Maurício Branco fala sobre qualquer assunto com inteligência e uma dose de humor sarcástico

Em entrevista exclusiva para o GAY BLOG BR, o multifacetado Maurício Branco fala sobre autobiografia iminente, amizade com Renato Russo e convite da G Magazine

Nico Puig está para James Dean assim como Maurício Branco está para Keanu Reeves. Não poderia fugir dessas comparações, mesmo porque traços sempre foram apontados com semelhança ao astro de Hollywood.

O ator não quis se entregar somente a arte e explorou outros caminhos: foi apresentador e também cineasta, tendo dirigido um documentário há alguns anos sobre a efervescência carioca da década de setenta.

Aos 18 anos, ele deixou Brasília para seguir uma carreira como modelo no Rio, onde fez diversos editoriais de moda, desfiles e comerciais de TV antes de se dedicar a carreira de ator. Fã de vôlei e rock nacional, Maurício teve o privilégio de ser amigo próximo dos principais grupos do rock brasileiro, quando ainda vivia em Brasília berço da música.

Foto Ivan Shupikov

Você saiu de Brasília e veio para o Rio aos 18 anos para trabalhar como modelo, como foi essa experiência no mundo da moda?

Foi muito legal. Eu comecei aos 15 anos de idade em Brasília. Como fui jogador de vôlei até os 16 anos, tinha altura boa. Via as revistas de moda da época e eu ficava fascinado com aquelas produções. O mundo da moda nos anos 80, no Brasil, fervilhava. A concorrência era bem menor, mas o mercado já mostrava a sua força. Quando cheguei ao Rio, fui à agência da Sílvia Pfeiffer. Em seguida, ao me ver na passarela com os maiores modelos do Brasil, eu quase não acreditava. Pessoas que eu admirava nas revistas estavam ali. Mas não posso esquecer também do fotógrafo Flávio Colker, que me lançou de fato, me colocando em editoriais e campanhas desse mercado. Fiz os melhores comerciais de TV (McDonald’s e Coca-Cola ) e fui muito disputado pelos produtores de moda do Rio. Mas eu sabia que seria só uma escada para o que eu realmente queria na vida: ser ator.

Sua estreia na TV já foi no horário nobre na novela De Corpo e Alma (1992), aliás um telenovela de grande sucesso. Como foi fazer esse trabalho tão jovem (aos 22 anos) contracenando com atores consagrados como Tarcísio Meira e Betty Faria? Deu uma deslumbrada na época com o sucesso?

Sim, me deslumbrei, porque é impossível não se deslumbrar. Um dia, as pessoas nem olham para a sua cara. No outro, onde você entra é recebido com mesuras e começa a ganhar muito dinheiro. Foi bem difícil, mas, com a ajuda de atores mais experientes – que foram muito generosos comigo, me aconselhando e orientando -, tudo isso somado às derrapadas, que é normal cada ser humano dar na vida, eu acho que um dia eu chego naquele lugar do ator que sabe ensinar. Quem sabe?

reprodução

Há poucos anos você declarou “Não me venha colocar rótulos”. Era uma crítica a TV?

Não, era uma crítica às pessoas que fazem a TV, que resolvem te escalar para o mesmo papel sempre. Eu cheguei ao ponto de pedir para pararem de me ligar para esses mesmos personagens. Graças a Deus, não me deram ouvidos e continuam me chamando. “Verdades Secretas” foi uma participação especial que amei fazer. Amo o Walcyr Carrasco, gosto da Angela Chaves (Éramos Seis) e da Manuela Dias (Amor de Mãe). Para estes autores, eu ligo e peço trabalho.

Falando um pouco sobre suas origens, você nasceu e cresceu em Brasília, o berço do rock nos anos 80, tanto que você  era amigo dos integrantes do Capital Inicial e Legião Urbana. Como era essa amizade com os ídolos do rock nacional da época?

Na época, o Dinho já era meu amigo em Brasília. O Capital Inicial fazia muitos shows em Brasília, embora já estivessem em São Paulo. Renato só conheci no Rio. Renato era meu amigo, vivíamos juntos. Ele me ensinou um monte de coisas. Principalmente a me aceitar como homem e a me dar o direito de fazer o que o tesão do momento pedisse. Eu era meio reprimido sexualmente. Pode parecer que não, mas era.  

A vida era no estilo “Sexo, drogas e rock´n roll” em Brasília dos anos 80?

Fiquemos só com o Rock ‘N Roll (risos). 

Reprodução

Até mesmo em função dessa amizade, não pensou em seguir uma carreira musical no rock nacional?

Pensei sim, mas desisti quando fui fazer aula de canto. O professor disse que seria mais interessante eu ser um ator que canta do que tentar ser um cantor/ator. Mas fui lá e fiz minhas aulas, faço até hoje. No entanto, só atuei em um musical: “Frisson“, de Marcelo Saback.

Como era a sua amizade com o Renato Russo? Nos anos 90, você já estava morando no Rio e ele também, em Ipanema, conheci algumas pessoas que o conheceram e me disseram que ele/Renato era simples e bastante tímido.

Renato era tímido, sim. Mas quando bebia, a timidez ia para o beleléu. Mas graças a Deus, quando queria botar os bichos pra fora, eu nunca estava por perto. Ele sabia que eu odiava doideira descontrolada. Mas era um bebezão. Era tão orgulhoso do filho, que o fez segurar a onda. Mas o amor vivia rondando seu pobre coração. Vivia apaixonado por alguém. Mas isso era secreto.

E sobre a história da música, ele compôs a canção “Maurício” pra você, de fato?

Esta história me persegue principalmente porque a música tem meu nome, mas foi feita para um cara que ele era apaixonado.

É verdade que ele te ajudou na carreira de ator quando você foi fazer um teste na TV Globo?

Me ajudou, sim. Contratou uma coach para me treinar para meus testes. Fiz dois: um para “Anos Rebeldes” e outro para a novela, que acabei pegando.

Foto Marli Santos

Você ainda é amigo do Dado, Marcelo Bonfá e Dinho?

Encontro mais o Dado e Bonfá porque nossas famílias são muito ligadas. Minha mãe cuidava do filho do Dado quando ele era pequeno. O Bonfá vejo muito porque o filho dele com a Isabela Garcia tocou comigo no meu show “As Bibas São de Júpiter“. O Dinho encontro menos porque mora em São Paulo. Mas sempre nos vemos em prêmios ou festas do mundo da música.

No final da década de 90, ano 2000, muitos atores posaram nus para a popular revista G Magazine. Você chegou a receber proposta para posar nu também?

Recebi proposta, sim, mandei meu agente negociar, mas o cara queria ver meu pau duro para avaliar se o bicho era bonito, grande, sei lá . Quando eu soube que estar excitado era obrigação para as fotos, eu declinei, mas eles insistiram. Pedi uma grana absurda e aí desistiram. Mas é bonito, sim! (risos). 

Em 2018, você rodou o Brasil fazendo o musical “As Bibas São de Júpiter“, que eram paródias de músicas famosas adaptadas para o meio LGBT+. Como foi essa experiência? Você parece ser um sujeito sempre bem humorado.

Vou te confessar que meu humor anda abalado com a situação que estamos vivendo. Não pode falar, não pode sair, não pode dormir (moro no Leblon, um bairro carioca que já foi sossegado quando comprei meu apartamento aqui nos anos 1990 ); mas este timing de comédia vem de fábrica. Não tem como mudar a programação, então serei sempre o Bobo da Corte. Adoro fazer o povo rir.

Foto Ivan Shupikov

O “Só se for a 3“, do Multishow, era muito divertido pelo clima de descontração. A concepção do programa era sua? Por que ele só durou 9 episódios?

Eu era exclusivo do Multishow. O casamento durou pouco, mas foi ótimo.

E como foi fazer um quadro no programa “Amor e Sexo“? Poderia dizer que o público conheceu um outro lado multifacetado do Maurício?

Fui pioneiro, apresentando a primeira atração gay na Rede Globo em horário nobre. Isso não tem preço. E amei a Fernanda Lima. Ficamos amigos para sempre. 

Você dirigiu o documentário “Rio anos 70“, sobre a efervescência daquela época. Por quê?

Sempre quis fazer algo autoral para o cinema. A ideia de fazer o documentário nasceu junto com minha sócia no projeto, Patrícia Faloppa. Chamei ela para me ajudar a fazer uma pesquisa para uma peça que se passava nos anos 70. O documentário nasceu da pesquisa. Fui indicado como melhor diretor no Festival do Rio, o que para mim já está ótimo para um primeiro filme. Ele foi muito exibido em festivais internacionais.

reprodução

Mudando de assunto, qual a primeira coisa que você pretende fazer quando a pandemia acabar?

Você diz depois da vacina? Para mim, muita coisa mudou. Antes, eu não tomava sol. Agora o sol faz parte da minha vida. Aprendemos que podemos viver em um mundo mais simples. A vida noturna para mim acabou desta forma forçada. Se é para beber, prefiro fazer isso em casa. 

Você já declarou ser pansexual, já teve alguma relação sexual que fosse considerado “fora do convencional”?

Para eu ter uma convencional já foi difícil, imagina uma fora… mas gosto de ver tudo. Outro dia vi um vídeo erótico, da pessoa amarrada e gostei. Isso é fora do convencional? 

Creio que não (risos). E como você está lidando com o isolamento social? Quem mora sozinho reclama da solidão e quem mora com alguém reclama da convivência.

Eu procuro me adaptar. O pior é não poder abraçar e beijar uma pessoa que você ama. Acho o fim da picada. Minha mãe mora comigo. Acho que nunca ficamos tão próximos. Para mim, está sendo incrível. Pode não parecer, mas sou superfamília. Amo estar entre eles. Tenho sobrinhos lindos e inteligentes. 

reprodução

Você vai lançar uma autobiografia aos 50 anos, como surgiu essa ideia?

A ideia era antiga, mas saiu do pensamento e foi para as mãos agora na pandemia. Se é para ficar parado e preso dentro de casa, que isso se transforme em algo produtivo. Nunca sumi ou saí de cena no decorrer de toda a minha carreira. Estou ralando sempre em algo. Junto com o livro, descobri que sou ótimo faxineiro! (risos).  

Foto Fellipe Serro

Em algum momento bateu alguma crise de meia idade ou algo do tipo?

Eu produzi um minidocumentário, chamado “Nora“, dirigido por Gabriel Mendes. Este filme foi premiado em dois festivais internacionais. É sobre a vida de uma nadadora brasileira de 90 anos que já foi campeã mundial. No filme, ela dá a dica de sua longevidade. Para você envelhecer bem, você tem que aceitar que vai envelhecer. Muita gente confunde beleza com competição, para ver quem tem mais botox na cara. No meu caso, tem uma coisa hereditária boa: minha mãe tem 83, mas aparenta ter 60 anos. O jeito é sempre levar a vida com bom humor e procurando a felicidade.

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