Em 30 de abril de 1971, foi inaugurado o bar “Top Room” no número 2554 da Rua da Consolação, em São Paulo. Embora fosse uma boate, o registro constava como “bar”, pois havia sido recomendado não usar o termo “boate” nos registros de documentos públicos, pois, segundo relatos, para o governo militar seria sinônimo de “antro”.

O estabelecimento, abertamente LGBT+ (na época, “points” frequentados pela comunidade não eram autodeclarados como “LGBT+”) teve sucesso imediato e o nome mudou para “Nosso Mundo”. Durante o primeiro mês, a boate funcionou aos sábados.
A partir do mês de junho, passou a funcionar em dias úteis e fins de semanas sob a autorização expressa do Juiz da Comarca de Cerqueira César, que além de atuar naquela Comarca, era amigo de Condessa Mônica, a CEO da boate, desde os tempos de quando ela advogava. Mais tarde, em homenagem ao amigo juiz, que tinha descendência italiana, a boate passou a se chamar Nostro Mondo. O público “torceu o nariz” em relação ao estrangeirismo, mas acabou acostumando de modo gradativo.

Foto: Angela Davis



A mineira Condessa Mônica (1942 – 1989), até os 30 anos, atuava advogando e chegou a ser oficial de justiça. De família de classe média com ascendência portuguesa, tinha três irmãos, um com parentesco de pai e mãe, e dois do segundo casamento de sua mãe. Radicada no Bairro Cambuci, em São Paulo, aos 12 anos completos conheceu Mônica, uma colega de escola que a defendia do bullying e que se tornou a melhor amiga por toda a adolescência. Aos 18, concluiu o ensino científico e, aos 25 anos, início da segunda metade da década de 1960, formou-se Bacharel em Direito. Em razão de sua profissão, mantinha-se a par das notícias econômicas, políticas e sociais do Brasil e do mundo. Foi ao ter conhecimento dos episódios de repressão no Bar Stonewall Inn, em 1969, que Condessa teve a ideia de criar uma casa noturna para os gays de São Paulo.

A Nostro Mondo se tornou uma das casas noturnas mais populares de São Paulo na década de 1970, rendendo a Mônica o nome artístico de “Condessa”. E foi assim que se consagrou como Condessa Mônica, que também era chamada alternativamente de Condessa da Consolação (em referência ao nome da rua) e Condessa da Nostro Mondo.
Com a quantidade de shows, Mônica se viu na necessidade a contratar diretores artísticos, mas após três contratações, decidiu assumindo também a função de diretora artística da casa. Também atuava descobrindo talentos, circulava nas noites do centro por locais onde havia concentrações dos que ele chamava de “artistas anônimos”. Ainda na década de 1970, a empresária se destacou por performar Amália Rodrigues, Edith Piaf e Miriam Batucada na Nostro.

Condessa também defendeu amigos e frequentadores de sua boate das repressões do Governo Civil Militar. Numa noite de sexta-feira, antes de subir no palco para uma performance, foi levada em regime de detenção ao DEIC, onde permaneceu por 24 horas sob a acusação de desacato à autoridade ao impedir a tentativa de invasão da boate por policiais sob o comando do então delegado José Wilson Richetti.

Solidária, Condessa fazia doações para diversas instituições de caridade e, na década de 1980, quando os primeiros casos de HIV foram diagnosticados em São Paulo, ajudou pessoas estavam sendo rejeitadas pelas famílias. Com Andréa de Mayo e Brenda Lee (ambas já falecidas), promoveu campanhas para a Casa de Apoio Brenda Lee.

Condessa faleceu em 1989 por septicemia e infecção urinária oriundas da síndrome da imunodeficiência adquirida. Após sua morte, a casa foi assumida pelo gerente Hugo Lima e, depois de passar por vários donos, a NostroMondo encerrou suas atividades em 2014, sendo de balada LGBT+ mais longeva da América do Sul, durando 43 anos.

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[…] carreira de ator. Estudou em um grupo de teatro amador onde, através de um amigo, conheceu a boate NostroMondo e decidiu que queria trabalhar […]
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