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Se o conto de fadas da Cinderela tivesse uma versão masculina, certamente a história do pedreiro Francisco Albuquerque (25) seria a inspiração. Oriundo de uma família humilde de Campo Largo, no Paraná, Francisco pôs a mão na massa em busca do sonho de se tornar modelo, algo que ele já tinha buscado sem sucesso na infância.


Dono de um corpo escultural, com 1,85 altura e 85 quilos, o pedreiro que virou modelo ainda não chegou onde gostaria de estar, mas tem dado passos largos quanto ao seu objetivo. Francisco fez alguns ensaios fotográficos, um comercial de TV na sua cidade e estampou a capa de uma revista curitibana – mas o jovem vislumbra Nova York.
Na infância, ele já havia contado ao jornalista Jeff Benício que não chegou a passar fome, “mas teve dias em que só tinha um pão seco para comer. Enquanto minha mãe limpava a casa de gente rica com muita comida boa na geladeira. Ela me ligava chorando dizendo que não conseguia comer, porque sabia que em casa não tinha quase nada para me alimentar. Eu dizia para não se preocupar porque tinha aprendido na TV a beber bastante água para não ficar com fome. Aprendi a ser responsável muito cedo, e ela sempre me ensinou a ser forte e ver o lado positivo de tudo”, contou. Para Benício, ele também relatou as consequências desse período: “Como passei muita vontade de comidas quando era criança, desenvolvi compulsão alimentar. Apesar de ter superado a depressão ainda lido com os reflexos físicos, emocionais e financeiros que a doença causou. Fiquei muito tempo sem forças para trabalhar e me alimentando mal. Mas não uso isso como desculpa, tenho saúde para correr atrás. Quero vencer e inspirar todo mundo que sofreu por ser gordinho, tímido ou depressivo”.


Enquanto a carreira internacional ainda não desponta, os admiradores do rapaz acompanham o dia a dia (e noite a noite) através de suas redes sociais, onde ele faz uma espécie de reality show de sua vida com muito bom humor e mensagens positivas.
Em uma entrevista exclusiva para o GAY BLOG BR, o belo modelo fala sobre a carreira, a vida de pedreiro, como superou a depressão e revela que curte baladas LGBT+.


Hoje você é um cara bem humorado, seguro de si e com bastante foco em seus planos. Houve muitas pedras no meio do seu caminho? Como foi sua infância?
Obrigado. Foi uma infância difícil e pobre, porém sempre tive muito amor da minha mãe Terê para superar tudo. Filho de uma mãe solo, moramos de favor até os 7 anos em uma casa em que ela trabalhava como doméstica. Nessa época, ela tentou me levar em agências de modelo, mas fomos enganados e aquele sonho adormeceu. Cresci tímido e com baixa autoestima, não gostava de quem eu era. Era rejeitado pelas garotas na escola, mas a pior rejeição era a que eu tinha comigo mesmo.






Você era um bom aluno, tirava boas notas?
Sim. Era muito dedicado. Minha mãe até falava pra eu faltar a aula às vezes para descansar um pouco, de tanto estudar. Na adolescência fui ficando mais bagunceiro, mas sempre tirava boas notas. Consegui passar em Administração na Universidade Federal do Paraná.


Quando você percebeu que estava de fato com depressão e que isso era um problema?
Difícil definir uma data. A depressão é uma doença silenciosa, mas foi por volta dos 20 anos. Eu era uma pessoa negativa, frustrado com a carreira administrativa, indo mal na faculdade e no meu antigo relacionamento. Mas achava que depressão era frescura. Chegou a um ponto em que eu não sentia mais tristeza, apenas um vazio e pensava em acabar com minha vida. Foi aí que decidi procurar ajuda.


Como você superou? Teve ajuda de profissionais?
Aceitei que precisava de ajuda e que estava depressivo. Me abri com minha mãe e a ex-namorada, elas me apoiaram muito. Depois procurei ajuda psicológica, que foi essencial no meu processo de superação que levou uns dois anos. Eu não tinha mais nada a perder, então recomecei minha vida do zero. Larguei a faculdade, o emprego e terminei meu relacionamento, pois vi que não estava preparado para uma vida a dois. Passei a reconstruir minha identidade. Fiz um curso de teatro, fui trabalhar como autônomo (vendedor, garçom, promotor, recreador, etc). Também voltei a trabalhar como servente de pedreiro, já havia feito uns bicos na adolescência. E passei a correr atrás do sonho de ser modelo internacional.


Você uma vez disse que a escolha em ser servente teve também a ver com a vontade de emagrecer. Então você já estava colocando em prática seu objetivo em ser modelo desde então?
Sim. Na mesma época que voltei a buscar o sonho de ser modelo internacional, vi a oportunidade de conciliar isso com o trabalho braçal. Assim, tinha mais flexibilidade na agenda para ir em testes e o trabalho pesado foi uma terapia para minha depressão. Emagreci 20 quilos depois que fui para as obras, aliado a dieta e corrida.


Como se faz impermeabilização em muro de arrimo?
Olha agora me pegou hein (risos). O ideal é que seja impermeabilizada a viga que sustenta o muro com produto próprio, para que não infiltre umidade. E aplicados aditivos impermeabilizantes no reboco do muro, depois seja colocada manta apropriada antes de se encostar a terra. Porém, há casos em que não é possível retirar a terra para impermeabilizar um muro já existente, num barranco, por exemplo. Então se faz a impermeabilização do outro lado do barranco, passando camadas de produtos impermeabilizantes, inclusive existem até tintas com aditivos para serem aplicados no muro, que ajudam a proteger da umidade. Mas sinceramente, não sou expert nisso, sou o cara que vai lá e coloca a mão na massa como servente, não tenho tanto conhecimento para falar sobre. Recomendo contratar um bom profissional e me chamar apenas como ajudante.






Você estudou marketing e hoje você se fez uma pessoa célebre, desejada e amada. A imagem que construiu hoje foi algo estratégico?
Cursei três anos de administração e gostava muito das aulas de marketing, e de usar técnicas de storytelling para contar minha história de forma inspiradora. Isso ajudou, mas eu nunca tentei “criar uma imagem”, fui eu mesmo e deixei rolar. Depois da depressão, aprendi a não viver de aparências. Percebi que quando não tentamos agradar, as pessoas acabam gostando da nossa autenticidade. E por eu mostrar os dois lados, o glamour e a luta, as pessoas se identificam.


Você é pedreiro, modelo, colunista de um site e digital influencer. O que dá mais dinheiro?
Se eu tivesse continuado na vida administrativa, acredito que estaria ganhando mais (risos). É relativo, como servente de pedreiro foi onde consegui ganhar mais por ser mais estável. Porém, como modelo, já ganhei o valor de um salário em um dia, só que já fiquei 6 meses sem ter jobs. E como influencer consegui várias parcerias que me ajudam muito. Mas hoje, tenho paixão e paz de espírito. Isso é o que me move. E sei que ainda estou na fase de plantar, na nossa próxima entrevista vou estar ganhando muitos dólares.


Quais trabalhos você fez como modelo depois que o seu perfil no Instagram se tornou conhecido?
Fui capa de uma grande revista de Curitiba, TopView, dei entrevista para o site da Vogue, fui modelo de uma loja da minha cidade e participei do famosos da internet da Eliana, no SBT. Antes disso, tinha feito comercial para o SBT do Paraná também. Onde moro, não tem muito mercado para a moda e, com a pandemia, os trabalhos diminuíram, por isso estou me preparando para ir para São Paulo e Nova Iorque.


Você namora?
Não. Solteiro há quase três anos. Namorei cinco anos e já fui noivo. Agora, estou focado na carreira. A carência bate, mas sinto que ainda preciso viver e amadurecer antes de namorar.


Você se identifica como heterossexual, certo? Ser cortejado por homens é algo que sempre aconteceu ou é algo que veio com a sua visibilidade nas redes sociais? Como você lida com isso?
Sim. Sou hétero, mas muitas vezes já acharam que eu era gay. Muitas pessoas, homens e mulheres, ainda têm rótulos do que são comportamentos “de homem”. E por eu gostar de me cuidar, frequentar baladas LGBTI+, gostar de rebolar a raba, e ser sentimental, rola esse questionamento. Mas quando alguma menina me fazia essa pergunta na balada, eu saia rebolando e deixava a dúvida no ar, não precisamos provar nada pra ninguém. Sim, já era cortejado, antes da pandemia eu frequentava muitas baladas LGBTI+ em Curitiba. Então, às vezes algum cara chegava em mim e acabávamos fazendo amizade. Hoje, aumentou nas redes sociais, de homens e mulheres, desde que seja com respeito, eu agradeço e acho divertido.




Alguém já passou alguma cantada de pedreiro? Quais as piores cantadas que recebeu?
Na internet algumas (risos): “Sua cueca não é download mas vou baixar”, “Vem carpir o mato da minha virilha”, “Vem fazer uma obra na minha cama”, “Vou quebrar as paredes do meu quarto pra te contratar”.






Recentemente você fez um vídeo contando que as pessoas olham para a roupa suja de cimento e acham que os pedreiros fedem, quando na verdade é um grande equívoco, pois usam desodorante. Qual marca você usa? É aerossol, bastão, roll on? E qual seu perfume predileto?
Uso aerossol, Old Spice da linha “Pegador”. Só o nome do perfume mesmo, porque eu sou comportadinho. Perfume predileto é o Quasar da Boticario, porque é o único que tenho.
Você usa protetor solar? E creme para as mãos, algum? Quais são suas rotinas de skincare e beleza?
Há três anos passei a me cuidar mais por conta da carreira e pela autoestima. Antes tinha aquele pensamento de que “machão” tem que ser bruto. Felizmente evoluí e entendi que se cuidar faz muito bem. Principalmente no rosto, muito protetor solar. Para as mãos não costumo usar nada, gosto de fazer a manutenção dos calos. É minha marca registrada e é bom para fazer o carinho de pedreiro raiz. Sobre skincare, acredito que o essencial é muita água, cuidar da alimentação e um bom sono. Mas também, em casa, uso sabonete para o rosto e tenho parceria com um centro de estética, que me ajuda com limpezas e hidratações. Hoje também cuidam do meu cabelo e as sobrancelhas são feitas.


Você está contente com a política no país? Como avalia o atual governo?
Não tenho propriedade para falar disso, pois parei de acompanhar o cenário político. Foco em tentar ser um bom cidadão e inspirar as pessoas da forma que posso na internet. Mas não estou contente com a política atual, nem as ideias desse governo. Principalmente porque ela é carregada de ideias antigas e ultrapassadas. E de modo geral, a política sempre precisou de muitas melhoras.






A pandemia certamente afetou o mercado fashion. O trabalho na construção civil continuou?
No começo da pandemia estava trabalhando direto nas obras, da metade do ano pra cá, os trabalhos foram diminuindo. Atualmente, até meu padrasto, com quem eu trabalhava, está focando em outros projetos, porque a demanda caiu. E eu estou aproveitando para focar na carreira artística.




Quais seus planos pós-pandemia?
Estou me preparando para ir a Nova Iorque em 2021. Não me pergunte por quê, nem para quê, nem como. É um desejo que surgiu no meu coração tempos atrás, acho que só vou descobrir quando chegar lá. Só sei que é meu propósito e quero melhorar minha vida e da minha mãe, inspirando pessoas pelo caminho. Tenho estudado inglês e me exercitado bastante para chegar nas passarelas internacionais, anota aí, vou chegar em Nova Iorque sujo de cimento.




Obrigado Gay Blog pela oportunidade e parabéns pelo trabalho lindo que fazem, levantando tantas causas importantes e inspirando pessoas a serem elas mesmas.
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