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2023 tem sido um ano de virada de página para Bruno Fagundes. Em janeiro, o ator virou assunto nas redes sociais ao se declarar ao namorado Igor Fernandez, abrindo mais publicamente o fato de ser gay. Após a mídia explorar a declaração de todos os modos possíveis, inclusive colhendo depoimentos do pai Antônio Fagundes, Bruno entrou em outra reta interessante: passou a se dedicar aos ensaios e estreia de “A Herança”, peça LGBTQIA+ em que contracena com Reynaldo Gianecchini.

Lançado em março, o espetáculo foi um dos sucessos recentes em São Paulo, com sessões esgotadas e muita repercussão. Agora, em setembro, a peça chega ao Rio de Janeiro repleta de expectativas sobre como irá ser refletida pelo público carioca.

Bruno Fagundes - Foto: João Fenerich
Bruno Fagundes – Foto: João Fenerich

Por áudios de WhatsApp, Bruno conversou com o GAY BLOG BR sobre o enredo de “A Herança”, a troca com Gianecchini e os desafios da comunidade LGBTQIA+ no Brasil:   

“A Herança” fala sobre as mudanças de Eric. Quais delas você já viveu ou que tem muita semelhança com a história do Bruno?

- BKDR -
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Acho que não, acho que eu nunca vivi algo parecido com o que o Eric tá passando na peça. Ele tá sendo despejado, numa relação bastante turbulenta, porque seu companheiro está acendendo a fama de uma forma bastante meteórica e deslumbrada. Acho que nunca vivi algo parecido não.

Você e Reynaldo surpreenderam a mídia ao declararem as respectivas suas orientações sexuais. Como foi se aproximar dele por terem essa mesma repercussão da exposição? 

Foi como aproximar de qualquer outra pessoa do elenco, é uma relação que profissionalmente é muito tranquila, muito estável, muito boa, muito proveitosa. A gente se reúne toda semana com intenção de fazer o melhor que a gente pode para apresentar a peça da melhor maneira.

O que “A Herança” significa na sua vida e carreira?

Essa peça significa muito para mim, porque esse projeto é meu, então, acho que engrenar um projeto, é um trabalho bastante intenso de geral negócio mesmo: de tomar conta, de observar e investigar e analisar diariamente. Quais são as forças? Quais são as fraquezas e as oportunidades do trabalho? Eu tenho feito isso, pelo menos, há cinco anos com essa peça, então ter uma peça dessa que é realização minha com personagem que eu admiro tanto, tenho tanto prazer em fazer, ainda mais me provando nesse lugar, como ator produtor ou um ator que é realizador e que concretiza o projeto é muito importante. Me coloca em um lugar extremamente, que fico feliz assim comigo mesmo, eu fico me sentindo muito realizado, porque eu sinto que gero oportunidade para mim mesmo e é isso que eu tô fazendo.

Como está a expectativa para a temporada do espetáculo no Rio? Acha que pode ter algum outro tipo de retorno do público por serem cidades bem diferentes?

A gente tá muito ansioso com a temporada carioca, porque, sim, é praticamente como estrear a peça em outro país, porque é outra cultura, outra forma de se comunicar, outra forma de elaborar o teatro, né? O público aqui em São Paulo foi um público extremamente curioso e assim interessado de uma forma até que nos surpreendeu muito. A gente foi muito surpreendido por ingressos que foram vendidos antecipadamente e no Rio está sendo diferente: o público tá meio que redescobrindo o espetáculo, meio que descobrindo a peça pela primeira vez, na verdade. Então, tem sido muito interessante, mas a expectativa é altíssima. Eu acho que o público carioca vai gostar muito da peça.

Bruno Fagundes - Foto: Reprodução/Instagram
Bruno Fagundes – Foto: Reprodução/Instagram

Como se sente após a exposição do namoro e de ser gay? Como foi essa quebra de barreira de forma mais ampla pelas redes sociais?

Eu acho que, em termos práticos, não mudou muito. A minha vida continua a mesma, eu sou a mesma pessoa que eu sempre fui. Eu nunca vivi uma vida paralela, eu nunca escondi isso do meu círculo íntimo e pessoal. Eu nunca deixei de me posicionar abertamente e de forma bastante contundente no meu Instagram, não fazia isso de forma diferente como eu faço agora no sentido de que, mesmo sem falar abertamente sobre minha sexualidade, eu advogava a favor da causa LGBTQIA+ e falava o tempo todo, lutava o tempo todo. Enfim, em função das pautas e não só essa, mas todas as outras, então em termos práticos não mudou nada, mas em termos pessoais mudou tudo. É um conforto que antes ficava sempre, no fundo da cabeça, assim, uma certa preocupação, uma sensação de que tinha algo que deveria ser escondido e agora esse algo não existe mais. Então, isso traz conforto, traz conforto na própria pele, traz uma certa alegria e uma paz de espírito, principalmente, que acho que antes eu não tinha tanto.

Como tem visto a questão da representatividade LGBT+ após a mudança de governo?

Eu acho que a questão da representatividade, obviamente, a gente estava vivendo um governante com cultura e com uma agenda homofóbica bastante clara, bastante declarada e isso mudou, mas eu acho que o Estado ainda a iniciativa de estado ainda para cultura especificamente ainda é muito frágil. É muito fraca. Eu acho que toda aventura cultural, que acontece no nosso mercado, é uma iniciativa pessoal, alguém que, por exemplo, como eu pegou, esse projeto e falou: ‘Eu preciso fazer isso. Eu preciso contar essa história’. Para isso, nós precisamos ouvir essas histórias, nossa cidade precisa ouvir essas histórias e arregaçar as mangas para ir atrás de forma de viabilizar. Então, eu não acho que é que a mudança de governo não transformou tudo, de uma forma que agora. A gente está numa fase melhor, não, a gente ainda continua lutando pelos nossos direitos, lutando pelo direito de existir, lutando pelo direito de que as nossas histórias sejam contadas. Eu vejo muito que o teatro ainda é uma iniciativa pessoal. Então, eu espero que outras iniciativas pessoais surjam a partir dessa e que cada vez mais a gente continue tendo a capacidade de fazer projetos que falem sobre temática LGBT+.

O Brasil é um país homofóbico? Como vê a questão da homofobia? 

Essa pergunta é absurda de responder, porque o Brasil ainda é o país que mais mata travestis e pessoas LGBTQIA+ no mundo, então essa pergunta não tem nenhum sentido. Óbvio, o Brasil é um país extremamente homofóbico, machista e estruturado dessa forma. Eu não sou cientista político, eu não consigo dizer quais são os passos que tem que ser dados para diminuir a homofobia, mas eu acho que eu posso falar por mim mesmo e posso entender a minha função social do meu trabalho e o que eu acredito para mim como artista, eu acredito para mim, como sendo um artista, é: reflexão, educação e troca, conversa. E é exatamente isso que eu tô fazendo com a minha peça, eu decidi produzir essa peça também por isso, porque ela tem um potencial de comunicação muito grande e ela pode sim tocar em assuntos que talvez de outra forma, a gente não conseguiria fazer. Se eu fosse fazer uma palestra sobre isso, não ia ter o mesmo impacto. Se eu fosse fazer um uma roda de conversa, não seria o mesmo impacto como o que a gente tem visto em “A Herança”. Então, acho que a arte tem essa função, de tocar nesses assuntos que por vezes são considerados espinhosos para a sociedade e tem a função de, a partir disso, criar transformação. Então, eu não consigo dizer, a nível federal, o que é que precisa ser feito, mas eu acho que eu consigo responder por mim: eu acho que o teatro, especialmente, fazer arte já é um bom passo para a gente ter uma sociedade menos violenta, mais inclusiva ou, pelo menos, uma sociedade mais empática.

Além de “A Herança”, pensa em fazer outros projetos LGBT+? Isso é prioridade de carreira? Ou personagens interessantes?

Na verdade, eu nunca escolho projetos pelo tema, especialmente em teatro. Essa já é minha quarta produção: eu já produzi comédia, uma peça sobre artes plásticas, outra sobre deficiência auditiva e agora estou produzindo uma peça que fala sobre as existências LGBTQIA+. Então, assim, na verdade, não, eu o tempo todo vou advogar em favor da pauta e acho que isso é extremamente necessário por um milhão de razões, acho que especialmente porque isso pessoalmente algo que me atinge, que me que me toca, então eu vou continuar sempre lutando, incentivando e correndo atrás para melhorar políticas para projetos LGBT+, mas não é nenhuma prioridade. Não é assim a primeira coisa que eu penso. Eu penso, na verdade, em fazer bom teatro, boas novelas, bons filmes e se, por acaso, a gente conseguir através desses projetos tocar nesse assunto, eu acho melhor ainda e fico muito orgulhoso de poder estar fazendo isso com essa peça, porque o público senta lá para ter um bom momento para se divertir e sai de lá com um arsenal imenso de informação para pensar e refletir a respeito. Então, eu acho que a minha função mesmo como artista é essa e é o que eu vou continuar fazendo. Eu não sei qual vai ser o próximo assunto, mas se for, que seja uma outra peça gay tão boa quanto.




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