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Cadê o meu convite? Cadê o convite de Salete Campari? Cadê o convite de Silvetty Montilla? Cadê o convite de Paulette Pink, cadê o convite de Divina Núbia, cadê a homenagem a Miss Biá? Fui eu que deitei no meio da Paulista pra aquela Parada sair… Cadê o meu convite?

Essas perguntas que Kaká di Polly fez na última segunda-feira, 15, um dia após a realização do evento virtual da Parada SP, são apenas retóricas mesmo. Em entrevista ao GAY BLOG BR, a veterana falou com exclusividade e sem filtros.

https://www.instagram.com/kakadipolly/
Cadê o convite de Kaká di Polly?

Você é uma das precursoras de uma das principais Paradas LGBT+ no Brasil. Inclusive, da primeira edição, existe uma foto icônica sua no chão da Avenida Paulista em frente a um ônibus. Como foi em 1997?

- BKDR -
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A primeira Parada LGBT+ de São Paulo foi parada mesmo. Ela aconteceu em 1996 e foi uma aglomeração na Praça Roosevelt. A gente só tinha uma Kombi. Nós conseguimos nos reunir na frente de um bar gay na Roosevelt e conseguimos juntar mais ou menos 250 pessoas. Essa foi a primeira vez que nós tentamos fazer alguma coisa. Aí nós fomos nos ajeitando, melhorando e dando ideias. E tendo ideias. Então, em 1997, o Roberto de Jesus conseguiu um trio elétrico para o dia 28 de junho e a gente chamou o povo pra Avenida Paulista.

Naquele ano, 1997, foram umas 2.000, 2.500 pessoas. Estávamos na Avenida Paulista, na altura do número 900, quando chegou a notícia para o Beto: um policial veio falar que o trio não iria sair porque havia permitido usar só uma mãozinha (via) da Paulista pra gente, só um ladinho ali, do lado da calçada. Então o trio não ia sair. O carro iria ficar parado ali, como uma manifestação. Aí o Beto me disse: “Kaká, vamos ficar parados aqui e vai terminar aqui, como se fosse uma manifestação”. E eu falei: “Não, não é isso que você combinou com a Prefeitura, não foi combinado que iria andar? Você não tem tudo certinho?”. E, então, ele disse que sim. Falei pra ele: “Fica fria, querida, eu vou ali na frente fazer um negócio e na hora que você vir um rebuliço acontecendo, você pega o carro, coloca o carro andando, que o povo vai atrás. Deixa que eu me viro lá”. Então eu fui pra ponta, esquina ali do Top Center, e simplesmente me embrulhei na bandeira do Brasil como se tivesse com frio e fui andando. De repente fui cambaleando e “plaft”, me joguei no meio da Paulista. Mas me joguei bem nas outras vias onde os carros estavam passando. Aí parou o trânsito. Quando o Roberto de Jesus viu aquilo, ele disse: “Pronto, ela aprontou”. E pegou o carro e colocou pra andar naquela via que podia. Foi aí que o povo foi e invadiu. Quando começou a andar, me levantei fingindo que tinha passado mal. Queriam me levar para o hospital. Meu namorado disse: “Não, não, deixa que ela vai pra casa, ela é cardíaca, sou namorado dela”. Eu estava do lado da Eliana King Kong, que era uma negra enorme e gorda que nem eu. Fui me apoiando nela e perguntei: “Eliana, já estamos bem longe da polícia já?”. E ela olhou pra trás e disse: “Já, velha, por quê?”. Então, eu falei: “Corre, querida”. E aí a gente saiu voada atrás da Parada que já tinha entrado na Paulista. Já tinha tomado três pistas da avenida com o povo todo. No final, os carros ficaram com uma pista só do lado do meio-fio da Paulista, ficando com uma via só da avenida pra eles, porque aquelas 2.500 pessoas saíram andando. Eu fui lá pra frente da Parada, onde eu desde então venho sempre, balançando a bandeira do Brasil com a minha amiga. Todo o mundo com os cartazes e faixas e nós descemos a Consolação até parar na Praça Roosevelt, onde dispersou a primeira Parada. E foi assim que aconteceu.

Por isso que eu tenho o direito de gritar e dizer que esse lugar ninguém tira de mim. Esse lugar é meu, só aconteceu por minha causa, fui eu que fiz isso acontecer e ninguém vai apagar isso. Eles podem não me convidar, não me chamar. Eles podem querer apagar isso mas eles não vão conseguir. Eu tive 2.500 pessoas que são provas vivas que isso aconteceu. E teve quem fotografou.

Kaká di Polly em 1996, na primeira Parada de SP - reprodução
Kaká di Polly na primeira Parada de SP – Reprodução
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Reprodução
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O que mudou na Parada do Orgulho LGBT de lá pra cá ao longo desses 23 anos?

Mudou muita coisa, porque as pessoas fizeram a 1ª Parada… 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª… 15ª, 16ª. E aí a coisa já começou a virar uma negociata, porque começaram a fazer um monte de trios elétricos. Acho que foi na 16ª… não me lembro, mas foi ali entre a 13ª e 16ª que começaram as boates a entrar. Cada boate pegava um trio e fazia o seu carro. De repente esses carros começaram a servir como se fossem camarotes para as pessoas darem close lá em cima. As pessoas compravam, era um absurdo o preço de um carro. E tinha um monte de regras: você tinha que fazer merchandising de todos os colaboradores da Parada nos banners dos carros, tinha que ter seguranças, DJs, banheiro, etc, etc. E os convidados que começaram a subir nos carros e andar pela Paulista era gente que ninguém sabia quem era. Não era um carro feito para nos convidar a subir e estarmos participando da Parada. Ninguém conhecia [aquelas pessoas]. Um carro trazia uma famosa, outro carro outra famosa. E aquele bando de gente estranha. Foi aí que começou a minha briga com a Associação da Parada, porque eu achava que pelo menos 30% de cada carro tinha que ser obrigatório carregar pessoas do movimento LGBT+, ou seja, drag queens, gogo boys, travestis, transformistas – e não um bando de gente filhinho-de-papai que só estava lá pra dar “close” pra dizer que tinha ido na Parada Gay. 

Teve tempos que eu soube de carros que vendiam pulseirinhas pra você subir, trios começaram a vender as camisetas por uma fortuna. Porque até então podia ir, depois não podia mais estar nesse cordão. E foi aí que a coisa começou a virar um comércio. Eles começaram a monetizar tudo, começaram a comercializar tudo. Foi a minha grande briga. Justamente no ano em que eu dei a ideia que tinha sido o executada no ano seguinte: de que a gente fizesse cartazes brancos, escrito em preto, com aquela caneta bem grossa, que cada pessoa que presente na Parada viesse carregando um cartaz escrito a sua profissão: “eu sou professor, eu sou dentista, eu sou médico, eu sou psicólogo, eu sou sapateiro, eu sou chef de cozinha, eu sou babá…”. Pra quê? Para que as pessoas que estivessem assistindo à Parada saber que nós somos pessoas que estamos inseridas em todas as profissões – e quem realmente nós somos. Nós somos médicos, nós somos psicólogos, nós somos cabeleireiros, nós somos tudo. As pessoas iam acabar tendo um choque de realidade, falando: “Olha lá, o professor do meu filho”, “Olha lá, o meu dentista”, “Olha lá, meu cabeleireiro”, “Olha lá, minha cozinheira”, entendeu? Dar um choque mesmo nas pessoas, choque de cidadania, que a gente tem o direito de ser respeitado, por sermos o que nós somos; e não só ser respeitado porque somos gays.

Mas não rolou, fizeram de conta que eu não dei a ideia, a ideia não rolou. E continuaram aquela coisa de vender os carros. Até que começou a chegar a um preço tão absurdo que as próprias boates não podiam mais comprar os carros, não tinham o dinheiro pra pagar. E aí eles começaram a vender para as empresas… empresas, empresas. E as empresas foram aparecendo, empresas foram tomando conta do evento, aquelas empresas gigantescas e só convidava quem eles queriam. A tal da regra de 30% das pessoas serem do movimento não ia pra frente, ficava só aquele bando de gente… Vamos supor: a Uber, só com aqueles convidados da Uber em cima do carro. E foi assim que tudo começou a virar um comércio e as pessoas importantes como Nany People, como outras, simplesmente deixaram de ir à Parada, como muita gente poderosa e inteligente, descolada, gente do movimento mesmo. Deixaram de participar da Parada, não vão mais. 

Liga pra Nany People e pergunta se ela vai na Parada Gay? Não vai! Pergunta por quê? Você vai ver a resposta dela. Então, o que mudou foi isso. E hoje tá pior ainda. Acho que o boom de tudo isso foi essa Parada Virtual que eles simplesmente fizeram o que fizeram, só colocando os youtubers. Não tenho nada contra eles, eles estavam ali trabalhando porque foram contratados. Mas colocando youtubers, nenhum deles com mais de 30 anos. Não conhecem nada da nossa história, não conhecem o nome de ninguém, não sabem quem é quem, eles não são nem pessoas pra mim esses youtubers. Eles são likes, eles só são likes, é por isso que eles não sabem falar. Não falou nada, só falava “Arrasou, aí mona, ai que luxo, ai que escândalo, aí parou tudo”, por quê? Não sabem falar, não sabem nada, não têm história pra contar, não têm o que falar, entendeu? 

Foi uma grande cagada de fazer isso, agora eles estão sendo cobrados, porque está todo o mundo querendo saber. Onde está indo todo o dinheiro, porque você concorda que há dinheiro? Imagina quanto deu um Bradesco, imagina quanto deu uma Avon, imagina quanto deu uma Amstel. E esse dinheiro foi parar onde? O que não se pode esquecer é que eles são uma Associação, é público. Esse dinheiro é dinheiro público, nós temos o direito de saber, nós somos sócios da Associação, a gente não recebe uma satisfação disso, eles não mandam nenhuma vez por ano um e-mail para com tudo o que a Associação ganhou, deixou de ganhar ou perdeu durante o ano. Eles simplesmente publicam lá no site, fazem lá uma prestação de contas qualquer lá. Então, você que é sócio, você fica sem receber a prestação de conta. E o que é mais importante: se você vai lá para querer ser sócio, eles pegam o teu nome e falam que você vai receber por correio os boletos pra pagar a mensalidade; porém não chegam os boletos. Eu já sou sócio de lá há mais de doze anos e nunca recebi um boleto pra pagar. Sabe por quê? Para que eu não tenha direito a voto. Porque aí dizem que eu estou inadimplente e, na hora que eles montam a chapa – que é sempre a mesma chapa-, eles só vão fazendo uma circulada de gente. Então, o que tá lá embaixo sobre lá pra cima, o de cima vai pro meio, o do meio vai pra baixo. E aí aquele grupo vai ficando… E estão lá há anos. Tiraram o Roberto de Jesus de lá, disseram  que ele tinha feito um rombo na Parada e tiraram o Roberto de Jesus que era o presidente, que foi quem inventou, idealizou e fez a Parada do Orgulho Gay. O Roberto de Jesus pegou as coisas dele e foi embora, foi trabalhar na ONU. Então é isso acontece, você não consegue montar uma chapa para concorrer com a chapa deles. Sabe quantas pessoas elegem o presidente da Parada do Orgulho Gay de São Paulo? São poucas pessoas, que é o grupinho deles, porque as outras pessoas que vão lá e tentam montar uma chapa e querem concorrer, como o Douglas Drumond da Chilli Pepper fez, são boicotadas, não conseguem. Por quê? Porque não se recebe os carnês e as pessoas não conseguem ir pagar a mensalidade. Aquelas pessoas que você leva lá, como o Douglas fez e levou todos os amigos e fez todos eles se filiarem à Parada, nenhum deles recebeu o carnê. E aí, quando é o dia da votação, dizem que você não pode votar. Como você vai ter carnê pago se você não recebe o carnê? É assim que eles se mantêm lá. 

E agora alguém pergunte pra eles onde está indo esse dinheiro? Porque comigo não está, está com você? Com você também não deve estar, mas em algum lugar está. Eu cruzei com alguns deles em Paris, viajando pela Europa. Como é que alguns deles conseguem ir para Paris? Uns pé-rapado que não tinham nem o que comer, eu cruzei com eles em Paris, meu amor… E assim vai. E assim é a história.

E sabe por que não gostam de mim? Porque eu sei da história e porque eu falo a história. Eu conto a história, eu não tenho papas na língua, sabe por quê? Porque eu não preciso deles pra nada, eu sou de família, graças a Deus que eu não preciso fazer nada da minha vida. Eu cuido da minha vida com o que a minha família tem, Deus e meus pais me deram essa possibilidade de ser uma pessoa que pode viver como quer, entendeu? Só que eu sou uma pessoa que me meto, eu brigo pelo outro, eu brigo pelo oprimido, eu acho que militância é isso, não é? Só que a Kaká é mal vista e odiada pela Associação da Parada Gay por causa disso. 

Reprodução

Você assistiu à Parada Virtual do Orgulho LGBT+ de São Paulo na íntegra?

O que a gente viu ali? Ali a gente só vê likes, são pessoas que foram contratadas porque elas são youtubers e elas têm milhões de seguidores. Acharam que contratando essas pessoas, que tem milhões de seguidores, a Parada virtual iria ter um monte de pessoas assistindo. Eles acharam que eles iam conseguir bater mais audiência do que a Parada presencial. Mas Deus é tão justo, Xangô é tão pai, que você ligava na Parada Virtual e… se você não estivesse bloqueado, como bloquearam o Douglas Drumond que foi quem tentou ser presidente da Parada e não conseguiu… ele quando foi clicar pra assistir à Parada Virtual veio um aviso: “Você está bloqueado/proibido de assistir à Parada Virtual pela Associação da Parada Gay”. Ele não pôde assistir. As pessoas que assistiram, todas as pessoas com quem falei, todas falaram a mesma coisa: “Kaká, o máximo que se viu ali não daria para fechar duas pistas da Avenida Paulista”. Não deu certo o plano deles, entendeu? 

Eles nos esqueceram, eles nos jogaram na lata do lixo, eles nos magoaram, eles foram absolutamente vis (sinônimo de desprezível) em tudo que eles fizeram. Tentaram fazer uma coisa que estourasse a boca do balão, só que não conseguiram. Conseguiram estourar a própria boca. Agora eles vão ter que provar e mostrar onde é que está o dinheiro que foi doado. Onde é que está o patrocínio de todas aquelas marcas que eles divulgaram na Parada Virtual? Você vai querer me dizer que uma Uber, uma Avon, um Bradesco, uma Amstel, um Burger King, um Jean Paul Gaultier… não deu nada? Você entende? Foi isso que aconteceu.

Kaká di Polly: "Duvido que vocês publiquem esta entrevista na íntegra"
Kaká di Polly. Foto: Maurício Code

​Você se sentiu traída ou mesmo desrespeitada por não ter sido convidada para a Parada Virtual?

Se eu me sinto traída? Claro que eu me sinto traída! Se eu me sinto excluída? Claro que eu me sinto excluída! Se eu me senti esquecida? Claro que eu me senti esquecida! Só que eu sei que tudo isso foi de propósito. Isso foi uma ordem dada por eles: “Esqueçam todo o mundo, não falem de ninguém”. Outra que os youtubers não saberiam falar, porque todos têm menos de 30 anos. A metade que estava ali não conhece um décimo da história do movimento gay de São Paulo, todos burros, só sabiam falar “Ai que luxo, ai parou… aí que isso, aí que aquilo”, mostrando pra quem estivesse assistindo que ser gay é só ser aquela viadice… Aquela caricatura, foi isso que eles mostraram, uma caricatura do que é ser gay… Ridículo.

As outras não, as outras falam bem mas também não puderam tocar no nome de ninguém. Ou não puderam ou não quiseram, não sei… Porque Lorelay Fox, a outra lá que canta… Gloria Groove… até a Pabllo… conhecem todo o mundo, todo o mundo se conhece. Por que ninguém mandou um beijo ao menos pra cada uma? Por que não fizeram um elogio, uma homenagem a Miss Biá que acabou de morrer de Covid-19, que foi a primeira de todas? Com 85 anos de idade, foi a primeira a pintar a cara nessa cidade e sair por aí fazendo show em boate hétero e apanhando da polícia. Porque se você saísse de peruca de uma boate pra outra, a polícia te pegava, te prendia e te levava presa três dias. E ainda por cima, o Richettia, que era o delegado da época, que levava as bichas presas, depois pegava as mais bonitas. Falava que não gostava de viado, mas pegava.

Por que não teve uma homenagem para Miss Biá? Por que não teve uma homenagem para Xepa Rizzo que está viva, que foi junto com Miss Biá, as duas tem 85 anos de idade, só que a Biá morreu. A Salete Campari convidou: “Vamos para o sítio, esse vírus tá aí”, e ela: “Não, não quero ir para o sítio, quero ficar em casa”. Ficou em casa, pegou o vírus e morreu. Morreu ela e a companheira dela que dividia apartamento no mesmo prédio, porque a Biá era dona de três apartamentos. E morreu a Vânia. Num dia morreu a Vânia e no outro dia morreu a Biá, cadê as homenagens? Cadê as homenagens a Phedra de Córdoba? Cadê as homenagens a todas que morreram no meio desses 23 anos de militância? Cadê a homenagem a Andrea de Mayo? Cadê a homenagem pra Cris Negão? Onde está?

Traídas…

Traídas, mas foi de propósito, e eles vão pagar por isso, porque eu to fazendo um boicote. Se tiver mesmo essa Parada de novembro, eles vão fazer a Parada com os trios vazios, porque todas vão boicotar essa Parada. Essa próxima Parada há de ser um fiasco, se é que essa Parada de novembro vai acontecer. Eu não acredito, porque acho que esse coronavírus ainda ficará por aí por uns bons dois, três anos, nós vamos ter que conseguir conviver com ele, assim como nós tivemos que aprender a conviver com a AIDS. Então todo o mundo vai ter que tomar seus cuidados, vai ser um novo mundo, é um novo mundo, o mundo depois desse coronavírus nunca mais será o mesmo, nunca mais vai voltar a ser o que era, porque o perigo dele estar aí de novo é dois minutos. Todo mundo se assustou, o mundo se assustou. Na história do mundo, se você analisar, em todas as pestes, gripe espanhola, peste negra, tifo, varíola… todas que pegaram na Europa mataram milhões de pessoas, milhões morreram, Hitler matou milhões de pessoas, mas nem ele conseguiu assustar o mundo inteiro do jeito que o coronavírus conseguiu. O coronavírus parou o mundo, o mundo está com medo, só não tá com medo quem mora no Havaí, né? Que até agora ninguém entendeu porque ninguém no Havaí foi infectado até hoje, você sabia que no Havaí não teve um caso de coronavírus? Não teve um caso no Havaí, estranho, né?

Na sua opinião, por que não chamaram vocês ou mesmo prestaram uma homenagem?

Porque eles são uns recalcados. Pena que você não vai poder publicar isso, mas eles sempre foram um bando de recalcados. A Parada, depois que Roberto de Jesus saiu, virou um antro de pessoas mortas de fome, igual vampiros só sabem sugar. O que eles conseguem tirar de dinheiro das Paradas, onde é que está o dinheiro? Onde é que está o dinheiro? Eles têm que prestar conta, onde é que está o dinheiro? Você acha que alguém vai prestar conta? Vai nada. Vai lá e olhe, averigua isso.

Kaká di Polly – Reprodução

O ativismo LGBT+ ainda existe, continua forte?

Eu acho que os youtubers são uma representação da gente, eles são gays, eles são profissionais, só que não só eles. Aquilo tinha que ser tudo misturado, tinha que ter todo tipo de gente… Lá tinha que ter o LGBTQIA+, que cada dia mais eles inventam uma letra para essa sigla. Não tinha… Não tinha uma transexual, não tinha uma travesti, não tinha uma negra, não tinha um velho homossexual, não tinha um gordo homossexual, não tinha uma artista seja de que geração fosse, mais velha, do meio ou das novas… das teenagers, drag queens… Não tinha nada, só tinha os youtubers, só tinha likes, você só via likes, eles só contrataram likes, eles fizeram só com os youtubers porque eles queriam os likes dos youtubers, juntando Pabllo Vittar, juntando Daniela Mercury, entendeu? Só queriam likes

O ativismo gay continua forte, mas longe da Associação da Parada do Orgulho Gay. Eles fazem de conta que estão trabalhando, que estão dando aquelas cestas básicas pra dizer que o dinheiro está sendo gasto naquilo. Tiveram a coragem de pegar os patrocinadores que eles pegaram e botar o QR Code lá pra você fazer a doação para a organização. Com o dinheiro que eles receberam dos patrocinadores, eles estavam pedindo dinheiro, sabe, pra quê? Para se fazerem de coitadinhos.

A militância continua existindo, João Silvério Trevisan continua vivo, Celso Curi continua vivo, eu continuo vivo, Roberto de Jesus continua vivo, Salete Campari continua viva, Silvetty Montilla continua viva, Léo Áquilla continua viva, Paulette Pink continua viva e posso ficar aqui uma hora falando nomes de quem são os verdadeiros ícones do movimento gay brasileiro e paulistano. Estão todos vivos, só que cada um fazendo militância do seu jeito. Eu faço gritando, tem quem faz escrevendo, tem que faz cantando, tem que faz atuando. Como Nany People, entendeu? E assim vai. Tem quem faz com concurso de miss, como Michele X, que era uma menininha que estava lá no meio da Parada e hoje veste as maiores estrelas da música popular brasileira e as maiores artistas, como Xuxa. A militância continua, claro que continua. E as cariocas? Se eu fosse começar a falar o nome das cariocas aqui a gente ia ficar cinco anos conversando, elas continuam lá, brigando. A Parada deles fez 40 anos meu amor… 40 anos e eu estava lá, na frente, quase pelada, na frente do caminhão, eu estava lá, quase pelada a 40 anos atrás. 

Kaká di Polly
Kaká di Polly – Reprodução

Como você vê atualmente essa questão da representatividade na comunidade LGBT+?

Na minha opinião a pessoa que mais representa a comunidade LGBTQIA+ brasileira hoje está na Globo e se chama Nany People. Uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço na minha vida. João Silvério Trevisan está aí vivo, Celso Curi está aí tá vivo. Mas eu não acho que aquelas pessoas de fato representam a minha figura. Só sabem gritar e balançar o rabo. Aquilo lá pode representar a nova geração que está aí e que acha maravilhoso, que acha ela um luxo. Gloria Groove? Canta bem. O Brasil já teve Jean Wyllys. Mas já não tem mais.

Então, eu acho que a figura que simboliza, que mais simboliza porque ela é gay, ela transformou o corpo, virou transexual, ela não mudou o nome, ela continua se chamando…  eu não vou dizer o nome dela porque ela não gosta, ela tá dentro da Rede Globo fazendo o que todo mundo sonha: novela na Globo. E é uma das pessoas mais inteligentes que você pode conhecer na sua vida. São essas pessoas que me representam. Eu diria, então, três nomes: João Silvério Trevisan, Celson Curi e Nany People. São os três maiores nomes que nos representam na nossa classe hoje. Das que foram embora, Rogéria, era o ícone né, mas Rogéria já não está mais entre nós.

Em um desabafo no seu site, você declarou “(…) fomos trocadas por meia dúzia de Youtubers com menos de 5 anos de carreira. Deixaram para trás artistas que realmente tiveram a ver com a luta, empenho e história da parada. Entendemos que é um evento virtual e que nisso os Youtubers tem seus valores sim, mas até então, eu mesma faço live 3 vezes por semana e num debate teria muito pra falar e argumentar”Isto é… assim como eles, você também faz parte da internet, tanto que tem feito lives. Acredita que tenha sido uma exclusão em função da idade? 

Eu acho que sempre o gay mais velho. Ele é colocado de lado, ele é sempre menosprezado. Isso vai acontecer com os youtubers também. Eles têm hoje 30 anos? Daqui a 30 anos, eles vão ter 60. Daqui a 50, eles vão ter 80. Eles vão sentir na pele o que a gente sentiu no domingo. Acho sim que tem muito a ver com a questão da idade.

Estou no meio da internet? Estou, comecei fazendo uma brincadeira pra me distrair e continuar falando, homenageando os meus amigos, foi assim que aconteceu aquela live e agora que eu vi os números. Eu não sou boba, eu vou me jogar também, agora eles vão ter que me engolir, eles vão ter que me engolir no meio deles, porque agora eu vou entrar e vou fazer o que eu sei fazer. Vou mostrar pra eles que com 60 anos, 170 kg, caolha, careca, do jeito que eu sou, eu vou fazer. Meu amor, eu fiz uma live ontem e deu 12 mil pessoas, fiz uma live com a Salete outro dia, deu 7.800 pessoas, a minha live deu 4 mil e poucas pessoas, entendeu? 

Então a história tá mostrando pra mim o quê? Que a minha opinião tem valor. Tem valor, tem público. Se tem público, tem like. Tem like, monetiza. Monetiza e vai ganhar dinheiro no Youtube. É o que eles fazem. Por que eu sou velha com 60 anos não posso fazer? Vou fazer, mas vou fazer com dignidade, vou fazer com respeito, sem esquecer de ninguém, sem deixar ninguém pra trás. Não vai adiantar chegar pra mim e dizer: “Olha, não fala de nenhuma dessas velhas, calem a boca”. Elas tiveram que obedecer, elas estavam contratadas… Tiveram que obedecer o que eles pediram. Agora se chega perto de mim e diz “Não fala dessa, não fala daquela…” eu viro pra eles e digo: “Vai pra puta que pariu” .

Dia 28 de junho, eu, Salete Campari e Silvetty Montilla vamos dar a resposta que Associação do Orgulho Gay de São Paulo merece. Vamos fazer uma live de quatro horas, a partir das 18h, e vocês vão ver como se faz uma live, como se deve fazer uma live. Nós vamos mostrar pra vocês como a gente sabe mexer na internet. O dia que eu morrer e calar a boca, eles vão ter que falar uma coisa… “Existiu uma Kaká di Polly e ela era babadeira …ela não tinha medo de abrir a boca”.

Kaká di Polly nas redes sociais:
Facebook: facebook.com/kakadipollyoficial
Instagram: instagram.com/kakadipolly
Site: kakadipolly.com.br

 




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4 COMENTÁRIOS

  1. […] Mesmo com inúmeras denúncias e relatos nos anos 80, casos de assédios sexuais a LGBTs feitos por militares em cargo com regalias nunca foram investigados de maneira eficiente e/ou avançaram em nenhum tribunal até hoje. Documentado até em filmes como “São Paulo em Hi-Fi”, a perseguição por gays e transexuais na rua tinha também como motivo saciar desejos de alguns delegados supostamente heterossexuais. “Porque se você saísse de peruca de uma boate pra outra, a polícia te pegava, te prendia e te levava presa três dias. E ainda por cima, o Richettia, que era o delegado da época, que levava as bichas presas, depois pegava as mais bonitas. Falava que não gostava de viado, mas pegava”, relatou a veterana DiPolly em uma entrevista ao GAY BLOG BR. […]

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