A diretora Leide Jacob apresenta no curta-metragem “São Marino” uma reinterpretação da figura canonizada como santa Marina, tradicionalmente reconhecida pela Igreja Católica, sob a perspectiva de que teria vivido como um homem trans no século VI, no Líbano. Narrado pelo padre Júlio Lancellotti, o projeto provocou reações da Arquidiocese de São Paulo, que emitiu uma nota de repúdio à produção.
A estreia da produção está marcada para 1º de novembro, Dia de Todos os Santos, no canal de Leide Jacob no YouTube. Com 20 minutos de duração, o curta foi finalizado em 2022 e desde então circula em festivais, chegando agora ao público por meio da internet.
Segundo o curta, baseado em releituras históricas, Marino teria se identificado como homem após a morte da mãe, quando passou a acompanhar o pai em um mosteiro exclusivamente masculino. A figura histórica adotou o nome Marino, viveu sob identidade masculina e chegou a ser expulso do mosteiro após ser falsamente acusado de ser pai de uma criança. Após sua morte, a anatomia de seu corpo revelou que ele não poderia ter tido um filho, o que levou a Igreja a canonizá-lo como santa Marina.
A nota da Arquidiocese critica a obra por, segundo a instituição, reinterpretar a vida dos santos com base em ideologias atuais. “A história de santos católicos não pode ser interpretada à luz de ideologias que em nada correspondem com o contexto em que viveram, tampouco com os valores e virtudes por eles testemunhados ao longo de suas vidas”, diz o comunicado.
Para Leide Jacob, o curta propõe um resgate histórico: “A gente traz uma oportunidade de a igreja revisitar esse passado e de recontar essas histórias”. A diretora afirma que a obra não trata apenas de uma questão religiosa, mas da possibilidade de olhar criticamente para o passado e repensar narrativas. “O nosso filme resgata essa vivência do Marino e ressignifica a santa, adotando o gênero masculino: São. A igreja não admite essa experiência ao tratar Marino como Marina”, afirma.
Filmado na Igreja Santa Marina, na zona leste de São Paulo, o curta reúne elenco formado por atores transmasculinos, como Ariel Nobre, Daniel Veiga, Gabriel Lodi, Leo Moreira Sá, Omo Afefe e Rosa Caldeira. A produção é da Filmes de Abril, com apoio do Programa de Ação Cultural (ProAC) do Governo de São Paulo. O roteiro é assinado por Cesar Sandoval Moreira Jr., Fabiana Kelly e Leide Jacob, e a montagem é de Bea Pomar.
A sinopse oficial define a proposta da obra: “Padre Júlio Lancellotti narra a história do Marino, pessoa transmasculine que viveu no século 6, no Líbano, e que, após o seu falecimento, foi canonizado como Santa Marina, considerada, por setores progressistas da igreja católica, a protetora da identidade de gênero”.
“Esse é um filme para todas e todes. Eu não faço filmes para uma bolha mas, sim, para que a pessoa que está assistindo na sala consiga pensar um pouco sobre seu filho, sua filha trans. Eu faço um filme para a família, para que nós possamos chegar às pessoas”, declara Leide Jacob.
Serviço
Estreia do curta-metragem “São Marino”
📅 1º de novembro de 2025 (Dia de Todos os Santos)
📍 YouTube – Canal de Leide Jacob
🔗 https://youtu.be/uNUAyXNUCWQ?si=LPv36WNavi5tLZLJ
🎬 Duração: 20 minutos
Ficha técnica
“São Marino” (Brasil, 2022 — Documentário, 20 minutos)
Direção
Leide Jacob [@leidejacob]
Com
Ariel Nobre, Daniel Veiga, Gabriel Lodi, Leo Moreira Sá, Omo Afefe, Rosa Caldeira, padre Júlio Lancellotti
Participação na exposição do set
Aren Gallo, Cesar Sandoval Moreira Jr., Daniel Rodrigues, Fabiana Kelly, João Godoy, Leide Jacob, Pedro Clash, Rosa Caldeira
Pesquisa e roteiro
Cesar Sandoval Moreira Jr., Fabiana Kelly, Leide Jacob
Consultoria de roteiro
Gustavo Vinagre, Julia Katharine, Leo Moreira Sá
Preparação de ator para personagem Marino
Gilda Nomacce
Coordenação do grupo de discussão
Cesar Sandoval Moreira Jr.
Direção de fotografia
Rosa Caldeira
Fotografia
Rosa Caldeira, Sladka Meduza
1ª Assistência de câmera
Alícia Peres
2ª Assistência de câmera
Giulia Peveralli, Gabriel Arruda
Gaffer
Tatiane Ursulino, Vernal Santos
Assistência de elétrica e maquinaria
Daniel Rodrigues, Pedro Clash, Smiith Y
Gravação da locução
Confraria de Som & Charutos, Daniel Turini, Cauê Shimoda
Som direto
Aren Gallo, Marcelo Grell, João Godoy
Ruídos de sala
Guta Roim
Edição de som
João Godoy
Mixagem – Estúdio JLS
Mixagem: Toco Cerqueira (A3pS)
Assistência: Bruna Machado
Gerente técnico: Daniel Sasso (A3pS)
Gerente geral: José Luiz Sasso (ABC)
Montagem
Bea Pomar
Pós-produção e DCP – Zumbi Post
Colorista: Henrique Reganatti
Edição online: Maria Luisa Tinôco
Atendimento: Fabiana Cruz
Supervisor de pós: Giba Yamashiro
Direção de arte e figurino
Isabella Pereira, João Marcos de Almeida
Desenho gráfico
João Marcos de Almeida
Figurino do Marino
Klaiver Alves
Pinturas e ilustrações adicionais
Cláudio Pastro, Jusepe de Ribera, Tainah Negreiros, Vitoria um milhão
Desenho do cartaz
Nathe
Músicas e trilhas
Luciana Teoro, Joca Vita, All Ice, Shirley Valentina
(Instrumentos: Vinex e Kimani – Gravação: Deck 9 Records)
Música: “Snake”, de Nimrod Nol
Transporte
André, Bárbara Motta, Evandro Cassio, Kleber Rodrigues da Silva, Lucas Tomaz
Versão em inglês
Charles Holmquist, Gabriela Costardi
Produção
Paula Pripas, Filmes de Abril
Coprodução
Ladies
Assistente de direção
Fabiana Kelly
Apoio cultural
Cinevideo, Papaya, Eléctrica
Realização
Prêmio de Incentivo à Produção de Curta-Metragem – ProAC 30/2020
Governo do Estado de São Paulo
Sobre a diretora
Leide Jacob é cineasta, roteirista e produtora cultural. Graduada em Marketing pela ESPM, iniciou sua trajetória na cultura em 1996 como produtora do espetáculo “Ubu”, do Teatro do Ornitorrinco. Durante 14 anos, documentou a produção literária da mãe, que vivia com esclerose lateral amiotrófica (ELA), experiência que resultou nos curtas “Minha poesia” e “Pagar 4 nunca mai$”, premiados internacionalmente.
Atua no audiovisual de forma autoral, escrevendo, montando e dirigindo seus próprios projetos. Em 2022, dirigiu o curta “São Marino”, selecionado para o 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Em 2024, lançou o livro “Laranja Tanajura – meus haikais e outros versos”. Atualmente desenvolve o roteiro do filme “O diário de minha mãe” e mantém um canal no YouTube com filmes, videoartes e documentários.
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