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Leonardo Cezimbra nasceu em uma cidade pequena no Rio Grande do Sul, onde vive até hoje. Formado em Educação Física, ele conciliava as aulas na academia com a carreira de modelo fotográfico.
A vida de Léo mudou radicalmente em 2013, após uma sessão de fotos feitas em um rio, quando o seu corpo foi atacado por uma bactéria. Ao fazer uma série de exames, veio o diagnóstico positivo para HIV. Como costuma dizer, Leo Cezimbra amadureceu 15 anos em 1. Se informou ao máximo em relação ao HIV, criou uma página na internet que rendeu um livro e criou um canal no Youtube bastante popular.
Atualmente, ele atua como instrutor de hidroginástica e bike indoor e vive um relacionamento sorodiferente. A popularidade do ex-modelo fez com que ele recebesse um convite para protagonizar uma campanha educativa do Governo sobre prevenção sexual em 2018.

Você trabalhava como modelo fotográfico e descobriu que era HIV+ em 2013.
Sim, eu fazia pequenos trabalhos como modelo fotográfico. Num deles, tirei algumas fotos no rio da minha cidade (Rio Uruguai). Durante as fotos, meu corpo foi atacado por uma bactéria. Devido a complicações dessa bactéria na minha pele que resultaram num surto de furúnculos, resolvi fazer uma bateria de exames e testes. Junto deles estava um teste de HIV. Para minha surpresa, deu positivo.
E como você reagiu com a notícia acerca de sua sorologia?
No primeiro momento achei que morreria em dois meses. Mas logo busquei informação e descobri que hoje, com uma boa adesão, uma pessoa pode viver dignamente com HIV. Mas sim, o primeiro impacto foi chocante.

Você é de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, não deve ter sido fácil você revelar a sua orientação sexual e muito menos seu status sorológico. Você chegou a sofrer preconceito?
Enquanto eu mantinha minha sorologia em segredo foi complicado. O que é triste, já que o sigilo de sorologia é um direito que nós (pessoas vivendo com HIV) temos. Infelizmente as pessoas, muitas vezes, não respeitam nossa condição. Mas é bom lembrar que é crime revelar a sorologia de alguém sem sua permissão. Enfim, enfrentei as fofocas assumindo minha sorologia, eu compreendo que nem todos podem fazer isso, mas abrir meus status sorológico foi libertador.

E como a sua família reagiu quando você contou sobre sua orientação sexual aos 27 anos e 5 anos depois sobre o HIV?
Minha mãe foi sempre muito acolhedora. Meus irmãos também. Na verdade sou muito privilegiado em relação a isso. Meu pai demorou um pouco mais para ter essa confirmação da minha boca. Nosso relacionamento era um pouco complicado e piorou quando minha sexualidade começou a ficar mais evidente. Porém, surpreendentemente, após saber sobre eu ser gay, ele foi acolhedor e passou por um processo de desconstrução, do qual está até hoje. Sobre o HIV, contei para eles no mesmo dia que recebi o diagnóstico. Eu tinha certeza que eles me apoiariam… Na verdade nem passou pela minha cabeça o contrário. Eu tenho muita sorte.
Após o resultado, você foi buscar tratamento no serviço de saúde de sua cidade, como foi o atendimento?
Nossa, a minha cidade é referência no estado no enfrentamento ao HIV/AIDS, então o CTA está cheio de pessoas preparadas e treinadas para nos receber. Eles me direcionaram da melhor forma possível.
E os relacionamentos amorosos como ficaram apartir de então? Embora em uma cidade pequena, muitos optam por viver no armário.
Bom, praticamente não tiveram. Poucas pessoas se permitiam ficar comigo e a maioria delas queria sigilo. Chegaram a me cobrar para transar por um possível “risco”. Foi complicado. Acho que essa questão é muito delicada, especialmente quando se tem uma sorologia aberta em uma cidade pequena. O estigma ainda é muito presente. Não posso dizer que os “nãos” que recebi não me abalaram. Me abalaram muito.

Atualmente você está namorando né? É uma relação sorodirerente?
Sim. Três anos depois do meu diagnóstico o Maurício apareceu na minha vida. Temos um relacionamento sorodiferente. Ele chegou para mim sabendo tudo que precisava saber e sabendo também da minha sorologia. Estamos juntos desde 2016… Firmes e fortes.
No entanto, a internet está cheia de haters, pessoas que atacam os outros fazendo julgamentos sem conhecer a história a fundo, como você lida com isso, sendo que você aborda o assunto em suas redes sociais e isso acaba tendo um grande alcance?
Eu sabia que teria esse lado mais pesado também. Infelizmente as pessoas carecem de empatia hoje. Já recebi muitas mensagens ofensivas e algumas realmente perturbadoras, mas eu levo isso tranquilamente. Tinha consciência que poderia acontecer. É triste, não deveria importar como se deu a transmissão do HIV. Ninguém fica jogando na cara de uma pessoa lutando contra o câncer por exemplo, uma possível culpa pela doença. No caso do HIV/AIDS isso acontece por culpa do tabu envolta de tudo que é relacionado com sexo. Eu tento apenas monitorar as mensagens ofensivas e cheias de julgamentos para que uma pessoa com diagnóstico recente não leia e se sinta mal.
Após o diagnóstico, você criou uma página chamada “Confissões de um soropositivo” que acabou rendendo um livro…
Exato. Comecei anonimamente, depois juntei as confissões e publiquei um livro com o mesmo nome. Hoje ela chama-se Léo Cezimbra apenas. Troquei até por uma questão de atualização de nomenclatura, já que evitamos a palavra “soropositivo” atualmente.

E o canal no Youtube como surgiu? Aliás, é um canal bastante informativo, didático.
O canal surgiu na necessidade de passar informação. Eu senti que com áudio/visual o engajamento é maior. De fato é. Fico espantado que estou com quase 20 mil inscritos no canal. Bom saber que tem esse tanto de gente querendo aprender sobre HIV/AIDS.

Em 2018, você foi convidado para fazer uma campanha do Governo, cujo o nome era “Sou +, estou indetectável”. Você acha que falta ainda informação nos meios de comunicação (TV) a respeito de HIV/Aids, prevenção sexual etc?
Eu acho que a indetectabilidade tem que ser muito debatida, foi uma avanço extraordinário. Só temos que ter cuidado quando falamos sobre ela. Pra mim, ela deveria ser tratada como mais um método de prevenção. Porém, muitas vezes se transforma em um “passe livre para sexo”. É importante lembrar que mesmo uma pessoa não estando indetectável, pode ter uma vida sexual e afetiva saudável.
O que mudou na sua vida pós-HIV?
Eu amadureci 15 anos em 1. Me tornei uma pessoa melhor. Mas é bom dizer que não falo isso de uma forma romântica. Esse amadurecimento foi doloroso e forçado. Viver com o HIV me fez descobrir que eu sou muito mais forte do que eu jamais poderia imaginar. Aprendi a ser resiliente.

Qual a sua opinião acerca da PrEP (Profilaxia Pré exposição)?
PrEP é uma ferramente incrível de prevenção sexual. Existe muita polêmica sobre o uso dela, mas normalmente são baseadas em achismos. Ela deveria ser divulgada de forma ampla e ter acesso garantido para todos.

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