Pedro Pacífico comenta sobre seu novo lugar de fala sendo abertamente gay e, claro, livros

Em entrevista exclusiva ao GAY BLOG BR, o influencer literário Pedro Pacífico também falou sobre conciliar duas profissões e cita um projeto social criado com a irmã

Há poucos dias, o influenciador digital literário Pedro Pacífico (@book.ster) postou um vídeo em seu Instagram para falar abertamente sobre sua homossexualidade. O vídeo gerou bastante movimentação em seu perfil, seja pelas milhares mensagens de apoio e carinho, como pelos também milhares de unfollows recebidos – e até esperados – pelos menos adaptados à pluralidade a à liberdade.

Pedro concedeu uma entrevista exclusiva ao GAY BLOG BR, por telefone, contando sobre sua experiência profissional como “bookster” e advogado, além de abrir detalhes sobre a sua vida pessoal, falando de relacionamento e do processo de autoaceitação.

Durante a conversa, de forma bem descontraída, Pedro ponderou sobre as novas possibilidades de militância que se colocam diante dele após a recente revelação e mudanças que podem ocorrer em consequência. 

Pedro Pacífico / Reprodução
Pedro Pacífico / Reprodução

Como você disse no vídeo, há coisas que ainda são necessárias serem ditas. Qual o papel que você julga caber aos influenciadores digitais no processo de desconstrução coletiva de preconceitos e paradigmas?

Eu pensei bastante sobre isso. No meu caso, eu tive vontade e o feedback foi muito positivo. Porque tanto pessoas que são gays, e ficaram gratas por eu trazer a questão de uma forma clara e tranquila, trazendo a representatividade, mas também de pessoas que não têm contato com o tema e acabam ficando com aquela ideia do estereótipo gay, ou então eu, advogado, que talvez tenha uma postura mais séria… Então, é interessante quebrar essas ideias. Quebrar preconceitos e paradigmas. Eu puder ver que, de fato, quando eu postei o vídeo, o feedback foi muito interessante e positivo. O que mostra que, de fato, o influenciador digital pode ter uma posição importante nessa quebra de preconceitos.

Ainda nesse tema, agora que você compartilhou com todos os seus seguidores sobre sua orientação, como você avalia a mudança de dinâmica na sua rotina como “bookster”? Há um espaço específico de militância a construir? Você se interessa pela possibilidade de assumir essa responsabilidade?

Então, mesmo no vídeo eu cheguei a comentar que o ideal seria permanecer igual no que tange a produção de vídeos literários, na página. Esse é o objetivo. Mas eu também acho que não vai mudar porque eu já vinha abordando o tema da diversidade dentro da literatura. Já fazia lista de livros com a temática LGBT, de autores negros, autoras mulheres. Eu vinha fazendo da plataforma um jeito de usar a literatura para a transformação, acesso e conhecimento da diversidade, da diferença. Quando eu digo que não vai mudar, é por isso. Lógico que agora, pelo fato de eu ser publicamente gay, muda o meu lugar de fala. Tem mais a experiência própria. Identificação individual com os livros. Acho que as pessoas vão me procurar para falar um pouquinho mais sobre isso. E eu estarei aqui pra me defender e lutar contra qualquer tipo de discriminação que aparecer diante de mim. Eu vou sempre me manifestar contra isso. E não só com a questão LGBT. Os livros podem ser uma ferramenta para isso. Então, ainda que eu tenha me assumido gay e essa temática fique mais próxima de mim, eu acho que o “bookster” não vai mudar, porque esses temas já rondavam e havia um crescimento de importância na minha página.

E como surgiu sua paixão pelos livros? Influência de casa, desde cedo, ou veio já em uma idade mais madura? E a ideia de falar sobre essa paixão na internet?

Eu sempre gostei de ler, como criança e jovem. Mas eu não era um jovem fissurado, que ficava dentro do quarto, lendo. Até acho que tive épocas, quando jovem, de pouca leitura. Acabei retomando isso com mais afinco quando eu descobri que existiam perfis literários nas redes sociais. Eu nem fazia ideia disso. Há uns 6 anos, eu comecei a procurar e a seguir e fui muito influenciado a ler mais, a diversificar as minhas leituras, a entender um pouco mais sobre literatura, perder um pouco dos meus preconceitos literários. Quando eu chego com a vontade de passar essa influência pra frente, porque eu me dei conta de que era um advogado, que não trabalha com livros, que não trabalho na linha editorial e fui influenciado por perfis literário; eu também poderia influenciar outras pessoas. Então eu tive a ideia de criar uma página para isso, sabe? E também pra criar um ambiente onde eu pudesse falar sobre literatura com as pessoas. Querendo ou não, na minha rotina, eu não tinha muita chance de conversar sobre isso com outras pessoas.

E como se dá, no cotidiano, essa conciliação de ser “bookster” e advogado? A literatura fica mais para o Instagram mesmo?

Então, isso me fez pensar muito, no começo. “Como que eu vou ser um influenciador digital?”, eu pensava. Ainda que fosse sobre livros, eu estaria me expondo. Compatibilizar isso com o fato de eu ser advogado, uma profissão mais tradicional, numa área conservadora como o direito. Em virtude disso, eu criei uma página anônima. Por isso era “bookster”, porque eu não me identificava. Eu não colocava o meu nome. Porque eu também não sabia como seria. Depois, quando a página já estava um pouco maior, eu contei pras pessoas que trabalhavam comigo e o pessoal se interessou muito! Acho que a temática ajuda um pouco. Ainda que seja diferente, as pessoas associam ler muito com o direito. E, hoje em dia, se eu achei no começo que seria incompatível, é muito compatível. Lógico que, no dia a dia, eu trabalho diferente. Costumo dar total atenção para o trabalho como advogado. Trabalho como “bookster” em momentos diferentes. Mas há um ponto de conexão. Às vezes, quando conversando com um juiz ou no fórum, pessoas vêm conversar comigo para dizer que me seguem e adoram. Surgem, assim, conversas e amizades para o “bookster” e que eu posso levar para a minha profissão jurídica. Então, hoje em dia, há esse encontro e eu acho muito legal. Porque acaba um pouco com a ideia do “você vai ter uma profissão e vai seguir isso pro resto da vida”. Não! A gente pode ser plural. Podemos ser advogados e influenciadores e não tem problema nenhum nisso. Isso também vem pra mostrar que a nova geração não está mais satisfeita em seguir a “formulazinha” que nossos pais talvez tinham como ambição. Seguir uma profissão até o fim e seguir carreira.

Como você descreveria a sua atuação como advogado? O que te mais te move para atuar?

Com certeza, o que mais me interessa é a possibilidade de trabalhar com pessoas. Você tentar levar o seu ponto de vista adiante, a argumentação, e conseguir promover mudanças. O direito como ferramenta de mudanças e reais impactos sociais.

E autor e obra favoritos, sabe dizer?

As pessoas tentam, de todo jeito, tentar descobrir. Na verdade, não é nem tentar descobrir, porque eu não sei dizer um só. E, ainda que você delimite na literatura nacional, que é maravilhosa e pouco valorizada, ainda assim fica bem difícil. Mas eu vou falar de uma autora que eu gosto demais, que é a Lygia Fagundes Telles. E um livro dela que eu também gosto muito que é o “Ciranda de Pedra”. Eu acho que… ah, mas eu já começo a pensar em outros (risos). Quando você pensa em literatura nacional, já vem na cabeça a Clarice Lispector, com “A Hora da Estrela”, que também é um livro que eu acho maravilhoso. Acho que essas duas autoras e essas duas obras representam bem um pouco da literatura nacional e do que eu gosto de encontrar.

Pedro Pacífico / Reprodução

A literatura nacional tem clássicos que abordam a homossexualidade, como “O Bom-Crioulo”, do Adolfo Caminha. As abordagens são diversas e polêmicas. Como você entende o papel da cultura, especialmente no Brasil, para a normatização da pluralidade (ou para o oposto, a construção de paradigmas)?

Eu confesso que ainda não li este livro do Caminha, mas já li diversos outros sobre a temática LGBT e, na minha visão, a literatura tem a capacidade, como poucas outras manifestações artísticas, de fazer esse papel, porque ela nos coloca em volta de situações, incômodas ou não, que nos fazem identificar preconceitos que podemos ter, que a gente questione isso, que a gente se identifique com alguns sentimentos, com algo que o personagem está vivendo. E eu acho que é fundamental essa identificação que a literatura proporciona entre o leitor e a obra. E uma identificação que pode ser positiva, ele se vendo naquele personagem, ou uma relação mais dolorosa de reconhecer preconceitos que podem ser quebrados. Porque é isso. Pra perdermos os preconceitos, antes, precisamos reconhecer e identificar quais são esses preconceitos. E os livros me ajudaram bastante nesse processo. Até mesmo no processo de autoaceitação. Algo como: “me identifico com esse personagem. Bom saber que não estou passando por isso sozinho, estes pensamentos também passam na cabeça de outras pessoas”. Também encontrei personagens e pensei: “não quero que minha vida chegue nisso”. Sabe? Às vezes, personagens que não se assumiram, que viveram vida dupla. Eu não quis isso. Mas, ao mesmo tempo, me deparei com preconceitos e isso foi muito importante para o meu amadurecimento, que resultou na minha autoaceitação.

Além dos livros, que outras paixões te ocupam a mente? Quais as atividades mais relevantes para você?

Então, eu amo muito e sou bem defensor da causa animal. Eu tenho uma ONG com a minha irmã, criada em 2013 – hoje eu estou até meio por fora do dia a dia da ONG. Quem gerencia mais é ela, com um grupo de voluntário incrível. A ONG se chama “Desabandone”. Fazemos resgate de animais abandonados para colocá-los para adoção. Isso me interessa demais. O direito animal é um tema muito pouco explorado no Brasil. Apesar de ser advogado, eu gosto de uma coisa mais direta, com os animais. Por isso a ideia da ONG.

Algo mais?

E também sou louco por viagens. Se tem uma coisa que a pandemia veio pra prejudicar é esse gosto por viagens. Mas, em tempos normais, se há uma oportunidade de conhecer novos lugares, eu me disponibilizo na hora! Eu sou muito fã e acho que a literatura tem uma relação direta com as viagens. Conseguir conhecer, não apenas pelos livros, mas também pelos livros. Às vezes, quando estou em algum lugar, leio um livro daquele lugar e isso acaba enriquecendo a experiência da viagem.

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E, para finalizar, conta um pouco sobre como é a sua leitura sobre pessoas. Você respondeu alguns stories, há uns dias, dizendo que está namorando – o que deve ter frustrado o coração de alguns seguidores… O que você gostar de ver nas pessoas, o que te conquista? 

Essa é uma pergunta difícil. As pessoas que acabam me atraindo bastante são as “alto astral”, que te colocam pra cima. Eu acho isso fundamental. Também gosto de pessoas que são interessadas. Não apenas por livros, mas com vontade de conhecer o novo. Talvez isso venha um pouco do meu signo, sagitário, de ficar um pouco inquieto, sem conseguir ficar no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa. Acho interessante estar com um parceiro, amigo, namorado, etc., que tenha essa vontade. Acho que são duas características que eu valorizo bastante.

Para acompanhar Pedro Pacífico no Instagram: @book.ster




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