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A começar pela intenção de utilizar a palavra / termo STRAIGHT, que, do inglês, significa “reto, direito, certo, organizado, alinhado, correto, perfeito”, para definir a heterossexualidade como uma prática sexual “normal”,  a ser seguida / adotada e que parece / é / seria “mais” coerente ao comportamento humano que as demais, Foucault concebe tal ideia de modo que vai além de entendê-la como apenas uma prática sexual, mas a entende como um regime político que tem como proposta uma administração dos corpos, uma gestão calculada da vida no âmbito da Biopolítica. Fica claro para Foucault que o biopoder tem o intuito de produzir disciplinas, um saber próprio, de normatização da subjetivação dos indivíduos.

parada gay por vinicius yamada
Parada Gay São Paulo 2015. Foto: @viniciusyamada

Em contrapartida, Beatriz Preciado propõe que os “anormais”, logo, seus corpos e suas identidades, seriam, portanto, além de dissidentes a essa normatização Straight, mas também potencias políticas, não somente efeitos dos discursos, e que essas potencias visam combater a ideia de que a sexualidade do indivíduo e seu corpo não são um dado passivo sobre a qual age esse biopoder.  Se faz necessário, nessa perspectiva, a ideia de que a sexualidade requer uma territorialização precisa, por exemplo, do anus, boca e assim por diante. É assim, portanto, que o pensamento Straight assegura a ideia, a estrutura entre a produção de identidade gênero e a produção de órgãos sexuais e suas definidas funções.

Desempenha-se, então, uma normatização do corpo contemporâneo e a noção de que “gênero” é inicialmente uma noção sexo-política. Algo que procura normatizar e regular a sexualidade do individuo a partir de uma visão fisio / biológica e essencialista. Isso dá origem aos embates “construtivistas” e “essencialistas” que abrem debates que procuram conceitualizar a construção social, a fabricação histórica e cultural da diferença sexual, onde por exemplo, “feminilidade” deixa de ser um substrato natural e ganha força como forma de uma verdade ontológica.

Entende-se GÊNERO como sendo um conjunto de dispositivos sexopolíticos que serão um objeto de reapropriação pelas minorias sexuais.  Entende-se CORPO como algo que não é / está passivo a atuação do biopoder mas como uma potência.  Surge a ideia de desterritorialização da heterossexualidade que obriga os corpos resistirem aos processos de deixa-los “normais”, obrigando corpos a resistir a essa normatização. As minorias sexuais (grupos que não tem acesso a cidadania plena: movimentos feministas, homossexuais, trans, etc) são lugares que são transformados em possíveis lugares de produção de identidade resistentes a normatização. Essas minorias tornam-se multidões. Não há uma multidão mas sim várias multidões, um conjunto de diferentes minorias, onde não existe um único grupo social, mas uma multidão de diferenças, onde por exemplo, podem existir vários grupos e denominações variadas para a palavra “mulher” assim como “sapata” e “bicha” que passam a ser também possíveis lugares de produção de identidade resistentes a normalização e universalização  (visão Straight, branca, colonial do “humano”) tornando-se, então, estratégias hiperidentitárias e pós-identitárias. (ex: lesbian avengers, radical fairies).

Importante entender que esse projeto visa uma reivindicação inalienável dos direitos ao prazer e ignora a ideia de privilégios atribuídos da maioria e da normalidade heterossexual, não reconhecendo, portanto, que esta é uma identidade dominante e que os corpos não são mais ‘dóceis’ e, portanto, passivos diante dessa ideia normatizante.  A política queer, logo, não repousa sobre uma identidade natural (homem/mulher) nem sobre suas práticas (heterossexual/homossexual) mas sobre uma multiplicidade de corpos que se levantam sobre os regimes que os constroem como “normais” ou “anormais” e sobre como se é possível resistir ou desviar das formas de subjetivação sexopolítica, logo,  uma reviravolta epistemológica na produção de saber / poder dos discursos sobre sexo.  As minorias queer tem, portanto, um caráter pós-humano: na transformação e na produção dos discursos e uma circulação desses novos discursos em instituições modernas (da escola à família, passando pelo cinema e a arte) e uma mutação dos corpos, um novo espírito científico a ser refeito.

Entendendo que a politica das multidões queer nascem / emergem de uma posição crítica a respeito dos efeitos normalizantes e disciplinares de toda formação identitária, de uma desontologização do sujeito da política das identidades, revisões críticas sobre o feminismo, por exemplo (e a noção de feminilidade)  sofrem rupturas e modificações já que a noção de “mulher” ou melhor, sujeito político mulher, hegemônico e heterocêntrico (branco colonial, de classe média) é posto em discussão. Teóricos irão atacar justamente a naturalização da noção de feminilidade como forma de um confronto reflexivo do feminismo sobre as diferenças que o feminismo apagou em proveito desse sujeito político a ser criado.

Contra o Império Sexual, emerge a ideia de que não há, enfim,  uma base ‘natural’.  Não há também a ideia de diferença sexual mas sim uma multidão de diferenças, uma transversalidade das relações de poder e diversidade de potências de vida. CIS-gênero (pessoas que possuem um sentimento de congruência entre seu corpo e seu gênero) sai, por exemplo, de um critério de ‘normalidade’ e passa a ser mais uma ‘caixinha’ ou grupo como outro qualquer.  Resta, então, uma quebra das ‘normas’ de gênero vigentes, dando vazão a novas configurações de gênero e a desconstrução de discursos e narrativas naturalizantes da heterossexualidade onde, por exemplo, pessoas Trans deixam de ser patologizadas e estigmatizadas.

PRECIADO, Beatriz. Multidões queer: notas para uma política dos “anormais”. Universidade de Paris VIII. 2011 Revista Estudos Feministas.




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