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As bandeiras arco-íris penduradas na frente dos bares e restaurantes de Tel Aviv chegam a estar desbotadas pelo tempo em razão de permanecerem o ano inteiro bem estendidas e visíveis a luz do dia. “Qualquer lugar em Tel Aviv é friendly, é quase um ato de homofobia não levantar a bandeira arco-íris”, conta Sergei Nederga, ucraniano que vive na cidade e trabalha para o Ministério do Turismo de Israel. E, de fato, há mais bandeiras arco-íris por Tel Aviv do que em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro.
Aos olhos etnocêntricos ocidentais, pode parecer contraditório que Israel, tido como conservador, avance nas questões LGBTQIA+. Talvez não seja “contraditório” a definição ideal; quem sabe “ambíguo”, onde coexistem LGBTs e religiosos ortodoxos que não vivem do atrito e confronto entre si. De maioria judaica, é de desejar que a sociedade tenha avançado com alguns princípios, como as Leis de Lashon Hará, da Torá (“É proibido falar negativamente sobre outra pessoa, mesmo se for verdadeiro), com cada um vivendo sua própria vida e propósito.
Desde 1988, o parlamento de Israel aboliu o código penal contra a homossexualidade, ainda que nunca aplicado, e avança progressivamente com leis e direitos igualitários. “É uma força que não tem como parar”, comemora o parlamentar abertamente gay Yorai Lahav-Hertzano (33).

“O código penal contra a homossexualidade era resquício do mandado britânico”, lê-se em um arquivo da Wikipedia. “Quando Israel declarou independência em 1948, o Estado havia herdado o sistema jurídico britânico, onde o Código Penal considerava crime relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Mas já em 1950, o Procurador do Estado, Dr. Haim Cohen, deu ordens aos tribunais para não investigar ou processar pessoas gays”, ressalta um documento disponibilizado pela Embaixada de Israel no Brasil.

As conquistas foram contínuas: já em 1992, foi implementada em Israel a Lei de Igualdade e Oportunidade de Emprego contra a discriminação por orientação sexual no ambiente do trabalho. Em 1993, além de acontecer a primeira Parada do Orgulho de Tel Aviv, o exército israelense também proibiu discriminação contra soldados e oficiais LGBTs.
“A comunidade LGBTQ+ ainda enfrenta obstáculos, mas tivemos muitas conquistas significativas aqui em Israel. A terapia de conversão foi completamente banida, os homens gays agora podem doar sangue e a barriga aluguel para casais homoafetivos também foi legalizada. 2022 houve um tremendo suporte para a comunidade LGBTQ+”, completa Ron Huldai, prefeito de Tel Aviv-Yafo.

“Oásis gay” ou “Meca gay” do Oriente Médio, ambos termos são antonomásias cabíveis para Tel Aviv, um dos únicos destinos da região onde há uma cena LGBTQIA+ existente como aos moldes do Ocidente. E é em meados de maio que a programação do Orgulho LGBTQIA+ de Tel Aviv começa oficialmente – e o Ministério do Turismo de Israel não mede esforços para trazer turistas LGBTs do mundo todo para prestigiar uma série de eventos, entre eles tardes temáticas nas praias, raves só para mulheres, balada para a gays na terceira idade e uma vasta programação nas boates e bares da cidade. Neste ano, celebridades como Bianca Del Rio e Chelseaboy participaram dos eventos pré-parada.
“E não é só o clima de Tel Aviv que é quente”, falava-se em um coquetel para jornalistas no terraço do Brown Brut, hotel parceiro oficial da Pride israelense. Junho é tido como um dos melhores meses para se visitar a cidade, tendo o tempo firme, poucas nuvens, temperatura média de 29º e o mar próprio para banho, com aproximadamente 25 graus.


Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Tel Aviv
Sob o tema “Back to Pride” (“De Volta Ao Orgulho”, em livre tradução), no último 10 de junho, cerca de 170 mil pessoas participaram da Parada LGBTQIA+ em Tel Aviv que, neste ano, teve novo itinerário. Com concentração por volta das 10h próximo ao Sportek, na Zona Norte da cidade, um palco apresentava artistas locais e trazia autoridades do país com discursos pró-diversidade. “Aqui, há muitos gays em cargos importantes. Aliás, abertamente gays, pois há aqueles que ainda não saíram do armário”, conta Sergei Nederga.
No gramado, cerca de dez tendas vendiam souvenirs temáticos e distribuíam informações sobre organizações LGBTs. Uma barraca era dedicada à venda hambúrgueres e bebidas não alcoólicas, sem filas. Diferentemente dos eventos de rua do Brasil, vendedores ambulantes não são permitidos, logo, se faz necessário levar bastante água, algo comestível e um protetor solar para se usar a cada duas horas. Bônus para roupas leves, bonés e leques.
Ao meio-dia, após a apresentação do cantor Stephane Legar, os trios já estavam na Rokach Boulevard para seguir o trajeto até o parque Ganei Yehoshua, um caminho de aproximadamente 40 minutos andando. Os caminhões usados como trios não são altos como os que se usam na Parada de SP, permitindo uma maior visualização e interação de artistas e gogo-boys com público. A maioria das músicas tocadas durante o itinerário são conhecidas: Lady Gaga, Beyoncé e Shakira, por exemplo. Entre os andarilhos, muitos turistas e simpatizantes com uma felicidade genuína; explico: mesmo sendo permitido ingerir bebida alcoólica nas ruas de Israel, não se via ninguém “artificialmente alegre” pelo consumo de cerveja ou destilados.

Ainda que seja o evento LGBTQIA+ mais aguardado do Oriente Médio, é bastante tranquilo estar na multidão sem empurra-empurra típico de eventos populares. É seguro também para levar celular e carteira sem precisar temer por possíveis furtos. Para participar da marcha, todos precisam passar por uma revista e, a cada 20 metros do percurso, jovens militares permaneciam em alerta para evitar qualquer tipo de ameaça ao público.
Chegando ao parque Ganei Yehoshua, dois palcos foram montados para receber as principais atrações musicais do evento, como a rapper australiana Iggy Azalea, o semifinalista do Eurovision Michael Ben David e DJs locais. E, sim, neste ponto final havia cerca de cinco barracas vendendo bebidas, entre chopp e destilados, aceitando cartão de crédito.
Aplicativos de relacionamento funcionam perfeitamente tal qual imaginamos, mas não se sinta intimidado para fazer novas amizades à moda antiga durante o evento. As pessoas da cidade são receptivas e gostam de conversar. E decore algumas gírias LGBTs de Tel Aviv:
Lard (ou Liard) = boy magia
Yachti = irmã (no sentido figurativo)
Leharim / Tarimi = festejar
Wedge = rosto
Pa-tuch = uma maneira de dizer “tchau”
A próxima edição da Parada de Tel Aviv já tem dada marcada: acontecerá na sexta-feira, 09 de junho de 2023.

Tel Aviv, uma festa à parte
Quando começam os eventos oficiais da Parada LGBTQIA+, em maio, Tel Aviv já se encontra com seu clima pré-verão e extensa programação. Não há superlotação, filas ou espera; é tudo sempre imediato, o lazer é urgência e o turista LGBT+ é bem tratado. “Todo o mundo está em Tel Aviv por alguma razão diferente, mas todos estão tendo sempre um prazer em estar aqui” – assim Sergei Nederga apresenta a cidade de Israel.

Banhada pelo Mar Mediterrâneo, a cidade, que se enfeita com bandeiras arco-íris pelas principais avenidas, faz jus à sua etimologia: “aviv” é “primavera” em hebraico, que simboliza renovação, e “tel” é um sítio arqueológico que revela camadas de uma civilização construída sobre a outra. “E aqui, em Jaffa, temos um dos primeiros portos do mundo, onde muitas pessoas desembarcaram nesses milhares de anos para tentarem reconstruir suas vidas. Eu mesmo vim para cá reconstruir a minha vida”, conta Nederga.
Jaffa, que hoje tido como um bairro ao sul de Tel Aviv, foi uma antiga cidade portuária de mais de 3000 anos que, segundo relatos, teria sido fundada por Jafé, filho de Noé. Atualmente, o “centro histórico” é agraciado pelas diversas galerias e pela vida noturna.


Fala-se inglês na maioria dos estabelecimentos e os pratos são bem servidos. A gastronomia é variada, Sergei explica que a maioria das receitas são adaptações de culinárias de outras culturas. Mas saborear o suco de romã no Carmel Food Market e provar o homus em algum restaurante próximo ao Flea Market são experiências que criam o melhor souvenir: a memória olfativa. Os aromas dos ambientes são um turismo à parte.



Outro hotspot conhecido por turistas LGBTs em Tel Aviv é a praia do hotel Hilton, onde o lugar se enfeita com bandeiras arco-íris e hospeda tardes temáticas, com música eletrônica, por exemplo. É possível chegar à praia com scooter, que pode ser locada facilmente através de app.


Tel Aviv também se destaca na arquitetura com mais de 4000 prédios construídos ao estilo Bauhaus, já que muitos adeptos da extinta escola, perseguida e fechada pelo partido nazista, se mudaram para a cidade. Há, inclusive, o The Bauhaus Foundation para ser visitado gratuitamente, próximo ao Parque Meir. O parque Meir, vale dizer, foi o o primeiro ponto de encontro informal de LGBTQIA+ em Israel e nele, atualmente, está sendo construido um centro para a comunidade LGBTQ+ e um memorial dedicado às vítimas LGBTs do Holocausto. O centro deve ser inaugurado ainda este ano.

Com pouco mais de uma hora está a cidade de Jerusalém e o Mar Morto. As possibilidades são inúmeras; no país, de tudo há: de neve a deserto, de SPA a uma boa noitada. As histórias de Israel são muitas e o destino convida você a fazer a sua.







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