A designer Cláudia Baccile contou que foi expulsa do Centro de Treinamento Ministerial Diante do Trono (CTMDT), da igreja evangélica Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, Minas Gerais no ano de 2009. Na época, Baccile tinha 19 anos e queria ser ministra de louvor.
Cláudia disse que o CTMDT era uma espécie de “faculdade” do Diante do Trono, com cursos pagos e internos que passavam por um processo seletivo do qual faziam parte cartas de recomendação de pastores e o preenchimento de um formulário que, entre outras coisas, perguntava sobre experiências homossexuais.
Baccile deixou a família, em Brasília, para se dedicar aos estudos e, mesmo aprovada em todas as disciplinas, ela foi impedida de pegar o diploma no dia do baile por ser lésbica.
“O pastor líder disse que o nome do ministério não podia ser associado a pessoas como eu” – disse.
A designer se entende como uma mulher lésbica desde que tinha 5 anos, mas ela não tinha ficado com mulheres até se apaixonar por uma aluna do seminário.
Ambas tiveram um caso de amor platônico, mas não tinham relações sexuais, pois consideravam a “prática homossexual” como pecado. No entanto, ela revelou seus sentimentos à liderança da escola movida por um sentimento de culpa, e à liderança impôs o afastamento total das duas como condição para a continuidade dos estudos.
“Tive quer um versículo da Bíblia para ela na frente dos pastores. O texto falava que a homossexualidade é abominação para Deus. Ela saiu da sala chorando. Foi horrível” – lembra.
Na ocasião, os professores vigiavam os movimentos das duas e as expunham para outros alunos. Segundo Baccile, seu computador pessoal foi confiscado para achar trocas de mensagens entre as duas, além de que os pastores faziam diversas orações para “expulsar demônios” de Cláudia.
Ela foi levada à Estância Paraíso, um sítio no município de Sabará (MG) pertencente à Igreja da Lagoinha.
“Uma obreira a quem pedi socorro disse que minha taquicardia era o mover do Espírito Santo.” – disse.
Ao longo de três dias de internação, Baccile cumpriu uma rotina intensa de orações, palestras e cultos, e ouvia sobre curas de homossexuais, viciados, conversão de adúlteros e arrependimento de pessoas que roubavam.
“É um lugar para casos perdidos, na visão deles. Pessoas com depressão e todo tipo de vícios. No seminário, víamos quem ia à estância como um doente internado no hospital” – lembra.
Ao retornar para o seminário, Cláudia foi orientada por uma professora, que também era psicóloga, a procurar a Clínica da Alma. Os psicólogos cristãos da Batista da Lagoinha prestam atendimentos sociais que custam R$ 80 por sessão.
O espaço, embora se chame “clínica”, é um serviço social sem CNPJ e não aceita planos de saúde. Por lá são oferecidas outras terapias e cursos da “Escola de Restauração” que abordam temas como cura interior, aborto e sexualidade.
Cláudia não se lembra se houve abordagens diretas sobre sua homossexualidade na “Clínica da Alma”, mas diz que foi encaminhada com a perspectiva de “deixar a homossexualidade”.
“Para eles [evangélicos], é um distúrbio que pode ser mudado. Ou seja, acreditam que é possível alguém deixar de ser gay se as causas para esse comportamento fossem tratadas.”
Apesar de tudo isso, Cláudia nunca fez uma denúncia formal contra o seminário, que parou de funcionar em 2018, em razão de uma crise financeira do Diante do Trono.
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