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Erick Cardoso (PSOL), de 22 anos, concorre a deputado estadual em Santa Catarina. Não binário, o candidato nasceu em Criciúma (SC) e é estudante de Gastronomia. Vegetariano e ecossocialista, Erick iniciou sua militância mais sólida ainda no movimento estudantil.

Erick Cardoso, candidato a deputado estadual pelo PSOL de SC (Foto: Reprodução/ Facebook)

A falta de representatividade de pessoas negras e LGBT+ na política, foi um dos motivos que levaram Erick a disputar uma vaga como deputado estadual. “Santa Catarina é um estado que evidentemente não superou os resquícios da escravidão, da colonização e da ditadura militar. Somos o único estado do Brasil que não possui NENHUM deputado estadual negro eleito, dentre os 40 parlamentares”, afirma o candidato.

“Quando a discussão é sobre agroecologia, sustentabilidade, população LGBTQUIAPN+, é fácil constatar que não temos pessoas qualificadas trazendo esse debate para dentro da ALESC. Decidi me candidatar pra levar as vozes que estão aqui fora gritando por seus direitos pra dentro da Câmara Legislativa Estadual”, acrescenta Erick.

Dentre suas propostas, o estudante diz que a sua candidatura tem como foco o combate às violências estruturais causadas à comunidade LGBT+. “Propomos o fortalecimento de entidades públicas e privadas parceiras que trabalham pela garantia da efetivação de direitos da população LGBTQUIAPN+, com foco principal em Conselhos, Associações e ONG’s”, pontua Erick, que é um dos entrevistados no especial “Eleições 2022” do Gay Blog BR.

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Erick Cardoso (Foto: Reprodução)

Confira na íntegra a entrevista com Erick Cardoso

GAY BLOG BR: Qual a sua formação e trajetória profissional?

Erick Cardoso: Me formei no ensino médio na E.E.B. Luiz Tramontin em 2017, onde também fui presidente do Grêmio, líder de classe e membro do Conselho Escolar. Logo após, cursei dois anos da graduação em história na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), onde iniciei minha militância mais sólida no movimento estudantil, principalmente através do CALH (Centro Acadêmico de História) e do DCE Luís Travassos. Em Florianópolis, trabalhei como atendente, cozinheiro, recepcionista e feirante, comercializando cucas veganas, produzidas na minha cozinha. Durante a pandemia, retornei ao sul do estado, iniciando a graduação em Gastronomia pela UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense) e em Nutrição pela UNIASSELVI (Centro Universitário Leonardo da Vinci), trazendo ao foco da atuação as discussões sobre segurança, soberania e dignidade alimentar. Em 2021, iniciamos a construção da primeira horta comunitária de Forquilhinha, através de parceria com o Fórum Popular da Natureza, movimento socioambiental de caráter anticapitalista. Nos últimos anos, participei de atividades, discussões, eventos, congressos, oficinas e projetos que trazem à luz a necessidade do acesso à alimentação adequada em quantidade e em qualidade pra toda a população, utilizando a Agroecologia como principal ferramenta de transformação social e educação ambiental e alimentar. 

GB: O que motivou a se candidatar?

Erick: A falta de representatividade de pessoas negras e/ ou LGBTQUIAPN+ (com N, incluindo as não binaries) dentro do cenário político nacional, estadual e regional me é, e sempre foi, motivo de bastante preocupação. Santa Catarina é um estado que evidentemente não superou os resquícios da escravidão, da colonização e da ditadura militar. Somos o único estado do Brasil que não possui NENHUM deputado estadual negro eleito, dentre os 40 parlamentares. Quando a discussão é sobre agroecologia, sustentabilidade, população LGBTQUIAPN+, é fácil constatar que não temos pessoas qualificadas trazendo esse debate para dentro da ALESC. Decidi me candidatar pra levar as vozes que estão aqui fora gritando por seus direitos pra dentro da Câmara Legislativa Estadual.

GB: Quais os desafios enfrentados ao ser uma candidatura abertamente LGBT+?

Erick: A orientação sexual na sociedade brasileira pós-colonização vem acompanhada de um conjunto de esteriótipos e pré-conceitos, que inferiorizam, desrespeitam e, em muitos casos, ferem à vida de pessoas LGBTQUIAPN+. É notório que nossa comunidade precisa lutar muitas vezes mais pra ocupar o lugar que eles tradicionalmente ocupam, porque precisamos provar constantemente que somos e podemos, facilmente, ser mais eficientes, creatives e honestes do que homens brancos e repletos de heteronormatividade. Também ocorre uma constante necessidade de “provar” que nossa dor existe, que nosso país é o que mais mata pessoas da nossa comunidade e que nosso movimento é legítimo. É preciso mostrar que nossas vivências são reais e isso só pode ser visto que alguém estiver mostrando.

GB: Quais são as suas principais propostas? Há pautas exclusivamente para LGBT+? 

Erick: Dentre as minhas principiais propostas estão: A criação de um fundo de investimento para hortas comunitárias dentro de entidades públicas de ensino, como as escolas estaduais. Deve-se qualificar a comunidade para o mantimento das mesmas, através de cursos técnicos e oficinas extracurriculares com temas voltados para os principais eixos temáticos da: Agroecologia; Sustentabilidade e Bioconstrução. 

Nossa candidatura tem como foco o combate às violências estruturais causadas à comunidade LGBTQUIAPN+, por isso, propomos o fortalecimento de entidades públicas e privadas parceiras que trabalham pela garantia da efetivação de direitos da população LBTQUIAPN+, com foco principal em Conselhos, Associações e ONG’s. Focando na criação de um Conselho de Direitos LGBT+.

GB: Quais medidas você acredita serem necessárias para combater a LGBTfobia?

Erick: No atual sistema, não vejo outra maneira senão elegendo pessoas LGBTQUIAPN+ que pautem os direitos da nossa comunidade. Precisamos discutir a construção de políticas públicas junto de lideranças e representantes dos movimentos pela diversidade. Juntes, podemos criar projetos, investimentos e estruturas que favoreçam a integração da comunidade LGBTQUIAPN+ do nosso estado, obrigando o estado a se responsabilizar pelo fomento à cultura do ódio e da intolerância à diversidade. Os três poderes precisam trabalhar de forma com que os direitos ditados pela Constituição Federal sejam efetivados e garantidos pelas leis e orçamentos que regem o nosso Estado.

GB: O que você pensa sobre o uso e políticas da PrEP?

Erick: Apesar de não vivermos nos piores momentos da história protagonizados pelo HIV e a AIDS, praticamente todos os países do mundo registam anualmente altos números de infecção pelo vírus. No Brasil, esse vírus atinge em maior parte, a juventude, mas está presente em muitas pessoas de outras idades que se relacionam sem preservativo ou se expõe à situações de risco e não costumam realizar testagem de ISTs periodicamente. O Brasil é referência mundial no tratamento de HIV/AIDS no mundo, oferecendo gratuitamente todo o tratamento e acompanhamento profissional necessário para pessoas que convivem com o vírus. Em alguns países, esse tratamento pode custar alguns salários mínimos, em reais. O uso de PREP é fundamental na redução dos números de infectados pela doença, mas tem sido divulgado e incentivado de forma muito errônea pelos governos nos últimos anos. Essa deve ser uma política nacional com grande investimento público, abrangendo o incentivo ao uso da medicação principalmente dentro de entidades de convívio mútuo, como escolas, universidades, clubes e associações. Ainda assim, é essencial manter e fortalecer os atuais mecanismos de prevenção do HIV, como o uso de preservativos e o uso de PEP, em caso de situação de risco. 

GB: Como você avalia o governo de Bolsonaro?

Erick: Um governo catastrófico, que produziu mais de 19 milhões de famintos, matou mais de 600 brasileiros por conta do seu negacionismo em relação às vacinas, entregou nossas riquezas naturais para o agronegócio e os madeireiros e garimpeiros ilegais. Ele colocou em risco à vida de todos os povos indígenas do país, enfraquecendo os órgãos que defendem essas comunidades e destituindo órgãos de fiscalização. É triste para o Brasil, um país que, apesar de todas as sequelas deixadas pela colonização, cultiva muita diversidade cultural e riquezas na biodiversidade, e mais triste ainda que esse sentimento de falso patriotismo tenha tomado a mente de boa parte da classe trabalhadora de forma com que a bandeira nacional tenha adquirido partido e orientação político partidária, mais uma vez. Tenho esperança de que, juntes, derrubaremos esse crápula, que tanto mal causou em tão pouco tempo à população brasileira.

Confira a lista de candidaturas LGBTQIA+ de 2022 neste link.

Lista de candidatos LGBTQ+ nas eleições 2022 | Deputados, Senadores, Governadores




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Jornalista gaúcho formado na Universidade Franciscana (UFN) e Especialista em Estudos de Gênero pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)