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No próximo dia 06 de julho, sábado, acontecerá em Campinas (SP) o lançamento do livro “Inclinações, erotismo, pederastia e práticas masturbatórias”, de Paulo Reis dos Santos, que trata da questão da psiquiatrização, na virada do século XIX para o XX, das práticas sexuais que não visavam a procriação.

“Inclinações, erotismo, pederastia e práticas masturbatórias: uma análise dos prontuários Clínicos dos campineiros internados no Sanatório Pinel na década de 1930” chega às livrarias em uma edição com 250 páginas
“Inclinações, erotismo, pederastia e práticas masturbatórias: uma análise dos prontuários Clínicos dos campineiros internados no Sanatório Pinel na década de 1930” chega às livrarias em uma edição com 250 páginas

“De tanta violência gerada por essa onda fascista que se alastra sobre o país, e que atinge sobretudo a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), a publicação deste livro é, por si só, um ato de coragem”, alerta a Profª, Drª. Gabriela Guarnieri de C. Tebet, da Faculdade de Educação da Unicamp.

Fruto da sua tese de doutoramento, Paulo Reis dos Santos demonstra como a discursividade psiquiátrica interditou e asilou em sanatórios e hospícios as e os praticantes de uma sexualidade não procriativa, excluindo-as ao convívio social.

O autor nos apresenta um estudo sobre o discurso médico-higienista-psiquiátrico formulado por cientistas europeus acerca das práticas sexuais dissidentes, na virada do século XIX para o século XX, e como esse arcabouço teórico, estruturado pela moral cristã, recheados de estereótipos e preconceitos, influenciou a nascente psiquiatria brasileira. O autor também demonstra como esse discurso psiquiátrico se tornou uma ferramenta vigorosa para a normatizar a heterossexualidade como a única forma sadia e legítima de sexualidade.

- BKDR -
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A partir da análise da literatura médico-psiquiátrica deste período, fundamentado nos estudos do filósofo francês Michel Foucault, o autor procurou evidenciar o impacto que a heteronormatividade teve – e ainda tem – na vida e subjetividade das pessoas, não só deste período, mas dos dias de hoje também.

Com a colonização portuguesa no Brasil, essas práticas foram vistas como pecado e muita gente caiu nas garras da Santa Inquisição. A partir da era Republicana, as práticas sexuais não procriativas foram classificadas como crime, previsto em lei.

Já no início do século XX, os filhos dos barões do café que foram estudar na Europa, trouxeram as ideias de uma modernidade pautada em costumes higiênicos e uma sexualidade sadia.

Toda esta discursividade “científica” forneceu subsídios para a elaboração de um sofisticado aparato histórico do que poderia ser identificado como uma espécie de anomalia das práticas sexuais pautadas no prazer, no gozo e não na procriação.

Os estudos eugênicos consideravam os chamados “desvios sexuais”, como decorrentes de degenerações hereditárias, e os mesmos representavam, aos olhos dos leigos, uma “aberração” que poderia levar à reclusão em instituições asilares com os mais variados diagnósticos: masturbadores, pederastas, onanistas, sodomitas, pederastas passivos, fetichistas, entre outros. Já o tratamento sugerido para sua cura variava entre o banho de imersão em água gelada; sangrias com aplicação de sanguessugas na cabeça ou no ânus; ópio; injeções de morfina, cloral, tártaro e outros calmantes além de banho de assento e outros.

Esses tratamentos foram utilizados no Sanatório Pinel, onde Paulo Reis, em sua pesquisa, encontrou e analisou os prontuários de alguns moradores da cidade de Campinas, ali internados na década de 1930.

Sanatório Pinel de Pirituba, São Paulo. Foto sem data (fonte: Fundo Pacheco
Sanatório Pinel de Pirituba, São Paulo. Foto sem data. Fonte: Fundo Pacheco1

Para os remanescentes da elite cafeeira decadente campineira, a família branca e heterossexual representava o ideal a ser alcançado, pois ela seria a principal célula construtora da nação e só através dela, é que se alcançaria a “ordem e o progresso”. Neste contexto ideológico, toda forma de sexualidade não reprodutiva acabaria sendo alocada no campo do desvio, do desequilíbrio moral e mental, de acordo com a lógica do discurso médico higienista de então.

No Sanatório Pinel, as mais modernas técnicas da medicina higiênica foram aplicadas no intuito de obter a cura das doenças nervosas, mentais e toxicômanas. Assim, seu corpo clínico contribuiu para que a psiquiatria brasileira se constituísse num saber-poder que veio forçar certa contenção, ou uma domesticação dos corpos, marcada por uma dupla vigilância – sobre os outros e sobre si, – o que reclama para si uma higiene pública e privada, pois em sociedade ainda hoje é necessário utilizar a máscara da heterossexualidade para que a anormalidade não seja notada, caso contrário seu portador deveria e ainda deve se submeter a métodos ortopédicos de readequação social.

“Inclinações, erotismo, pederastia e práticas masturbatórias: uma análise dos prontuários Clínicos dos campineiros internados no Sanatório Pinel na década de 1930” chega às livrarias em uma edição com 250 páginas e também em e-book. O livro já se encontra à venda na Livraria Pontes, com o autor e no site da editora Viseu.

Livro aborda como as práticas sexuais não procriativas se transformaram em doenças mentais
Livro aborda como as práticas sexuais não procriativas se transformaram em doenças mentais

SERVIÇO
Lançamento do Livro
“Inclinações, erotismo, pederastia e práticas masturbatórias”
Sábado, 06 de julho, às 10h
Livraria Pontes
Rua Doutor Quirino, 1233 – Campinas, SP

Paulo Reis dos Santos é Doutor e Mestre em Educação, pela Faculdade de Educação da UNICAMP, Universidade Estadual de Campinas, bacharel em Comunicação Social pelo Instituto Metodista de Ensino Superior. Foi coordenador do Centro de Referência LGBT da Prefeitura de Campinas e atualmente ministra cursos, palestras e oficinas na área da sexualidade, estudos de gênero e direitos humanos.




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