeiro porque as pessoas que apareciam estavam muito longe do que eu queria. Eu sou muito seletivo. Isso me impede muito de ter alguém, e quando eu botava o meu rosto, passava um tempinho e vinha alguém com aquela pergunta: “você é o Markinhos Moura?” Aí bicho é broxante né.

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Você lançou vários LP ‘s, fez muitos shows, deu pra ganhar muito dinheiro e fazer um pé de meia?

Não. Porque eu comecei a vender bem mesmo com o “Meu Mel”, que foi o meu sexto disco, não foi o primeiro disco como todo mundo acha. Eu ralei seis anos seguidos e logo após gravar Meu Mel, eu fui chamado para mudar de gravadora, que era a gravadora que eu sonhava e fui pra lá (Polygram). Por conta disso, eu não recebi o meu disco de ouro até hoje, pois eu sabia que havia vendido mais de 100 mil cópias, mas a gravadora (Copacabana) negava. Eu tenho uma ação (judicial) contra eles, que eu já ganhei há mais de vinte anos, creio que nunca vão me pagar, creio.

Ao contrário do que todo mundo acha, não ganhei muito dinheiro. Ganhei na época o que dava para me sustentar e ajudar a minha mãe, mas não deu tempo de eu comprar imóvel. E outra coisa, não se ganhava muito naquela época. A estrutura do show business antes dos anos noventa, não era uma coisa tão profissional como foi depois. Nós fazíamos bastante shows, mas por um preço pequeno, e aí tem os atravessadores, a minha inexperiência, a minha inexperiência de não pedir pra ver borderô (extrato minucioso de pagamentos, recebimentos etc), falta de instrução, não havia ninguém que me instruísse pra isso… todas essas coisas. Eu deixava pra lá, eu só queria cantar.

Eu podia ter uma aposentadoria se as pessoas que tivessem comigo, tivesse me orientado desde aquela época a começar a pagar. Eu não tenho aposentadoria. Isso foi um erro muito grande, então eu não ganhei dinheiro que desse pra eu juntar, pra eu ter avião, que as pessoas com um ano de carreira já tem um, não sei quantas casas, vai de férias para Londres, Paris etc. Nós não tínhamos isso, com raras exceções, a maioria não ganhava isso.

Em relação à síndrome do pânico. Sabe as motivações?

Fui um dos primeiros casos de 1990, logo após o meu disco Sem Pudor, que é um disco em que eu estou nu na capa. Eu tive a síndrome por conta justamente dessas fases que eu deveria ter vivido e eu ultrapassei elas, trabalhando, buscando a minha carreira, e muitas perdas que eu tive ao longo dos anos. A perda da minha avó me afetou demais, de amigos, e eu fui guardando, sendo forte, até que um dia isso transbordou. O start, o gatilho, foi a minha rescisão de contrato na Polygram, e aí eu comecei a pensar “e agora?” Tinha brigado com o meu ex empresário, estava sem gravadora e estava acostumado com a gravadora cuidando das minhas coisas.

De repente, você é amado no Brasil inteiro, você vai no açougue e ele não te cobra, e no outro dia, você deixa de ser o queridinho do Brasil. Tudo isso junto… você fica perdido. Energeticamente, você fica péssimo, sua autoestima vai pra casa do caralho, você explode por dentro, e foi o que aconteceu comigo. Você fica doente mesmo. É uma doença da alma, e também psíquica. Eu estive em emergências achando que estava tendo um infarto, mas não era. Eu via medo em tudo, você tem medo de dormir e não acordar, tem medo da noite, tem medo de ter medo, mas é uma doença também redentora. Quando você sai dela e eu consegui, quando você supera ela, você se torna uma pessoa muito melhor. Eu me tornei uma pessoa melhor.

Foi quando você teve fobia de avião?

Eu tenho pavor de avião. Continuo tendo (risos). Não sei como fui pra china e para o japão. Hoje eu não sei se iria para lugares tão distantes.

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Markinhos Moura Reprodução

Você é uma pessoa saudosista? Afinal, sua imagem está muito ligada ao passado também.

Não sou não. Amo meu passado. Tenho uma honra enorme de ter vindo dos anos oitenta. Uma década inesquecível. Muito frutífera para a música. Acho que nós fizemos parte de uma geração de artistas que não se repetirá. Com raras exceções, tivemos nos anos noventa pra cá alguns artistas originais e maravilhosos. Eu não gosto muito de encontrar com os meus amigos da época, porque eles só querem falar do passado. Isso me cansa. Eu sou geminiano. Eu olho para o futuro. Eu quero saber daqui pra frente, e as pessoas me encontram e só querem falar disso: “eu lembro de você no Chacrinha”. Sabe, as vezes isso me irrita um pouco, principalmente quando elas falam: “por que você parou?” Eu não parei. A mídia que parou com a gente. Eu não parei, e tem muita gente que também não parou. Eu faço teatro, eu faço cinema, gravei uma série que era pra estrear este ano de um canal de streaming, chama-se “Sala de Professores” e eu sou um dos protagonistas, com artistas maravilhosos. Uma coisa muito bacana, que deve estrear no ano que vem por causa da pandemia. Eu gosto de desafios. Tem o Angel que eu vou voltar agora, do Vítor Oliveira, roteirista de novelas da Globo e Record. O que me move são desafios.

Quais são os seus próximos projetos pós pandemia?

Trabalhar muito. Primeiro tomar a vacina pra que eu acabe com esse medo todo e trabalhar em outras frentes. Eu rezo muito para Deus abrir novos caminhos, novas formas de expressão pra mim. Quero continuar cantando, mas cada vez mais, quero o ator mais em cena, mais presente. Estou aberto a projetos, porque as pessoas ainda tem muito o que aprender sobre mim, muito, tanto que quando elas vão me ver no teatro, elas ficam muito surpresas. Quero cuidar mais de mim fisicamente, pra que eu tenha uma longevidade e para que eu possa ainda fazer muita coisa. Daqui a alguns dias, eu vou estar lançando um CD novo em todas as plataformas, estou pelo mundo e de coração aberto para o mundo.

Reprodução Angel

Angel, peça de Vítor Oliveira e Carlos Fernando Barros sobre os bastidores de um cabaré decadente que se mantém graças ao favoritismo de uma senadora que usa o espaço para lavar dinheiro. Estreia dia 26 de novembro no teatro União Cultural em São Paulo. A direção é assinada por Eduardo Martini e o elenco conta com nomes como Guilherme Chelucci, Bruno Pacheco, Markinhos Moura, além do próprio Martini entre outros.

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