Nico Puig, o James Dean dos trópicos

Em entrevista exclusiva para o GAY BLOG BR, Nico Puig falou sobre a evolução de trajetória pessoal, profissional e amorosa

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“Um ator deve interpretar vida e, para isso, deve estar disposto a aceitar todas as experiências que a vida tem para oferecer. Na verdade, ele deve procurar saber mais da vida do que a vida coloca aos seus pés”. A frase de James Dean é verossímil com a trajetória de Luís Nicolau Schumann Puig que, enquanto ator, se recusou ao clichê de personagens de bom-mocismo e ultrapassou o conforto de sua própria carreira consolidada na TV para se dispor em vastas experiências.

Atualmente, vivendo em São Paulo, Nico Puig está em sua plenitude de realizações, sejam as amorosas ou as profissionais, e o vilão que aparecia ao som de Stereo MC’s é algo tão distante quanto uma reencarnação.

Fomos atrás de Nico Puig e infelizmente não pudemos ter um papo “olho no olho”, não que temêssemos a raio vermelho do personagem de sua primeira novela da Globo, mas por conta das medidas de segurança dos tempos de pandemia.

Acervo pessoal

Schumann Puig, qual é a origem dele?

Schuman é austríaco e Puig é catalão, mas eu também tenho negro e índio na família, é uma família bem misturada, um mix (risos).

Você começou a carreira como apresentador ainda adolescente no programa Revistinha na TV Cultura em 1988/1990. Como era esse programa?

O Revistinha era um grande barato fazer né, era um programa ao vivo, diário, feito pela TV Cultura, e era um programa que era uma delícia, era educativo, mexia com o imaginário, eu brinco que era uma grande piração de ácido porque as câmeras sempre eram tortas, as cores eram fluorescentes e era um trio muito bacana Daniela Barbieri lindíssima, o Ariel Borghi e eu.

acervo pessoal

Poucas pessoas sabem mas você também fez a abertura do programa Milk Shake da TV Manchete em 1989. Uma abertura aliás que contava com efeitos especiais avançados pra época (você girando dentro de um liquidificador com leite). Como foi fazer um programa que marcou uma geração teen?

Fazer a abertura do Milk Shake da Angélica foi um grande barato; primeiro porque ele tinha uma estética toda retrô que eu adoro; segundo porque eu fiz ao lado da Ana Paula Matiotta que era uma modelo da época e muito minha amiga, muito querida; e foi muito bacana fazer parte do imaginário dessa geração, foi um trabalho que a gente fez no Rio de Janeiro e foi muito legal. Boas lembranças.

A sua estreia na TV Globo foi em Sex Appeal? A minissérie foi um sucesso e revelou vários talentos como Luana Piovani, Carolina Dieckmann etc. Foi bacana esse trabalho?

A minha estreia na Rede Globo foi fazendo Sex Appeal, eu fazia o Tony que era um pugilista médio ligeiro que acabava virando modelo e trabalhei com pessoas incríveis como a Bel Kutner, Camila Pitanga, Carolina Dieckmann, Luana Piovani… enfim ali foi um start (início) para muitas pessoas e foi muito bacana fazer aquele trabalho com a direção de Ricardo Waddington e um texto muito bem escrito pelo Calmon, que retratava muito uma geração toda, os anseios, os sonhos de uma geração toda, então foi muito legal.

Acervo pessoal – Gabriel Lucas

Em 1993, você fez o vilão na novela global Olho no Olho, um personagem de bastante destaque, em uma trama voltada para o público jovem (de novo) que fez bastante sucesso na época. Quais as recordações que você tem desse trabalho?

Logo depois (Sex Appeal) eu fui convidado para fazer Olho no Olho que também era do Ricardo Waddington a direção e texto do Calmon. O personagem era maldito né, completamente diferente de tudo que eu já tinha feito até então, um personagem muito facetado, e que teve um destaque muito grande, era o antagonista e foi muito legal. O início das gravações foram feitas em Roma junto com o Tony Ramos e o Stênio Garcia, pra mim foi uma satisfação poder viajar com eles principalmente fazendo um trabalho porque era uma viagem de trabalho… foi uma época muito legal, eu gostava de fazer, apesar do personagem ser maldito, eu gostava muito de fazê-lo, era muito diferente do Nico e aquilo era um exercício maravilhoso e eu espero que as pessoas tenham boas lembranças.

Você morou durante 1 ano e meio nos Estados Unidos, o que te levou a mudar de país? A possibilidade de seguir uma carreira lá fora?

Eu fui morar com o meu parceiro em São Francisco, ficamos lá 1 ano e meio, não era a minha intenção trabalhar como ator, muito pelo contrário, eu queria ver o outro lado da moeda, trabalhar em empregos formais, trabalhar atendendo as pessoas e consegui fazer isso, trabalhei de house cleaning (faxina), trabalhei de garbage (lixo), trabalhei com lojas de souvenirs… enfim foi um trabalho muito bacana todos que eu realizei lá e também foi um momento muito bacana estar lá em um lugar onde eu sempre pensei em estar, morar, ainda mais junto do meu parceiro.

acervo pessoal

Você posou nu para revista G Magazine em 1999, sendo uma das capas mais vendidas. Você fez por vaidade ou dinheiro?

Antes de ir pra São Francisco, eu fui convidado para fazer as fotos para a revista, a G Magazine, e fiz porque não achava que haveria mal nenhum em fazê-lo; muito pelo contrário, achei que era uma boa oportunidade, até porque eu iria me ausentar durante um tempo morando fora e foi muito legal fazer o trabalho porque seguiram todas as diretrizes que eu pedi, que seria em cima dos 7 pecados capitais, que fossem feitas as fotos uma grande maioria externa, na rua, e eu achei que foi bacana o trabalho. Era uma coisa que eu queria fazer, não por vaidade mas muito mais por dinheiro, mas sim também pra eu poder mostrar futuramente quando eu tiver bem velhinho… mostrar que um dia eu também já fui jovem.

Em algum momento você temeu perder trabalhos como ator por ter posado nu?

Olha… se eu tive algum problema em relação a esse ensaio, eu não sei te assegurar porque eu mesmo não percebi nenhuma retaliação, nada que pudesse me afrontar em algum aspecto, até porque eu fiquei um tempo fora, voltei depois que a revista já tinha saído há mais de um ano, se me prejudicou em algum aspecto eu mesmo desconheço, talvez sim, ainda mais há 20 anos, talvez a sociedade não tivesse ainda digerido essa possibilidade ou esse tipo de trabalho/ensaio, mas eu mesmo pra mim, passei anestésico (risos) não percebi nenhum problema em relação a isso, se houve, eu desconheço.

Você está casado há mais de 20 anos com o produtor Jeff Lattari, como foi essa experiência de sair do armário no sentido de tornar público a sua orientação sexual?

Eu tenho uma relação de quase 25 anos, vai fazer 25 anos agora… sou muito feliz, me sinto afortunado pelo fato de ter encontrado uma pessoa, um parceiro que me incentiva, me acalenta; e com certeza o fato de assumir pode ter trazido algumas consequências, tanto a ele quanto para mim… sejam pessoais, profissionais, familiares… enfim mas nada que a gente não conseguisse contornar, porque eu entendo que na vida a gente tem que procurar fazer o que nos faz feliz e também ditar as nossas verdades, então assim eu procurei fazer e não me arrependo de nada que fiz. Há 5 anos oficializamos realmente, agora eu tenho o sobrenome dele, e ele o meu, e assim levamos a nossa vida felizes e desejamos o mesmo para todas as pessoas.

acervo pessoal

Você assiste novelas? Como avalia a dramaturgia hoje? Muitos afirmam que a qualidade caiu muito (atores fracos, tramas rasas etc).

Eu não acho que caiu a qualidade da teledramaturgia, eu acho que ela pulverizou né, hoje em dia se atende a várias expectativas, a vários nichos diferentes, a vários públicos distintos, acho que sim tem algumas produções que tem uma qualidade melhor, outras talvez sejam um pouquinho mais simplistas, mas acho que tudo é entretenimento, tudo é legal, tudo tá valendo a pena; eu mesmo prestigio, assisto, algumas eu gosto mais óbvio, outras eu gosto menos, mas não acho que caiu não, acho que se modificou, se moldou para os tempos atuais.

Recentemente em uma live, a atriz Maria Zilda Bethlem mencionou por onde você anda. O que tem feito atualmente?

Fico muito feliz com a lembrança da Maria Zilda, detalhe quando fui trabalhar com ela em Olho no Olho, eu era fã porque uma das personagens que eu tinha mais gostado na televisão foi em Vereda Tropical, Maria Zilda fazendo aquela personagem ultrasexy e quando eu fui contracenar com ela fazendo minha mãe, eu disse ‘opa tirei a sorte grande né’. Foi uma delícia trabalhar com ela, fico muito feliz pela lembrança, e por onde anda Nico Puig? Ele anda por aí, pela vida, é um cara que continua fazendo trabalhos, hoje eu trabalho com upcycling, trabalho com eventos, e gosto muito do que faço e fico muito feliz em produzir o que estou produzindo, e tenho ótimas lembranças do que já fiz mas almejo coisas incríveis para o meu futuro também.

Atualmente você trabalha com sustentabilidade, reciclagem e reflorestamento, uma mudança de carreira tremenda, ser ator deixou de ser prazer para você?

Bom… eu nao reciclo nada né, porque reciclagem significa reprocessar um material, o meu trabalho é de upcycling, na verdade eu me aproprio de determinados materiais que são descartados e dou um re-uso, uma releitura né, e faço também o meu trabalho junto com o meu parceiro de eventos; e em relação a reflorestamento, realmente eu fiz parte de um grupo chamado Piracaiova, que era um grupo de reflorestamento com mudas, com certificado, mas que foi um grupo que muito mais sonhou do que realizou. Infelizmente a gente não conseguiu levar adiante mas continuo plantando dentro de mim possibilidades e sei que muitas portas podem se abrir e que eu ainda tenho muitas florestas a poder explorar.

acervo pessoal

Qual mensagem você deixaria para os leitores do GAY BLOG BR?

Eu acho que a melhor mensagem que eu posso deixar para o GAY BLOG BR é que diferenças existem e a gente precisa respeitá-las e precisamos entender que a melhor coisa que a gente faz na vida é procurar realmente ser feliz dentro das nossas expectativas de vida… do que a gente entende como buscar o que nos faz plenos e em busca dos nossos sonhos, e que a gente não se deixe abater pela opinião do outro, a opinião do outro ela é importante sim, mas ela não pode sobressair as nossas vontades, os nossos anseios, e o que a gente entende como felicidade para nós mesmos.




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