“Ser ator pornô está muito banalizado, principalmente no Twitter”, diz Vitor Guedes

Em entrevista ao jornalista Elton Pacheco, da coluna Inside Porn, Vitor Guedes fala sobre sua carreira e desafios em ser acompanhante e ator pornô

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Não é a toa que ele ganhou o título de “imperador do sexo”. Foi uma construção de perfil, segundo Vitor Guedes, pernambucano de 30 anos que sempre sonhou em trabalhar com sexo. Assim como ninguém vira ator pornô da “noite para o dia”, ou por postar conteúdo solo em plataformas digitais, não é qualquer um que tem esse título no mercado.

No melhor estilo Calígula, o imperador romano viciado em sexo, Vitor, brasileiro de Recife, construiu sua fama a base de muito show de sexo ao vivo, cenas para produtoras brasileiras e feats em suas redes sociais. A coluna Inside Porn conversou com ele.

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Você é do Recife, mas quase não tem o sotaque “mais lindo do mundo”, o pernambucano. O que aconteceu?

É verdade. Depois que eu me descobri garoto de programa, e comecei a trabalhar nessa indústria, passei a viajar muito, sempre no eixo Rio-São Paulo. Acho que, naturalmente, acabei perdendo bastante o meu sotaque. Mas quando fico com raiva ainda solto um “visse” por aí.

Visse! E você sempre quis trabalhar com sexo? Se não trabalhasse nisso, o que acha que estaria fazendo hoje?

Sabe que não? Sempre achei que Educação Física seria minha área. Um dia assisti um documentário sobre garotos de programa e fiquei com vontade de ser um, porque achava que era algo muito f0d4. Veja que loucura! Até os perigos da profissão eu achava interessante.

Então posso dizer que, depois disso, passei a querer ser um garoto de programa, mas nem sonhava em ser ator pornô. Acredito que se eu não estivesse nesse mercado do sexo hoje, eu seria um profissional de educação física.

Sei que você começou postando vídeos. Essas plataformas online são, na verdade, um marketing para o trabalho como ator pornô ou dá mais dinheiro como acompanhante?

Comecei no Xvideos, que foi a “minha casa”. Depois, fui para o Twitter. Sempre usava os teasers do Xvideos para chamar a galera de lá para a outra rede e vice-versa. Deu certo e fui ganhando seguidores. Era um marketing para o meu trabalho de acompanhante.

As pessoas veem como eu transo e querem me contratar. Isso é natural e realmente funciona. Ser ator e garoto de programa dá dinheiro, depende da forma com que você trabalha, e qual você foca mais. Se focar nos dois, o dinheiro é melhor. Não posso reclamar disso.

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Você estreou no Mundo Mais, hoje filma para a Hotboys. Como é a experiência no pornô nacional e o que você acha da qualidade do pornô gay brasileiro?

Comecei no Mundo Mais, logo depois fui convidado para a Hotboys e fui ganhando experiência a partir dessas duas produtoras. É uma coisa boa porque você acaba aprendendo as técnicas de gravação, ângulos, posicionamento, luz, direção, roteiro. Claro, se você tem foco nisso. Se você vai lá e só grava, fica bobo, e não tira proveito maior.

É interessante tirar um pouquinho daquilo tudo, não apenas o sexo em si. Ajuda muito na produção dos nossos vídeos solos. O pornô brasileiro vem ganhando mais espaço e posso dizer que é melhor do que muitas produções de fora, com enredo e o sexo em si. Em qualidade de gravação ainda peca um pouco, mas o pornô brasileiro tem capacidade de ultrapassar qualquer país. Tudo é um investimento. Enquanto as produtoras não investem no que têm de bom, que é a matéria-prima, o ator, fica difícil em estar em primeiro lugar.

Tem planos para filmar fora? Já vi você elogiando o Viktor Rom por aí…

Gravar pra fora nunca foi um objetivo maior. Gosto de gravar aqui, para as produtoras nacionais, de ter esse contato. Se acontecer de gravar fora, eu gravaria. Inclusive, gravei para algumas de fora, mas aqui no Brasil. Nunca viajei para gravar no exterior.

O Viktor Rom é uma inspiração, sempre foi, principalmente quando comecei a usar o Twitter. Aos poucos, trouxe minha essência. Você olha e gosta muito do trabalho de uma pessoa e busca inspirações, mas do seu modo. Não quero fazer uma carreira baseada na carreira do outro. Quero construir meu caminho, com minhas manias, meus tiques e defeitos.

Você acha que existe uma banalização do termo “ator pornô”, sobretudo com a criação de plataformas tipo Onlyfans?

Sim. Ser ator pornô está muito banalizado, principalmente no Twitter. Não basta soltar apenas um vídeo e chamar a si mesmo de ator. O mesmo acontece com Onlyfans. “Ator do Onlyfans…”.

É preciso entrar numa produtora para ser um ator pornô. Eles são atores, criam conteúdos, histórias, enredos, dirigem, são atores tanto quanto eu, eu entendo isso. A questão é quem posta conteúdos solos, nunca gravou, não sabe como é uma produção… Precisamos ter cuidado com a banalização do termo.

E, na verdade, não é uma profissão para qualquer um, né? O que você acha que é necessário para ser um ator de verdade?

Tem muito fiscal de r0l4 e c1 por aí. Sempre encontram “defeitos” em tudo. Para ser ator, tem que gostar do que está fazendo. Se for pelo dinheiro, desiste, porque você vai fazer um trabalho medíocre. Faz pornô quem gosta da putaria acima de tudo, de se exibir, de gravar, quem sente prazer nisso. Quando alguém diz que gozou com um video meu sinto um prazer enorme.

De onde vem e por que o titulo de “imperador do sexo”?

Em partes, pela performance. Eu fiz um show no carnaval e convidei um produtor da Hotboys e ele foi à paisana. A casa estava lotada, estava eu e outro garoto para o show. Chamei algumas pessoas para subir no palco e interagir. Esse produtor ficou bobo comigo, disse que eu tinha carisma com o público, e disse: “você é digno de um imperador”.

Então, o título veio da produtora Hotboys por esse motivo, pela performance de sexo ao vivo. O mercado de shows de sexo ao vivo estava fraco aqui no Rio e fui o primeiro a fazer show ao vivo interagindo com o público, que vinha fazer sexo comigo na frente de outras pessoas.

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Vendo sua carreira, você começou sendo ativo e, aos poucos, foi se “abrindo”. Hoje vemos cenas suas como passivo. Essa foi uma mudança estratégica?

Na verdade, quando comecei, a minha intenção era ser versátil, sempre foi. Acontece que uma coisa foi levando a outra e fiquei sendo só ativo nas cenas. Nas primeiras gravações eu nem pegava no pênis do cara, nem nada. Mas a minha vontade sempre foi fazer versátil, porque ser versátil é o novo pretinho básico, porque a gente ganha dos dois lados. Risos.

Acabei sendo taxado por ativão pelo público, embora em todas as entrevistas eu sempre afirmei ser versátil. É claro que é mais fácil ser ativo, mas tive a necessidade de fazer passivo, ser versátil, e foi algo estratégico, sim. Fiz no momento em que as pessoas estavam pedindo isso.

E qual foi a repercussão dessa mudança?

Quando saiu uma cena passivo no Mundo Mais, foi “uma loucura”. Fiquei um tempo sem fazer. Agora que voltei a fazer passivo em cena, com meu atual namorado, tem bombado muito. Preconceito sempre tem.

Tem fã que fica decepcionado quando vê cena minha passivo. Tem gente que pensa que só porque você é ativo nunca poderá inverter os papeis. Pleno século 21 e a gente ouve isso…

O que você acha da Prep? Faz uso?

Prep é extremamente importante para quem trabalha com sexo. Faço uso, sou acompanhado por infectologista, e apesar da prevenção apenas do HIV, existem outras ISTs que precisamos acompanhar. Quem faz o uso certinho sabe que é a coisa certa a se fazer. Você cuida de você e do seu parceiro. Prep salva vidas.

Dá pra ser ator pornô, acompanhante e namorar ao mesmo tempo?

Se eu cozinho, lavo pratos e varro a casa, isso daí eu tiro de letra. Se alguém namora comigo precisa entender minha vida, toda essa correria que é ser ator pornô. Não vou deixar de ser acompanhante, nem ator, mas vou querer namorar também. São escadas que vamos subindo juntos. Dá sim.

Verdade que o seu namorado/noivo viu seus filmes, marcou programa, mas vocês ficaram seis meses sem sexo?

Ele mora na Bélgica, viu meus filmes no Xvideos e se apaixonou. Veio para o Brasil, contratou programa comigo, pediu pra ficar quatro horas, levou pra jantar, mas não transamos. Ao longo dos dias, nada de sexo, então fui achando estranho. Ele voltou pra Bélgica e, depois de seis meses, fui pra lá. Só então transamos.

É o mesmo com quem você filma hoje? Vi várias cenas de vocês juntos no Twitter.

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Não estamos mais juntos. Não conseguimos conciliar o ciúme, que era “de boa” no início, mas foi ficando difícil. Foram dois anos maravilhosos.

Hoje eu namoro outra pessoa, que é do pornô também, o Ferjinho, que cria conteúdos solos e começamos a gravar juntos, o que tem sido bom para ambos. Tem gente que acha que é marketing, e parece marketing mesmo, mas não é. O dia a dia está de prova.

Como explora as redes sociais em benefício próprio?

Se o Xvideos é “uma mãe”, o Twitter é “um pai”. Os fãs que me assistem no Xvideos interagem comigo no Twitter. A minha intenção é ficar cada vez mais próximo dos meus fãs. Eles me defendem dos haters, estão lá por mim. O Twitter ajuda nisso, de aproximar com quem gosta do meu trabalho, e também do retorno de divulgação.

Dá para usar a visibilidade nessas redes para advogar por suas causas e coisas que você acredita? Como?

Eu não sou militante, mas sempre que quero falar algo eu uso o Instagram, faço lives, e falo sobre assuntos importantes, sempre em relação ao sexo. Uma causa que eu sempre defendo é em relação aos passivos. O passivo é sempre banalizado nessa indústria, sempre apontam defeitos e o ativo é sempre o perfeito. Isso precisa mudar.

Trabalhar com sexo é também dizer “não”. Já negou trabalhos ou cenas? Por que?

Ninguém é obrigado a fazer o que não quer, não importa qual seja o cachê. Já disse “não” pra cena, não pra cliente e não pra shows. Para coisas que não me cabiam.

Em cena, já recusei a filmar com atores que não gosto. Hoje em dia já digo que não gravo com “fulano” ou “ciclano”. Tem clientes que são “fofos”, mas já tive experiências com gente que acha que paga e você é propriedade. Já escutei “estou pagando” e isso é péssimo.

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