Na maioria dos campeonatos, milhares de espectadores lotam as arquibancadas para assistir aos jogos da Liga de Futebol Australiano (AFL). E, na maioria dos jogos, é possível ver Sam Gilbert chegar para a partida usando um gorro com as listas do arco-íris.
O jogador, de 30 anos, é da defesa do St. Kilda Saints e simboliza o atleta moderno da liga, consciente da causa igualitária. Ele é hétero e participa das prides e demais festividades todos os anos. “Quero ajudar. Quero ser aliado”.

Em 22 de julho, o St. Kilda fez sua segunda partida num jogo amistoso de sensibilização para a causa. Este é apenas um exemplo de como a AFL – um dos principais campeonatos do mundo em termos de número de público, mais ou menos equivalente ao do beisebol americano – tenta se posicionar como uma força para a inclusão.
De acordo com estimativas, quase metade da torcida é composta por mulheres. Durante os últimos anos a liga introduziu eventos e jogos para aumentar a conscientização sobre o câncer de mama e a causa gay, além de celebrar populações indígenas e multiculturais do país.
Alguns torcedores como James Krstic, do St. Kilda, acha tudo isso um pouco exagerado, argumentando que a liga está envolvida em questões sociais demais. “Esporte é esporte e deve continuar assim”, disse.
Mas o trabalho da liga por políticas LGBTs acontece em um momento no qual o governo australiano está estagnado em relação ao casamento gay, com os legisladores em meio a um debate interminável sobre se o tema deve ser discutido no Parlamento ou por referendo – ou se isso nem deve acontecer. Para alguns ativistas, a AFL se tornou um aliado improvável, mostrando como o esporte pode ser mais rápido que a política.
“Se a AFL fosse um Parlamento, já teríamos resolvido a questão do casamento gay. Não estaríamos tendo essa conversa”, disse Clint McGilvray, que trabalha para um movimento nacional para expandir as leis do casamento da Austrália.
Porém, internamente, a AFL também tem conflitos internos. Incidentes de difamação racial, sexismo e homofobia continuam a manchar a imagem da liga. Recentemente, um jogador bastante popular, que hoje é apresentador, foi acusado de ser transfóbico após se referir a Caitlyn Jenner como “essa coisa” na TV.
Muitos jogadores e torcedores veem a liga – e a própria Austrália – como uma entidade ainda em transição para um futuro incerto.

Até agora nenhum jogador da AFL, atual ou aposentado, saiu do armário, apesar de alguns deles terem certeza que há vários enrustidos. Este ato seria a medida real da mudança cultural.
“A AFL nunca reconheceu que há um problema que precisa ser corrigido. O fato dos jogadores não se sentirem confortáveis para sairem do armário é um reflexo”, disse Jason Ball, um ex-futebolista amador que se tornou o jogador gay mais famoso ao revelar sua homossexualidade, em 2012.
Em uma noite de julho, velhas e novas versões da masculinidade australiana estavam em exposição nos vestiários do St. Kilda. “Nós temos de ter a coragem de ir lá e fazer nosso jogo”, gritou um técnico assistente antes da partida. Os jogadores vagavam pelo vestiário propositadamente, abraçando seus companheiros de equipe um por um.
Não foi um jogo com temática gay, mas na torcida do St. Kilda, pompons enormes, banners gigantes e algumas bandeiras do arco-íris eram sacudidos a cada gol.

“A cultura da liga está mudando. Espero que em breve algum jogador gay saia do armário”, disse Sharon Baynes, antiga torcedora do Saints, usando um cachecol multicolorido.
Shannon Downey, 32 anos, que joga bola desde menino, mostrava-se mais cético. Refletindo uma opinião que é comum entre os torcedores dos Estados Unidos, Downey disse que a consciência social da liga era basicamente uma estratégia de negócios. “Está se tornando uma farsa com o número de iniciativas que estão impondo. É uma corporação que tenta absorver o mais que pode do mercado”.
Autoridades da liga insistem que o compromisso é real. Eddie McGuire, presidente do Collingwood Magpies, satirizou alguns torcedores e jogadores progressistas com piadas de mau gosto. Mesmo assim, até mesmo ele diz que a liga está à frente da sociedade australiana em relação a questões progressistas. “Apoio a AFL e seus clubes mais do que qualquer outra instituição neste país, igrejas, políticos, partidos, empresas, universidades, todas elas. Isto aqui é totalmente verdadeiro”, disse ele.
Muitos jogadores, torcedores e autoridades dizem que a evolução da liga em termos de da causa não pode ser compreendida sem que primeiro se reflita sobre sua história cheia de minorias.
Em abril de 1993, a mãe de Nicky Winmar, jogador aborígene do St. Kilda, recebeu insultos racistas da torcida dos Magpies. Quando o jogo terminou, com a vitória do Saints, ela levantou sua camisa olhando para a multidão enquanto apontava para sua pele. Esse acabou sendo um momento decisivo para o campeonato. Dois anos depois, uma regra que proíbe a difamação racial foi introduzida. Mas, desde então, houve inúmeros incidentes racistas. Para Winmar, a AFL está no caminho certo para acabar com suas segregações. E o jogo amistoso para a causa gay representa um divisor de águas. “É fantástico dizer às pessoas que elas estão a salvo para ser quem são, para atingir seu potencial, é uma coisa importante”, disse em uma entrevista por telefone.
Gilbert do St. Kilda disse que no campo a cultura já tem mudado. Ele afirmou que as provocações homofóbicas hoje são raramente ouvidas, até mesmo inexistentes. Os legisladores australianos continuam a debater o casamento gay, mas para a AFL, o uso do bandeira arco-íris é cada vez mais o caminho a ser seguido.
Em Melbourne, pouco depois que Gilbert chegou com seu gorro de arco-íris, uma família entrou no elevador no Etihad Stadium. Lá dentro, entre a mãe e o irmão mais velho, um menino de não mais de cinco anos também usava um gorro do orgulho gay. Nele estava escrito: “É assim que eu quero ser”.

Com informações no New York Times
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