“Tom of Finland” tem exibição gratuita no streaming até 13 de julho

O filme traz parte da história de Touko Valio Laaksonken, conhecido mundialmente como "Tom of Finland" por sua arte considerada uma das maiores influências da cultura gay do século 20

Para o Mês do Orgulho, o Instituto Cultural da Dinamarca selecionou quatro filmes com temática LGBT para o streaming “Ponte Nórdica no Ar”. O programa, com cocuradoria do Festival MixBrasil, faz parte da campanha “CPH World Pride #YouAreIncluded” e também tem parceria com a Parada SP.

Nesta semana, entra para a programação o longa-metragem “Tom of Finland”, de 2017, dirigido por Dome Karukoski, com coprodução da Finlândia, Suécia, Dinamarca e Alemanha. O drama biográfico sobre Touko Valio Laaksonen, um dos mais influentes e celebrados artistas da cultura gay do século 20, fica no ar gratuitamente até 13 de julho.

No enredo, Touko Laaksonen, um condecorado oficial, volta para casa, após combater na Segunda Guerra Mundial. Mas a vida na Finlândia não é nada tranquila. Em Helsinque do pós-guerra, há uma perseguição desenfreada aos homossexuais e grande pressão para se casarem com mulheres e ter filhos. Ele encontra refúgio em sua arte libertária, seus desenhos homoeróticos de homens musculosos e desinibidos.

Também já estão disponíveis “Going West”, da Noruega, inédito no Brasil, e “A Perfectly Normal Family”, da Dinamarca, também inédito no Brasil e “My Father Marianne”.

Os filmes são disponibilizados gratuitamente mediante cadastro prévio no site pontenordica.com.br.

"Tom of Finland" tem exibição gratuita no streaming até 13 de julho

Frame de “Tom of Finland”
Frame de “Tom of Finland”

Tom of Finland
(8 de maio de 1920 — 7 de novembro de 1991)

Touko Valio Laaksonen nasceu na costa sul da Finlândia. Sua pátria se tornou independente apenas três anos antes do nascimento de Touko e algumas cidades do país continuavam rústicas e selvagens. Os homens que trabalhavam nos campos e florestas, os fazendeiros e lenhadores, eram homens que carregavam a aspereza e a selvajaria do campo. Touko nasceu entre esses homens, mas não era parte deles. Seus pais eram professores de escola e educaram Touko numa atmosfera de arte, literatura e música. Obviamente com talento, aos cinco anos o menino tocava piano e desenhava tiras em quadrinhos. Ele amava a arte, a literatura e a música, mas amava ainda mais aqueles homens rudes.

Também aos cinco anos, Touko começou a espionar, na vizinhança, um garoto musculoso que trabalhava numa fazenda cujo nome, Urho, significa herói. Urho foi o primeiro de uma série de heróis que tiveram a atenção de Tom enquanto ele memorizava cada flexão dos seus músculos torneados, cada reentrância sensual dos seus lábios. Em 1939, Touko foi para a escola de arte em Helsinki, para estudar propaganda. Sua fascinação se expandiu ao incluir os tipos sensuais da cidade, encontrados no porto cosmopolita: trabalhadores das construções, marinheiros, policiais.

Sua vida começou a mudar quando Stalin invadiu a Finlândia e Tom, usando um uniforme de tenente, encontrou o paraíso nos blackouts da Segunda Guerra Mundial. Nas ruas escuras da cidade, começou a se relacionar sexualmente, da maneira que havia sonhado: com homens uniformizados cuja luxúria ele veio desenhar mais tarde, especialmente soldados alemães, que chegavam com suas jaquetas e botas.

Depois da guerra, Touko voltou a estudar arte e a ter aulas de piano no afamado Instituto Sibelius. Mas a paz do pós-guerra colocou um fim no sexo do “blackout” e os uniformes se tornaram raros novamente. Então, Touko voltou à sua prática de adolescente, trancando-se nu em seu quarto, masturbando-se e desenhando no papel aqueles que gostaria de encontrar nas ruas. Durante o dia, ele trabalhava como freelancer com desenho para propaganda e moda. À noite, ele tocava piano em festas e cafés, tornando-se assim um membro popular da boemia do pós-guerra de Helsinki. Evitava frequentar a cena gay que despontava na cidade porque aquilo que eles chamavam de bares artísticos era dominado pela homossexualidade extravagante, típico daquela época. Enquanto isso, viajava frequentemente, tornando-se cada vez mais conhecido nos locais gays das grandes cidades.

Em 1953, conheceu Veli, com quem viveria os próximos 28 anos, numa esquina a alguns quarteirões da sua casa. No final de 1956, Touko mandou seus desenhos secretos para uma popular revista americana de homens musculosos, tendo o cuidado de usar o pseudônimo Tom. O editor se interessou e a capa da edição de primavera de 1957 trouxe um lenhador sorrindo, desenhado por “Tom of Finland”. Foi uma sensação. Touko se tornou Tom e, a partir de então, o resto se tornou história.

A demanda por aquilo que Tom classificava como “desenhos sujos” cresceu rapidamente, mas nem a arte erótica ou a arte homossexual era bem paga nos anos 50. Parou de tocar piano para se dedicar à sua arte e, só a partir de 1973, conseguiu ganhar dinheiro com seus desenhos e deixar do trabalho em propaganda. Uma vez que pôde dedicar seu tempo integral aos desenhos eróticos, Tom combinou detalhes fotorrealísticos com suas fantasias sexuais mais selvagens, a fim de produzir um trabalho repleto de homoerotismo, provavelmente nunca antes mostrado. A representação de detalhes, como as botas e as roupas em couro que Tom fez, chamava a atenção pela sua perfeição. O brilho que esses objetos de fetiche transmitem via papel, desenhados com um simples lápis preto, e a força de seus desenhos, costuma aguçar a imaginação dos observadores.

1973 foi o ano da sua primeira exibição de arte em Hamburgo, na Alemanha, mas essa experiência foi muito negativa (só um de seus trabalhos não foi roubado). Somente em 1978 ele concordou em participar de outra exposição, em Los Angeles. Foi a primeira vez que viajou para os Estados Unidos. Nos próximos anos, houve uma série de exibições em Los Angeles, San Francisco e Nova Iorque.

As viagens para os Estados Unidos transformaram o tímido artista de Helsinki numa celebridade gay internacional, com amigos como Etienne e Robert Mapplethorpe. O grande salto na sua carreira deu-se quando o canadense-americano, Durk Dehner, se tornou seu empresário.

Em 1981 o amante de Tom, Veli, morreu de câncer na garganta, ao mesmo tempo em que a epidemia de AIDS se espalhava por várias cidades. Tom começou a ter mais amigos nos Estados Unidos e passava seis meses em Los Angeles, com Durk Dehner, e seis meses em Helsinki. Depois de ter diagnosticado um enfisema em 1978, Tom foi forçado a diminuir suas viagens, mas continuou a desenhar. Quando a doença e a medicação deixaram sua mão trêmula para executar o detalhado trabalho pelo qual se tornou famoso, Tom voltou à técnica que gostava na infância, usando lápis pastel para executar uma série de nus muito coloridos, até morrer em 7 de novembro de 1991. O trabalho de Tom tem sido considerado muito mais que “desenhos sujos” e é reputado como um crédito importante na mudança da autoimagem do mundo gay. À época da publicação do primeiro trabalho de Tom, os homossexuais eram vistos como simples imitações das mulheres e buscavam viver, não raro, no anonimato.

Vários anos depois, os gays passaram a ocupar outros espaços na sociedade e a deixar cada vez mais distante a natureza meramente sensual e do culto corporal. A influência de Tom nessa direção não foi acidental. Desde o começo, sua consciência tornou seu trabalho positivo, mostrando uma imagem altamente máscula na fantasia homossexual. Também foi responsável pela divulgação do fetiche pelo couro, traduzido nos uniformes dos soldados e motoqueiros de suas ilustrações. Segundo Tom, os rostos bem feitos, com bigode, boca e olhares sedutores, buscam mostrar a satisfação de tais homens com seu corpo e com o que apreciam fazer, serem homens rústicos, bonitos e cruéis. Quando perguntado se não ficava envergonhado ao desenhar homens praticando relação sexual, Tom afirmava enfaticamente: “Trabalhei arduamente para ter certeza de que os homens que desenho têm orgulho pelo sexo que praticam e estão felizes por fazê-lo!”. Para Tom, vergonha seria reprimir suas fantasias.

Fundação e Museu de Arte Erótica

Criada em 1986, a Fundação Tom of Finland é uma organização sem fins lucrativos, com a proposta de documentar o trabalho do artista ao longo de seis décadas de arte erótica masculina. Por receber informações e trabalhos de todas as categorias de artistas dedicados à arte erótica e que tiveram seus trabalhos tratados sem seriedade, a fundação expandiu sua proposta ao incluir, em seu projeto, todas as áreas de arte erótica. Hoje, graças ao trabalho de divulgação realizado pela entidade, uma gravação completa com artistas gays e não gays está disponível em mídias nas instituições de arte, colégios, museus e outros arquivos que se utilizem desse material ou trabalhem com obras de referência. Nos planos da fundação está a criação de um Museu de arte erótica homossexual, heterossexual, bissexual, do presente e do passado, primitiva e moderna, contemplando todas as diversidades possíveis, incluindo a “Fetish Art”, todas apresentadas lado a lado, com suas similaridades e diferenças representadas através da sexualidade humana. Haverá também um espaço para encorajar o desenvolvimento de artistas contemporâneos, exibindo seus trabalhos para venda. Esse era um sonho do artista Tom of Finland, ajudar outros artistas, oferecendo a eles um local para mostrar e vender seus trabalhos. Embora a fundação esteja localizada nos Estados Unidos da América, os códigos sociais e morais locais estão forçando seus membros a procurar outros locais, como Amsterdã, nos Países Baixos, para construir o Museu. Tom of Finland foi um homem que esperou mais de trinta anos para ver sua arte reconhecida. A perfeição e a ousadia de seu trabalho são a prova de que Tom nunca desistiu de fazer aquilo em que mais acreditava: mostrar ao mundo que existem formas e formas de prazer.




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