O algoritmo do Youtube me tornou fã de Renato Enoch

Melancólico e intenso, o cantor Renato Enoch abastece seu canal no Youtube com releituras de hits e clássicos que merecem atenção.

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Revisitando o trailer do Festival Mix Brasil 2018, cuja trilha é uma versão de Ivana Wonder para Flutua, o Youtube algoritmou o cover de Renato Enoch para ser reproduzido automaticamente em seguida. Foi aí que percebi como são falhos esses algoritmos. Se me conhecessem melhor, teriam me apresentado Enoch muito antes.

Ao primeiro verso de Flutua, que literalmente soou como música aos meus ouvidos, parei para assistir ao vídeo com atenção e avaliei comigo mesmo em voz alta: “artista”. Conferi outros covers até chegar em uma música autoral, que hitou no meu Spotify durante meses.

Contudo, algumas questões sobre esse artista me perturbavam. Onde vive? Do que se alimenta? Para quem compôs a música? Bom, no Google havia descoberto que ele era mineiro de BH. As outras dúvidas consegui esclarecer este mês na entrevista abaixo:

Como surgiram as parcerias com Bemti e Ana Vilela?

Ambas surgiram graças às redes sociais e ao Youtube. A Ana conhecia meu trabalho com as versões do Youtube desde antes do seu sucesso com Trem Bala. Acabamos conversando por Instagram e nos encontramos para gravar quando ela veio a Belo Horizonte. O Bemti não foi diferente, descobri o trabalho dele na internet e gostei muito, também conversei por Instagram e acabamos nos tornamos amigos. Nos encontrando depois em São Paulo e aqui em BH também.

Como é feita a escolha do repertório de covers, você faz a curadoria ou acolhe sugestões de fãs?

Sempre procurei gravar canções das quais eu realmente gostava e/ou enxergava uma possibilidade de mudança interessante, mas também sempre fiquei atento aos pedidos do público e vez ou outra gravava alguma dessas sugestões. O projeto Recortes, lançado recentemente, foi um conjunto de escolhas de caráter pessoal, por se tratar de músicas que gosto muito ou que foram importantes para a minha trajetória enquanto intérprete na internet.

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Sendo um bom virginiano (detalhista, organizado e perfeccionista), quanto tempo leva desde a decisão de gravar uma música e disponibilizá-la online?

O detalhismo e perfeccionismo sempre foi algo que me atrasou um bocado na hora de concluir qualquer coisa que eu me proponha a fazer (risos). Com o passar do tempo, aprendi a administrar melhor essas questões e a ser mais produtivo e objetivo, então hoje em dia as coisas fluem mais rápido. O tempo pra cada música depende muito de como será o vídeo, do nível de complexidade do arranjo e da mixagem. A parte de produção musical é feita em parceria com o Fillipe Glauss e, na maior parte das vezes, assumi a parte audiovisual para as versões do canal. Juntando o tempo de gravar, editar, mixar, tudo levava cerca de alguns dias, 3 ou 4, para os vídeos mais simples. Já os clipes levaram consideravelmente mais tempo, tanto das canções autorais quanto das versões do projeto Recortes. O arranjo quanto e a parte audiovisual são sempre bem mais trabalhados.

A sua versão, geralmente, chega ao intérprete inicial da música?

Não sei se sempre chega, mas já aconteceu algumas vezes e é muito gratificante! Recebi um comentário muito positivo da própria Pabllo Vittar em um post do Instagram, dizendo “que lindo” em um trecho da minha versão de “Seu Crime”. Outro momento que marcou foi o comentário da banda 5 a Seco no YouTube, na versão de “pra você dar o nome”, não só porque o comentário foi incrível mas também porque admiro muito eles. Também já rolou um retweet no twitter do Caetano Veloso, que é um dos meus maiores ídolos – e gosto de acreditar que ele realmente assistiu e gostou da minha versão de “Todo Homem”, do Zeca Veloso (mas vai saber, né? hahaha).

“A Cruz” é um manifesto para minorias, como surgiu a inspiração?

“A cruz” é uma composição muito pessoal pra mim, que escrevi há cerca de 4 anos num momento em que eu precisava colocar para fora alguns sentimentos e o único meio que encontrei para fazer isso foi a música. É uma canção que fala sobre se sentir deslocado, sobre a dor de não se sentir acolhido e aceito, de ter sua existência negada, ocultada e diminuída. Em um certo momento percebi que essa letra extrapolava a minha própria vivência e era capaz de simbolizar várias outras, por isso decidi fazer um clipe que contemplava pessoas de diversos grupos contato que se identificassem com essa mensagem. Acabou indo além dos LGBTQ+ e passou também pela realidade dos negros e negras, além das pessoas com deficiência.

Teremos mais novidades de empoderamento LGBT?

Ainda tem muita coisa por vir e estou guardando algumas ideias para o meu disco autoral, que ainda está sendo gravado. Com certeza essa mensagem estará presente no trabalho, pois é algo que me move e não consigo desassociar da minha arte, principalmente nesse momento político e social tão conturbado e preocupante, onde as tentativas de censura às liberdades de expressão são cada vez mais recorrentes. Mas, naturalmente, o trabalho e as composições acabam indo muito além dessa questão e passam pelo âmbito individual.

Como é viver de música em 2019 num país polarizado? Qual articulação se faz necessária para melhorar o cenário cultural atual?

Viver de música é complicado, sinto que há uma grande desvalorização da cultura e que isso piorou significativamente no último ano. Vejo um potencial enorme no cenário artístico brasileiro atual, mas muitos desses novos artistas, não só no meio musical mas também do teatro, dependem de leis de incentivo, projetos e editais que estão cada vez mais escassos. As plataformas de streaming, como o Spotify, criaram possibilidades de conhecer muitas coisas novas sem muito esforço. Tenho certeza que se as pessoas procurassem buscar um pouco mais do que está fora do mainstream, descobririam trabalhos incríveis que ainda não tiveram a oportunidade de alcançar mais público.

Inevitável imaginar a história que existe por trás em “Só in English“. Pode contar mais sobre esse romance? A pessoa a qual inspirou a música, sabe que foi pra ela? Se sim, qual foi a reação?

“Só in english” foi algo que escrevi bem despretensiosamente depois de uma sucessão de desilusões e incompatibilidades amorosas, então já não me lembro especificamente pra quem foi, pra ser sincero (risos). Mas sei que acabou fazendo muito sentido na época (se não me engano escrevi ela em 2015), porque era um momento em que eu cantava e ouvia muita coisa em inglês e sempre surgia o questionamento do porque eu gostava de escrever algumas coisas em inglês. Acho que tinha a ver com um certo medo que eu tinha de expor os meus sentimentos, e escrevendo em outra língua, eu me sentia menos exposto. Isso tem muito a ver também com a forma com a qual eu me relacionava. “Só in english” foi uma espécie de desabafo bem-humorado sobre isso, mas de lá pra cá muita coisa mudou (ainda bem).

Quais lugares de BH você frequenta/recomenda?

Eu sou mais quieto e caseiro, mas adoro um bom boteco com os amigos e alguns lugares da cena cultural. No Centro de BH o que não faltam são bares ótimos pra sentar e conversar. Também me vem a cabeça a Casa Híbrido, um dos lugares onde já toquei, que tem um público e eventos bem legais, e também a A Autêntica, casa focada em música autoral. Ainda no campo de programação cultural, gosto muito do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, onde se encontram vários museus em volta da praça, que é linda. Além disso, o Cine Belas Artes, o Galpão Cine Horto, o Centoequatro e A Central também costumam ter boas programações. Quem vier a BH, vale a pena conferir essas indicações e também visitar pontos turísticos como a Praça do Papa e o Parque Municipal.

FEAT EM “INGÊNUO”

Na último dia 18, foi divulgado um feat de Renato Enoch com Luciana Pires no single do artista goiano Gabriel Nandes. Os três abordam, de forma singela, uma relação homoafetiva, cujo roteiro é uma continuação da história criada no clipe anterior de Gabriel Nandes, “meu @“.

Assista ao clipe de “Ingênuo”: 




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