Julia Silveira (PSOL), de 26 anos, concorre a deputada estadual no Paraná. Pansexual e moradora de Curitiba (PR), ela é professora de Português da rede estadual. Sua trajetória profissional e militante iniciou na universidade, com o movimento estudantil.
“Sou uma mulher, LGBTQ+, classe trabalhadora e oprimida pelo sistema. Me candidato pela primeira vez para representar as pessoas que dividem pensamentos comigo, como por exemplo o fim da exploração capitalista e uma vida plena e livre”, declara a candidata.
Sua candidatura gira em torno de quatro eixos principais: educação, pautas LGBT+, representatividade de mulheres (cis e trans) e moradia. “Acredito que uma candidatura abertamente LGBTQ+ se faz necessária, especialmente neste período em que vivemos, para que nossos direitos sejam ouvidos pela sociedade”, afirma a candidata.
“Como deputada estadual eleita irei focar meus esforços para melhorar a situação do desamparo de LGBTQ+”, acrescenta a jovem, que conversou com o Gay Blog BR para o especial “Eleições 2022“.

Confira na íntegra a entrevista com Julia Silveira
GAY BLOG BR: Qual a sua formação e trajetória profissional?
Julia Silveira: Minha trajetória profissional e militante começou na universidade, com o movimento estudantil, quando tive contato com o coletivo universitário LGBTQ+, o Coletivo Plurais. Também participei de diversas entidades estudantis na universidade, como o DCE da UTFPR, no campus Curitiba, no qual eu defendia a diversidade e a educação pública.
Em 2018, tive o prazer de ter um artigo aprovado e apresentado no maior congresso de educação superior do mundo, o ‘Congreso Internacional de Educación Superior UNIVERSIDAD’, que acontece em Havana-Cuba. Esse artigo se propôs a avaliar como os projetos de extensão das universidades federais no estado do Paraná abordavam as pautas LGBTQ+.
Depois disso, entrei para o PSOL e comecei a militar ajudando os movimentos de moradia em Curitiba e região metropolitana, colocando a mão na massa, construindo casas, cavando fossos e dando aulas nas ocupações sempre que possível.
Ao mesmo tempo em que eu militava pelas causas que acredito, estagiei na Biblioteca Pública do Paraná, fui editora de livros e, finalmente, comecei a dar aulas na rede estadual de ensino, como professora PSS (Processo seletivo simplificado). Como professora do estado, alocada em regiões periféricas, pude confirmar as más condições e o sucateamento da educação, às quais toda a comunidade escolar (pais, alunos, professores…) está sujeita.
GB: O que te motivou a se candidatar?
Julia: Minha motivação vem muito da minha trajetória de vida. Sou uma mulher, LGBTQ+, classe trabalhadora e oprimida pelo sistema. Me candidato pela primeira vez para representar as pessoas que dividem pensamentos comigo, como por exemplo o fim da exploração capitalista e uma vida plena e livre.
GB: Quais os desafios enfrentados ao ser uma candidatura abertamente LGBT+?
Julia: Acredito que uma candidatura abertamente LGBTQ+ se faz necessária, especialmente neste período em que vivemos, para que nossos direitos sejam ouvidos pela sociedade. Bem sabemos que candidatos que falam sobre sua orientação sexual tendem a perder votos, a sofrer mais violências de ódio destinado a nós, entre tantas outras ameaças que vivenciamos. Minha candidatura vem da coragem que eu carrego em mim! Em não mais me calar, mas sim falar por mim e por tantes outres.
GB: Quais são as suas principais propostas? Há pautas exclusivamente para LGBT+?
Julia: Minha candidatura gira em torno de quatro principais eixos: educação, pautas LGBTQ+, representatividade de mulheres (cis e trans) e por moradia para todes.
Defendo uma ampliação do atendimento no SUS à pessoas trans, que no estado do Paraná se mostra insuficiente. Acredito na urgência da necessidade de programas de moradia que tenham como preferência no atendimento mulheres e população LGBTQ+, que são historicamente uma parcela da sociedade economicamente mais frágil, devido a estruturas machistas impostas a nós todes pelo capitalismo. Além disso, o fomento à criação de programas que gerem empregos para LGBTQ+ como garantia de uma melhor qualidade e expectativa de vida desta população.
GB: Quais medidas você acredita serem necessárias para combater a LGBTfobia?
Julia: A LGBTfobia é um problema estrutural, o que significa dizer que esse preconceito faz parte do sistema político e econômico que vivemos. Esse sistema é o sistema capitalista! Portanto, as opressões ajudam o capitalismo a sobreviver, pois é necessário que alguns grupos sejam marginalizados para que outros estejam no topo da pirâmide.
A LGBTfobia, por exemplo, é necessária para o capitalismo para manter o poder político e econômico nas mãos de alguns poucos homens brancos cis héteros e ricos. Portanto, o combate à LGBTfobia deve andar em conjunto à luta anticapitalista.
Por isso, precisamos começar a combater a LGBTfobia enquanto nos preparamos para esta nova sociedade. Para isso, a população LGBTQ+ precisa ter a garantia de acolhimento dentro da educação pública e particular, além da ampliação de seu atendimento no SUS e garantia de acesso à moradia e emprego. Enquanto o capitalismo for o sistema em que vivemos, a LGBTfobia não terá fim.
GB: O que você pensa sobre o uso e políticas da PrEP?
Julia: Acredito que quando falamos sobre o uso da Profilaxia Pré-Exposição não cabe muito debate em relação ao seu uso e/ou eficácia. Como professora, sou pró-ciência, isso significa que como civil ou como deputada estadual eleita, usarei minha voz e visibilidade para ampliar o acesso à PrEP. Para isso, são necessárias ações de divulgação em massa deste procedimento, além de disponibilizar o tratamento em mais municípios e, na impossibilidade disso, proporcionar o trânsito dos pacientes até locais que forneçam a PrEP.
Usarei minha voz para tentar quebrar estigmas que são acoplados em preconceito, muitas vezes LGBTfóbicos, quanto ao uso desse medicamento.
GB: Como você avalia o governo de Bolsonaro?
Julia: Um governo que fechará o mandato com mais de 600 mil mortes decorrentes de uma má administração e manejo da questão pandêmica a qual o mundo foi exposto em 2020, onde 15,5% da população brasileira está passando fome, sendo que se analisarmos outros graus de insegurança alimentar, esse número salta para quase 60% da população. Quando falamos em desemprego, o percentual de brasileiros sem renda é de quase 10%, além da destruição de direitos trabalhistas que afeta aqueles que estão empregados. Sem contar os casos de corrupção, e sigilos centenários… Bem, para qualquer pessoa com senso crítico é quase inviável responder a essa pergunta sem dizer que muito provavelmente estamos vivendo o PIOR GOVERNO QUE O BRASIL JÁ VIU.
GB: Como seus eixos envolvem moradia e questão LGBT+? Como você acredita que pode melhorar a qualidade de vida e o acesso à moradia desta população?
Julia: Atualmente, as políticas públicas de atendimento e acolhimento à população LGBTQ+ deixam a desejar. Sabemos que os LGBTQ+ estão mais propensos a sofrer com o abandono familiar e expulsão de casa, o que faz com que estas pessoas fiquem em situação de rua. Como deputada estadual eleita irei focar meus esforços para melhorar a situação do desamparo de LGBTQ+. Isso significa criar espaços para acolher essas pessoas, além de defender a prioridade para que consigam ingressar em programas de casa própria e emprego, por exemplo.
Acredito que um mundo mais justo e livre é possível, e para isso conto com o apoio de vocês para criar uma Assembleia Legislativa do Paraná mais inclusiva, representativa e socialista.
Confira a lista de candidaturas LGBTQIA+ de 2022 neste link.
Lista de candidatos LGBTQ+ nas eleições 2022 | Deputados, Senadores, Governadores
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