Vereador de Viçosa (MG), Daniel Cabral (PCdoB) disputa uma vaga como deputado estadual em Minas Gerais. Formado em Ciência Sociais, ele é mestrando em Administração Pública, gay e tem 25 anos. O jovem é um dos entrevistados da semana no especial “Eleições 2022“, do Gay Blog BR.

Primeiro vereador abertamente gay de Viçosa, Daniel quer repetir o feito ao ser eleito deputado estadual em Minas Gerais. “Esses espaços de poder historicamente não foram feitos para nós. […] E preconceito que parte até de certas fileiras de esquerda, que acreditam que a diversidade sexual é uma pauta subalterna à questão da classe e da raça”, comenta o candidato.
“A média de idade de um(a) candidato(a) eleito(a) na Assembleia Legislativa em 2018 foi de 48 anos. Para além de propor minha candidatura aos 25 anos, a representação jovem que defendo não é somente uma questão de idade. É, antes de tudo, representar uma geração que tem demandas e preocupações urgentes”, acrescenta o jovem.
As propostas de Daniel estão divididas em três eixos conectados: desenvolvimento econômico, juventude e políticas LGBTQ+. “Pensar a política através da comunidade LGBT+ não é reduzir nossa atuação a pautas ‘identitárias’ como somos frequentemente criticados. Quando construímos políticas de habitação, saúde, emprego com olhar para a comunidade LGBT+ toda a sociedade é contemplada”, ressalta Daniel.

Confira na íntegra a entrevista com Daniel Cabral
GAY BLOG BR: Qual a sua formação e trajetória profissional?
Daniel Cabral: Eu sou Daniel Cabral, vereador em Viçosa (MG), eleito aos 23 anos e primeiro vereador assumidamente gay. Agora, aos 25 anos, me lanço em um desafio maior: quero ser o primeiro deputado assumidamente gay na Assembleia Legislativa de Minas Gerais! Nascido em Viçosa, passei minha infância entre a zona rural de Teixeiras, Viçosa e Brás Pires. Filho de feirante e dona de casa, neto de agricultores familiares, aprendi cedo o valor do trabalho. Em Viçosa, estudei em escolas públicas e particulares com bolsa integral. Me formei em Ciências Sociais na UFV, onde curso atualmente pós-graduação em Administração Pública.
GB: O que motivou a se candidatar?
Daniel: Nas últimas eleições a população mineira confiou em quem dizia representar uma nova política. E a nova política também nos decepcionou. E decepcionou porque acredita que política se faz sem o povo, sem preocupação social.
Eu acredito que com boa política dá pra fazer diferente. E boa política se faz com olho no olho e escuta atenta às dificuldades do povo. É atuar com transparência e participação social, principalmente junto daqueles e daquelas que estão fora do poder. Boa política é aquela que não foge dos temas polêmicos e urgentes, que não tem medo de inovar nas ideias e nas propostas.
A média de idade de um(a) candidato(a) eleito(a) na Assembleia Legislativa em 2018 foi de 48 anos. Para além de propor minha candidatura aos 25 anos, a representação jovem que defendo não é somente uma questão de idade. É, antes de tudo, representar uma geração que tem demandas e preocupações urgentes.
GB: Quais os desafios enfrentados ao ser um candidato abertamente LGBTQ+?
Daniel: Sem dúvidas, a violência política. Esses espaços de poder historicamente não foram feitos para nós. Por diversas vezes sofri ataques por conta da minha orientação sexual. Quando não a explícita violência, o preconceito ao pautar a temática LGBT+. E preconceito que parte até de certas fileiras de esquerda, que acreditam que a diversidade sexual é uma pauta subalterna à questão da classe e da raça.
GB: Quais são as suas principais propostas? Há pautas exclusivamente para LGBTQ+?
Daniel: Minhas propostas estão divididas em três eixos, que estão conectados. O primeiro é o desenvolvimento econômico com olhar especial para as necessidades da juventude e a inclusão. Políticas de primeiro emprego, e empregos de qualidade, fortalecimento do ensino médio público, incentivo público à pesquisa e inovação, defesa das nossas universidades estaduais e infraestrutura para nossos municípios entram nessa grande agenda de compromissos. Meu segundo grande eixo é representar a juventude dentro das políticas urgentes que nossa geração precisa, como cuidado com a saúde mental nas escolas, o cuidado rigoroso com o meio ambiente e a mitigação e adaptação às mudanças climáticas e desigualdade social. O terceiro eixo, que abraço com grande carinho, é o das políticas para a comunidade LGBT+. Entendo que a comunidade LGBT+ precisa de políticas públicas específicas na saúde, na integração escolar, na saúde mental, no acolhimento no mercado de trabalho e nas políticas de segurança.
E gostaria ainda de ressaltar que pensar a política através da comunidade LGBT+ não é reduzir nossa atuação a pautas “identitárias” como somos frequentemente criticados. Quando construímos políticas de habitação, saúde, emprego com olhar para a comunidade LGBT+ toda a sociedade é contemplada.
GB: Quais medidas você acredita serem necessárias para combater a LGBTfobia?
Daniel: Eu acredito em duas vias principais, a cultural e a política. A política envolve garantir os direitos para que toda comunidade LGBT+, sejam os reprodutivos, civis, políticos e penais. Para que esses direitos sejam garantidos é preciso que representantes da comunidade LGBT+ ergam a bandeira sem medo da diversidade sexual. Representantes que não tenham medo de dizer que a questão sexual é complexa e que a comunidade LGBT+ necessita de abordagens diferenciadas e específicas nas políticas públicas.
Ainda na via política, acredito que diversificar a representação política é mostrar para toda sociedade que múltiplas sexualidades existem. É mostrar para a nova geração que não há razão para viver em uma redoma de medo e incompreensão. É criar uma conexão entre quem sofre todo tipo de violência e dar voz para aqueles que apenas querem ser aceitos e ter suas diferenças reconhecidas.
No campo da cultura, é preciso disputar os padrões hegemônicos que absorvemos nos filmes, nas séries e nas músicas. É preciso valorizar os produtos culturais que mostrem sem receios a afetividade gay, o amor lésbico, os dilemas de transexuais e travestis. Combater a LGBTfobia é também expandir o olhar sobre o possível, sobre as múltiplas formas de vida e afeto.
GB: O que você pensa sobre o uso e políticas da PrEP?
Daniel: A geração LGBT+ dos anos 1980 e 1990 sofreu muitos com a incidência de ISTs, em especial o HIV. Hoje a ciência e o cuidado já evoluíram ao ponto que a mortalidade por AIDS se reduziu significativamente, depois de muita luta política dos movimentos sociais e de muitas políticas públicas envolvidas. Sobre o desenvolvimento da PrEP, acredito que seja fundamental sua ampla implementação e conscientização em todo sistema de saúde. É uma questão de dignidade humana e de saúde pública. Minimizar riscos de contágio é fundamental para que a rede de saúde seja mais eficiente e a comunidade LGBT+ viva com mais segurança e liberdade.
É preciso ressaltar, no entanto, que a PrEP deve vir somada com outros esforços de políticas públicas. A PrEP não pode ser enxergada como um passaporte para a irresponsabilidade afetiva e sexual. ISTs seguem existindo e novas ameaças estão sempre rondando, portanto, a responsabilidade individual e coletiva sobre a sexualidade LGBT+ deve ser permanente.
GB: Como você avalia o governo de Bolsonaro?
Daniel: O governo Bolsonaro é um desastre em todos os critérios que se possa avaliar. É um desastre na formulação de políticas públicas, pois não abre as pautas para o debate. É um desastre também na implementação de políticas públicas, porque não preza pela coordenação com estados e municípios tampouco por critérios técnicos e de competência na administração pública.
Na esfera dos valores, nem é preciso ir além do amplamente conhecido. O governo Bolsonaro é a reafirmação da cultura heterossexual e patriarcal, que vai desde os espetáculos públicos de motociatas até a forma de governo truculenta. O fim do governo Bolsonaro é também a possibilidade de um novo momento cultural e afetivo nesse país, onde o ódio dê lugar ao amor, e claro, a toda forma de amor.
Confira a lista de candidaturas LGBTQIA+ de 2022 neste link.
Lista de candidatos LGBTQ+ nas eleições 2022 | Deputados, Senadores, Governadores
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