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Advogada criminalista e especialista em crimes de gênero, direito antidiscriminatório e feminicídios, Fayda Belo ficou conhecida nas redes sociais após fazer vídeos para o Tiktok, a fim de tirar dúvidas sobre questões judiciais. O sucesso fez com que a capixaba passasse a ser chamada de Annalise Keating brasileira, em referência a personagem de Viola Davis na série “How to Get Away With Mother”.

Fayda Belo (Foto: Reprodução)

A capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, utiliza as redes sociais para ensinar aos seus seguidores, a quem apelidou de “crimelovers”, sobre como usar a lei para se defender dos mais variados crimes. “Essa foi a maneira carinhosa que arrumei para chamá-los, tendo em vista o tsunami de carinho e afeto que recebo deles diariamente”, conta a advogada em entrevista ao GAY BLOG BR.

Além do sucesso do Tiktok, onde já soma mais de 860 mil seguidores, Fayda é conhecida por ser uma defensora dos direitos das minorias. Em um dos vídeos mais assistidos em seu perfil, a advogada aborda a polêmica envolvendo o apresentador Sikêra Júnior, que acusou a comunidade LGBTQIA+ de pedofilia e abuso infantil, após um comercial inclusivo do Burger King para o Mês do Orgulho. Em resposta, ela  traz provas, citando inclusive artigos da constituição, que desmentem a afirmação do apresentador.

Fayda Belo e o toféu “Poc Awards” (Foto: Reprodução/ Twitter)

“Vivemos em um país que foi colonizado e que teve um modelo de família patriarcal, heterossexual e cristã imposto […]. um país extremamente conservador, machista e misógino, que enxerga a comunidade LGBTQIA+ como “pessoas anormais”. O grande problema é que essa visão não está apenas no meio social, mas também no meio dos atores do sistema de justiça, colaborando para que esses casos sejam subnotificados”, afirma Fayda em entrevista.

- BKDR -
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No ano passado, a advogada foi vencedora do troféu Poc Awards 2021, na categoria “Aliada”, que escolhe as pessoas que tiveram os melhores posicionamentos em prol da comunidade LGBTQIA+. Fayda foi eleita pelo voto do júri, formado por integrantes do Scruff Brasil.

Em conversa com o GAY BLOG BR, a advogada criminalista falou sobre sua relação com as redes sociais e seus seguidores, LGBTfobia no Brasil, eleições e a sua posição em relação a gestão de Jair Bolsonaro. Leia abaixo a entrevista a íntegra.

@faydabelo

♬ Beggin’ – Måneskin

GAY BLOG BR: A sua atividade como advogada atrelada às redes sociais, te transformou em uma influencer. Foi algo pensado ou aconteceu naturalmente?

Fayda Belo: Aconteceu de forma natural. Um dia, passando pelo feed do Tiktok vi um vídeo que tinha uma informação equivocada e, no impulso, acabei clicando no botão e reagindo: Epaa! Pode não! (risos). Nesse momento, vi que as pessoas tinham interesse em conhecer seus direitos e pensei: por que não usar meu conhecimento jurídico para levar informação às pessoas, através redes sociais e com uma linguagem simples para todos entenderem? E deu muito certo.

GB: E como você concilia a carreira de  advogada com as redes sociais?

Fayda: Se eu disser que é fácil, estaria mentindo. Como tenho um escritório de advocacia e clientes para atender, acabo não conseguindo dar a atenção que queria às redes sociais, mas faço o possível para manter o ritmo, tirando um dia exclusivo para mapear os conteúdos e gravar.

GB: Com o sucesso nas redes sociais, seus seguidores começaram a chamá-la de “Annalise Keating Brasileira”. Como você lida com essa comparação?

Fayda: Eu fico toda envaidecida. Estamos falando de ninguém menos que Viola Davis, né? Além de ser uma baita atriz, ela tem uma história de vida muito parecida com a minha. Mas penso que essa comparação se deve ao fato de que Annalise e eu somos mulheres fortes, sem meias palavras e bastante enérgicas. Além do fato, claro, de sermos duas mulheres pretas criminalistas.

Fayda Belo e o toféu “Poc Awards” (Foto: Reprodução/ Twitter)

GB: Seus seguidores foram apelidados por você como “Crimelovers”. Como é a sua relação com eles? Muitas dúvidas em relação ao direito chegam até você?

Fayda: Essa foi a maneira carinhosa que arrumei para chamá-los, tendo em vista o tsunami de carinho e afeto que recebo deles diariamente. Eu amo estar com meus ‘crimelovers’.  Dúvidas? (risos) Um mar de dúvidas! Diariamente recebo dúvidas de todos os tipos dos ‘crimelovers’.

GB: Por que, no Brasil, há uma resistência tão grande quando se trata em aprovar leis/projetos para a comunidade LGBTQIA+?

Fayda: Vivemos em um país que foi colonizado e que teve um modelo de família patriarcal, heterossexual e cristã imposto. Até hoje, tudo que está fora desse modelo social implantado, é visto como errado. É o modelo social que até hoje se faz presente na política brasileira, principalmente, no congresso nacional, local onde nascem as leis. Por isso, ainda ocorre tanta resistência em conferir direitos à comunidade LGBTQIA+. É triste ver que todos os direitos, até então conquistados pela comunidade LGBTQIA+ no Brasil, tiveram que ser concedidos pelo judiciário, uma vez que nossos legisladores se recusam a legislar a aprovar leis que protejam as pessoas da comunidade.

GB: Quais causas recorrentes relacionadas a população LGBTQIA+ chegam ao seu escritório?

Fayda: Geralmente, transfobia/homofobia, injúria, lesão corporal, pornografia de vingança e estupros. A grande massa são crimes praticados no ambiente virtual e no ambiente doméstico.

GB: Mesmo com a criminalização da LGBTfobia, o Brasil ainda segue como o país que mais mata essa população e muitos casos acabam sendo subnotificados. A que se deve esse fato?

Fayda: Como eu disse acima, isso se deve ao fato de vivermos em um país extremamente conservador, machista e misógino, que enxerga a comunidade LGBTQIA+ como “pessoas anormais”. O grande problema é que essa visão não está apenas no meio social, mas também no meio dos atores do sistema de justiça, colaborando para que esses casos sejam subnotificados.

@faydabelo

#AgoraEMinhaVez #AgoraVocêSabe #AprendaNotiktok #EuTeEnsino #NaMInhaPelePreta #podenao #faydabelo #lgbtq

♬ som original – Fayda Belo ⚖️📚

GB: Você já foi candidata a deputada em 2018 e a prefeita em 2020. Pretende concorrer a algum cargo nas eleições de 2022 também?
Fayda: Quando resolvi me candidatar, eu fazia parte de movimentos sociais e da advocacia de minorias e percebia a tristeza de não haver leis efetivas que protegessem esses grupos.  No congresso, nascem as leis e as políticas públicas que darão proteção aos grupos minorizados. O grande problema é que não chegavam (e ainda não chegam) aos cargos de poder, políticos que querem realmente abraçar essas pautas e defender a minorias, por isso, coloquei meu nome à disposição. Todavia, encontrei outra forma de fazer com que as pautas dos grupos minorizados sejam ouvidas. Nas redes sociais, na imprensa e viver por si só, já é um ato político. Por hora, disputar uma nova eleição não está nos meus planos. Pelo menos, por enquanto.

GB: Vivemos um dos governos mais LGBTQfóbicos que o Brasil já teve. Qual a sua posição em relação a gestão Bolsonaro como uma defensora dos direitos das minorias?

Fayda: Costumo dizer que após a eleição desse governo, as pessoas criaram mais coragem para serem racistas, machistas e LGBTQfobicas. É muito triste ver o Brasil recuar na defesa dos direitos humanos, na proteção de grupos minorizados. Mais assustador ainda, é ver que as pessoas têm coragem e se sentem protegidas ao atacar minorias, sob a desculpa, corroborada pelo nosso governante, de ser “liberdade de expressão”. Infelizmente, o Brasil vive tempos sombrios.

Fayda Belo (Foto: Reprodução)



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Jornalista gaúcho formado na Universidade Franciscana (UFN) e Especialista em Estudos de Gênero pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)