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As mídias alternativas foram um espaço importante de crítica à Ditadura Militar. Foi nesse período que surgiram algumas publicações com temática LGBTQIA+ que, além de fazerem denúncias, também tinham como propósito promover a cultura. Criada em 1981, a Chanacomchana foi uma revista que circulou até 1987 entre mulheres lésbicas da capital paulista.

Capas das edições inaugural e nº 1 da Chanacomchana (Imagem:  Acervo Bajubá)

A primeira publicação foi realizada por uma ala de lésbicas do grupo LGBT Somos, em 1981. A fanzine só retornaria a circular no ano seguinte, em 1982, com produção dos coletivos Lésbico-Feminista (LF) e Grupo Ação Lésbica-Feminista (GALF)

Símbolo de resistência, a Chanacomchana desempenhou um papel importante na articulação e organização política da comunidade lésbica durante a década de 1980. A revista trazia colagens com temáticas progressistas e revolucionárias, que pautavam questões femininas, especialmente do universo lésbico.

Devido à ditadura militar, a circulação era difícil e se dava de maneira muito discreta – algumas mulheres lésbicas tinham certo receio de receber a publicação com um nome que sugerisse sua sexualidade.

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Capas das edições nº 2 e nº 11 da Chanacomchana (Imagem:  Acervo Bajubá)

A fim de melhorar a distribuição da revista, as fundadoras do GALF, Rosely Roth (1959-1990), e Miriam Martinho, decidiram comercializar a Chanacomchana no Ferro’s Bar, um local que já era ponto de encontro de mulheres lésbicas na época. 

A ideia não foi bem recebida pelo dono do bar e, em 1983, ele proibiu a circulação da revista no interior do estabelecimento, o que resultou na expulsão de algumas mulheres lésbicas. Foi a partir desse momento que iniciou-se um levante em resposta aos ataques sofridos por elas.

No dia 19 de agosto de 1983, ativistas do GALF se organizaram e deram início a um protesto que ficou conhecido como o “Stonewall brasileiro” e que contou com a presença do movimento LGBTQIA+, feministas e figuras políticas. Após ocuparem o Ferro’s Bar, o ato foi marcado pela leitura de um manifesto lésbico contra a censura, os abusos e preconceitos que vivenciavam no local.

Edição da Chanacomchana após mobilização no Ferro’s Bar em São Paulo (Imagem: Reprodução)

A data se tornou um marco histórico e em memória comemora-se o Dia do Orgulho Lésbico no Brasil. Em entrevista ao site UOL, Miriam Martinho, um das pioneiras do movimento LGBTQIA+ no país, relembra aquela noite no Ferro’s Bar: “tive muito medo da polícia aparecer e nos levar presas. Tive medo da imprensa também. Não era muito confortável aparecer nas páginas dos jornais na época. Mas organizamos tudo de forma a minimizar os riscos.

Miriam ainda conta que no dia 19 de agosto elas tentaram entrar no bar, mas o porteiro fechou a porta. “Passamos a conversar com as mulheres que estavam do lado de fora do bar, juntamos gente, mais os grupos que estavam dando apoio, tentamos de novo. O porteiro enfiou a mão na cara de uma das integrantes do GALF, pela porta entreaberta. Um homem aproveitou e jogou fora o boné do porteiro, ele se distraiu e entramos todos”, relembra.

A produção da Chanacomchana era artesanal, por isso não chegava a ultrapassar 500 exemplares. A revista seguiu  na até o ano de 1987 e, para além de cumprirem um papel importante de oposição e resistência à ditadura militar, suas últimas edições exploraram temáticas importantes da época como a pandemia da AIDS e a Lei da Anistia. Algumas edições da revista estão disponíveis no Acervo Bajubá aqui.

Rosely Roth discursa e distribui exemplares da Chanacomchana (Foto: Foto Ovídio Vieira )



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