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Wallace Terra, 32, vive uma vida dupla, durante o dia trabalha como assessor de planejamento na Prefeitura de Niterói no Rio de Janeiro, a noite o figurino masculino muda radicalmente para a um vestido curto, salto alto, maquiagem nada discreta e uma barba por fazer, dando lugar ao seu alter ego WQueer.

"Eu tenho que falar da realidade das bichas com o funk que é a nossa arte"
Reprodução

Nascido numa comunidade carente, o bullying era algo presente na vida de Wallace, não apenas por ser afeminado mas também por ser gordinho. A paixão pela música, fez com que ele criasse há cinco anos o projeto musical que investe no funk mas que também planeja transitar por outros estilos musicais.

Em uma entrevista realizada por telefone, WQueer fala sobre diversos assuntos, inclusive sobre política, em que descreve o momento atual como um caos.

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Quando começou a sua carreira musical?

WQueer: Começou profissionalmente no ano de 2015.

Você nasceu em uma comunidade carente em Niterói no Rio de Janeiro, no Morro do Bumba, como foi a sua infância?

Como de qualquer criança de favela, com muita dificuldade no quesito financeiro e com algumas questões familiares as quais hoje já superei, mas que foram bem difíceis. Estudante de colégio público vivenciar a descoberta da minha sexualidade e vivenciar as dificuldades financeiras  e as desigualdades que eu sempre percebi foi complicado, mas me formaram a pessoa que sou hoje.

Ainda sobre isso, sabemos que a violência é algo recorrente nas comunidades cariocas, como você lidava com isso aliado a sexualidade, bullying?

Na época da minha infância na favela onde eu morei não tinha tanta expressão de violência tão descarada no que se refere ao tráfico… essas coisas. Mas a violência era bem mais visível na questão da violência doméstica (marido e mulher), (pai e filho). O bullying eu sempre vivi, por ser gordinho, ser já bem ‘molhada’ (afeminada), eu tinha que provar sempre minha possível masculinidade era uó. Só me assumi aos 17 anos e já não morava no Bumba (barreira) eu já morava na Florália no Caramujo e lá eu era desconhecido e como assumido eu já não me permitia ser julgado.

Então de certa forma o preconceito sempre fez parte da sua vida, isso ainda acontece?

Nossa muito, do meu pai, a diretora de colégio era terrível. Apelidos piadinhas era muito difícil e nos dias atuais não diminuiu não, só se reconfiguram porque eu também mudei, enfrento, aí os homofóbicos passam a ter mais trabalho para ofender, mas não desistem, ainda sofremos muitos ataques.

Como você descreve o seu estilo musical?

Sou um bixa  cantora! Canto o que me move… funk, pop, pagode, brega, paredão… canto e amo música periférica.

"Eu tenho que falar da realidade das bichas com o funk que é a nossa arte"
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Você é formado em Serviço Social, por que este curso?

Sim e sou apaixonada… (risos) Esse curso veio para mim não como primeira opção, eu queria fazer artes, mas na necessidade de ter um trabalho com registro, busquei algo que me trouxesse satisfação. E o Serviço Social me trouxe isso, ser um profissional voltado aos interesses da classe trabalhadora.

O termo “Queer” em uma das traduções quer dizer ‘viado’, não considera pejorativo a palavra?

Não! Considero necessário! Quanto mais assumirmos papéis que usam para nos menosprezar e ressignificarmos estaremos nos fortalecendo.

Você já declarou que prefere ser chamada de ‘cantora-bicha’ do que cantora drag, por que?

Justamente pela ressignificação do termo e por entender que me construo artisticamente trazendo debates periféricos e ser bicha é ser periférica é se colocar como algo que usaram pra te desmerecer e você vai se coloca como sua marca, é um tapão né (risos).

As possíveis comparações com a cantora Pabllo Vittar te incomoda? Ela foi uma inspiração pra você?

Ela é um nome muito expressivo na nossa cena e valorizo muito o trabalho dela e me inspiro, mas me identifico artisticamente mais com a Gloria Groove, Linn da quebrada, MC Xuxu, Urias etc.. mas deixo bem colorido que amo o trabalho da Pabllo ela é ícone!

"Eu tenho que falar da realidade das bichas com o funk que é a nossa arte"
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Você usa roupas femininas, maquiagem pesada porém manteve o corte de cabelo curto e barba por fazer, como você descreveria a sua imagem, o seu visual?

Queer! Indefinido! É a imagem que te faz pensar!

O Wallace e o WQueer são muito diferentes?

Em algumas coisas sim! Wallace é mais inseguro, mais frágil. Porém é a mente estratégica por trás da W. A W é muito pra frente, não tem limites pra ela. Não se assusta, não aceita menos de tudo (risos), louca e certeira.

Como você analisa o atual momento político? E de que forma isso te afetou profissionalmente?

Um caos! Gente são erros em cima de erros. Não existe a possibilidade de não fazermos  uma análise de conjuntura e percebemos que mesmo com erros nas outras gestões hoje vivemos a incoerência, intolerância e a arrogância em níveis astronômicos. Eu de verdade não sei dissertar de forma específica a não ser que seja a barbárie.

Você gravou um clipe bastante ousado e com poucos recursos no morro do Portugal Pequeno região central de Niterói/RJ. Como foi a repercussão desse vídeo? Soube que ele bombou em visualizações.

(Risos)…então foi uma loucura! Mas eu tive amigos fundamentais para a realização. O meu produtor pessoal na época foi fundamental porque ele conseguiu o espaço e organizou tudo que eu imaginei junto com o diretor (risos) tadinho, foi uma loucura. Tive a ajuda dos parceiros da Uniteve, das pessoas do diretor Matheus Bizarrias e o Rafael Saar que fizeram um trabalho ímpar. Sobre visualizações, gente não bombou como sonho ainda mais estamos caminhando para o reconhecimento.

A sua música de trabalho chamava-se “Poc Não Tem Mimimi”, como você definiria essa expressão?

Que as bichas que não se escondem, as de verdade não tem tempo ruim. Fazem mesmo!!!

O funk é um estilo musical bastante digamos machista. Você ouviu críticas ou ataques por parte dos MC’s?

Não, muito pelo contrário, sempre ouço que eu tenho mesmo que falar da realidade das bichas com o funk que é a nossa arte! 

"Eu tenho que falar da realidade das bichas com o funk que é a nossa arte"
“Eu tenho que falar da realidade das bichas com o funk que é a nossa arte”

Com quem gostaria de fazer uma parceria musical? 

Eita!! Gloria Groove, Tati Quebra Barraco, Valesca, Mc Xuxu, Mc Carol de Niterói, Mc Rebecca, Iza, Lele, Pepita… enfim.

Quem são suas inspirações musicais?

Gente eu escuto muita coisa!! Mas da cena LGBT brasileira seria a Gloria que reúne muitas coisas que me inspiram e Liniker. No geral, Alcione, Mariene de Castro, Iza, Anitta, Ludmilla aí são muitas (risos).

Sendo assistente social e também uma artista, como você analisa a cultura e a área social no Brasil neste momento?

Ambos estão se reinventando, mas é notório que vive a beira da morte com o descaso e a falta de investimento.

Você pretende permanecer no funk ou tem planos de investir em outros gêneros como pop, rock, dance etc?

Eu vou cantar o que eu amo ouvir e o que fizer meu público curtir. Só em ter a oportunidade de uma bicha poder ter minha voz ouvida tô feliz a beça! Não sou de me prender, mas gente não há como deixar de fazer funk! Só você olhar os artistas de nome hoje, cantam tudo, mas não deixam de trazer um funk ou algo com alguma referência.

"Eu tenho que falar da realidade das bichas com o funk que é a nossa arte"
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Quais são seus próximos projetos?

Tá pra sair um reggae pop que tô mega feliz de ter feito. Vem mais um funk bapho com a parceria de duas cantoras maravilhosas a afeminada Plus e Pretabee. Com produção  da minha mana A travestis.

E como ta sendo flertar com o reggae-pop após ter começado a carreira no funk?

Desafiante, mas eu comecei a cantar samba de raiz e fui fazer carreira no funk então tô aí mesmo pra fazer o que me emociona e passar as minhas verdades.

Veremos o WQueer na parada gay de São Paulo este ano? Se ela de fato acontecer.

Olha… seria meu maior sonho cantar na Parada LGBTQIA+ de SP e a do Rio que eu também ainda não tive a chance!! Mas trabalhando duro como venho e com muita fé nos meus orixás já já eu consigo (risos).

Para acompanhar:

Instagram: @wqueeroficial
Facebook: WQueerOficial




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