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No cenário musical brasileiro dos anos 90, poucas bandas alcançaram o status e o apelo irreverente dos Mamonas Assassinas. No canal “Enigmas do Rock”, Fabrício Mazocco detalhou o percurso improvável da música “Robocop Gay”, símbolo da verve humorística e da ousadia artística da banda. A gênese da canção, ancorada em um showmício político e envolta em circunstâncias fortuitas, ilustra o espírito de improvisação e irreverência que permeava o mood dos Mamonas.

Mamonas Assassinas - DIvulgação
Mamonas Assassinas – DIvulgação

“Ela nasceu de um improviso, uma brincadeira que acabou capturando a essência do que os Mamonas Assassinas representavam“, começa Fabrício. O palco inicial foi um showmício de 1994, onde Dinho, o frontman da banda, foi convidado pelo então candidato a deputado Geraldo Celestino para animar a multidão de Guarulhos. “A música era uma espécie de paródia, um meio de conectar com o público de forma leve e divertida”, explicou Mazocco.

“‘Robocop Gay’ foi criada para ser tocada num showmício. Ninguém daquela banda imaginava que um dia essa música se tornaria um grande sucesso nacional e que essa banda seria o símbolo de uma geração. Dinho, sempre teve uma veia cômica, uma veia de humor. Então, ele sempre era convidado para fazer eventos onde ele imitava pessoas como Lula, Brizola ou Maguila. E assim ele fazia também em showmícios, que acontecia muito naquela época, na década de 80 e início da década de 90. Mas não era só isso. Dinho também era vocalista da banda ‘Utopia’, uma banda de Guarulhos, onde eles cantavam, faziam cover de bandas como Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, enfim, essas bandas que tinham sucesso na década de 90”, narrou o jornalista.

- BKDR -
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Durante as eleições de 1994, Geraldo Celestino, que já contava antes com o serviço do Dinho para fazer a animação, convidou o cantor para fazer os showmícios. Como o cantor também tinha a banda, Geraldo convidou não só o vocalista para ser o animador, como também a banda Utopia para fechar os shows.

“Foram mais de 60 showmícios naquela época que a banda Utopia participou. O evento era aberto por uma dupla sertaneja, aí tinha o comício e em seguida a banda Utopia fechava a programação. Quando era mais ou menos 23 de setembro, o Geraldo ligou para o Dinho e convidou ele para fazer, então, o último showmício que ia acontecer ali no Parque Cecap, em Guarulhos, onde a banda conhecia muito bem, onde a banda nasceu. Seria um grande showmício. E ali, ao telefone, o candidato já falou: ‘Olha o Dinho, será que vocês não poderiam fazer algo diferente?'”, relatou Fabrício.

Assim, na madrugada de 24 de setembro, dentro de um carro Corcel II, Alexandre Alves Leite, o Dinho, e seus companheiros de banda deram início à composição. “Era um processo colaborativo, ideias fluindo e sendo moldadas ao sabor da criatividade do momento”, descreve Fabrício. O que começou sob o título de “Demerval, o Machão” logo tomou uma nova forma. “Ninguém imaginava que aquela ideia inicial se transformaria no fenômeno que se tornou”, acrescentou.

Segundo Fábricio, Dinho começou a escrever a letra na situação acima e os rapazes da banda conseguiram terminar a música – ou melhor, eles pensaram haviam terminado de criar. No domingo, no dia do showmício, o cantor fez as apresentações, teve o comício e, quando a banda Utopia entrou o palco, mais ou menos na execução da sexta música, o Júlio, que era o tecladista, assumiu o vocal e o vocalista saiu do palco. Depois, o Dinho retornou ao show com uma peruca loira, uma camisola branca, que era da sua namorada na época, e cantou então a música “Demerval, o Machão”.

A estreia da música no palco do showmício foi um ponto crucial. “A música que haviam criado naquela madrugada anterior, de sexta para sábado, deixou o pessoal na loucura, porque o Dinho rebolava e a banda era muito bem entrosada. O sucesso foi tanto que o pessoal que estava presente, ali no showmício, pediu para a banda repetir três vezes a música. Os parentes ali ficaram perplexos ali do que estava vendo e que estava ouvindo também”, relatou o jornalista. A performance não foi apenas um sucesso; ela definiu o tom para o futuro da banda. “Foi ali que a [banda] Utopia começou a se transformar nos Mamonas Assassinas que conhecemos”, afirmou.

Mamonas Assassinas - DIvulgação
Mamonas Assassinas – DIvulgação

Conforme o canal Enigmas do Rock, menos de um mês depois, no dia 15 de outubro, a Banda Utopia se ofereceu para produzir o disco dessa dupla sertaneja que abria o showmício. Porém, o Dinho ligou no estúdio do Rick Bonadio e falou que a dupla não podia ir, mas que ele iria usar aquele horário. A banda chegou então com um Fusca.

“Os cinco integrantes da banda entraram ali no estúdio, gravaram uma primeira música que foi ‘Mina’, que posteriormente passou a ser chamada ‘Pelados em Santos’. Depois, Dinho pegou um violão e começou a dedilhar uma canção ali, que era já com o nome “Robocop Gay”, não mais “Demerval, o machão”. A produção achou que estava faltando desenvolver mais a canção, pois a letra era curta e terminava no refrão “Ontem eu era católico e hoje eu sou um gay”, compartilhou Fabrício.

“Ele colocou uma saia e gravou essa música com muito bom humor, rebolando. E dizia que rebolava que nem a Gretchen, e ele gravaram ali. Ficaram muito felizes com essa gravação. No outro dia, essa fita com essas duas músicas, com essas duas demos, caiu na mão do dono do estúdio, que era o Rick Bonadio. Ele ouviu aquilo e gostou demais daquilo. Já ligou para o Dinho e falou: ‘Vamos fazer um gravar mais música, vamos fazer mais demo. O Dinho topou, mas uma das condições, inclusive, era que ele pudesse mexer na música. Tanto é que a música Robocop Gay ela era mais lenta. O era um rockabilly lento, Mas aí o Rick colocou a mão e deixou com uma pegada mais rock. Foi gravada de primeira. A primeira versão foi aquela que já está no disco”, acrescentou o jornalista.

O papel de Rick Bonadio na evolução da música é enfatizado: “Rick viu o potencial daquela música bruta e ajudou a transformá-la em algo que o Brasil inteiro cantaria”. Com Bonadio, “Robocop Gay” ganhou um novo ritmo, mais enérgico e alinhado ao estilo inconfundível da banda.

O nome da banda também passou por uma transição significativa. De Utopia, eles sugeriram o nome “Mamonas Assassinas do Espaço”. O Rick Bonadio deu risada e sugeriu tirar “do Espaço”. “A escolha do nome ‘Mamonas Assassinas’ foi quase tão emblemática quanto a música em si. Refletia seu humor, sua energia e sua vontade de desafiar o convencional”, observou Mazocco.

“Robocop Gay” não foi apenas uma música de sucesso, segundo o apresentador, foi um fenômeno cultural. “Ela encapsulou uma era, um sentimento de liberdade e irreverência que os Mamonas Assassinas personificavam”, concluiu Mazocco.

Para evitar ‘cancelamento’, produtor consultou LGBTs antes de relançar ‘Robocop Gay’

Confira a letra de “Robocop Gay”:

Um tanto quanto másculo
Ai, com M maiúsculo
Vejam só os meus músculos
Que com amor cultivei

Minha pistola é de plástico (quero chupar-pa-pa)
Em formato cilíndrico (quero chupar-pa)
Sempre me chamam de cínico (quero chupar)
Mas o porquê eu não sei (quero chupar-pa)

O meu bumbum era flácido
Mas esse assunto é tão místico
Devido a um ato cirúrgico
Hoje eu me transformei

O meu andar é erótico (silicone, yeah, yeah, yeah)
Com movimentos atômicos (silicone, yeah, yeah)
Sou um amante robótico (silicone, yeah)
Com direito a replay (silicone, yeah)

Um ser humano fantástico
Com poderes titânicos
Foi um moreno simpático
Por quem me apaixonei

E hoje estou tão eufórico (doce, doce, amor)
Com mil pedaços biônicos (doce, doce, amor)
Ontem eu era católico (doce, doce, amor)
Ai, hoje eu sou um gay!

Abra sua mente
Gay também é gente
Baiano fala: Oxente
E come vatapá

Você pode ser gótico
Ser punk ou skinhead
Tem gay que é Mohamed
Tentando camuflar
Alá, meu bom Alá

Faça bem a barba
Arranque seu bigode
Gaúcho também pode
Não tem que disfarçar

Faça uma plástica
Ai, entre na ginástica
Boneca cibernética
Um Robocop Gay
Um Robocop Gay

Um Robocop Gay
Ai, eu sei, eu sei
Meu Robocop Gay

Ai, como dói!

Assista ao episódio de “Enigmas do Rock” na íntegra:

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