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Travesti e bissexual, Nina Rosa Lía, mais conhecida como Nina Espaguete (PCB) é candidata a deputada federal em Minas Gerais. Moradora de Belo Horizonte (MG), ela tem 21 anos, é estagiária e estudante de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em conversa com o Gay Blog BR, Espaguete falou sobre seus ideais e trajetória política no especial “Eleições 2022“.

Espaguete, candidata a deputada federal pelo PCB em MG (Foto: Reprodução/ Twitter)

A decisão de sua candidatura, conforme explica Espaguete, foi feita pelo PCB, partido ao qual ela constrói junto aos demais coletivos em que milita. “Eu decidi aceitar entendendo a necessidade de colocar no debate público as questões mais concretas da população LGBT+, em especial da população de pessoas trans e travestis, no que tange ao acesso a direitos básicos que já deveriam ter sido assegurados para todas as pessoas, mas não é realidade, em especial para nossa população”, afirma a candidata.

Suas pautas estão direcionadas a população LGBTQ+, como o direito à moradia, “através da criação de casas de acolhimento e capacitação para pessoas vítimas de violência doméstica” e a “destinação de verbas para construção de lavanderias, creches e refeitórios públicos, universalização do acesso ao PREP/PEP e também dos medicamentos da terapia hormonal, educação sobre sexo, gênero e sexualidade na educação básica”.

“Mas também entendo a necessidade de superar essa desigualdade, defendo medidas como cotas para pessoas trans e travestis em concursos públicos e universidades bem como políticas de permanência da educação básica até a graduação”, pontua a candidata a deputada federal.

Espaguete (Foto: Reprodução/ Facebook)

GAY BLOG BR: Qual a sua formação e trajetória profissional?

Nina Espaguete: Ensino superior incompleto e trabalhei basicamente no mercado informal, quase sempre fora da minha área de estudo, a geografia.

GB: O que motivou a se candidatar?

Espaguete: A decisão da minha candidatura foi feita pelo Partido Comunista Brasileiro, o qual eu construo juntamente com demais coletivos em que milito. Eu decidi aceitar entendendo a necessidade de colocar no debate público as questões mais concretas da população LGBT+, em especial da população de pessoas trans e travestis, no que tange ao acesso a direitos básicos que já deveriam ter sido assegurados para todas as pessoas, mas não é realidade, em especial para nossa população. Nesse sentido falo principalmente do acesso à moradia digna, um SUS totalmente público e que atenda às necessidades dessa população de forma integral até o acesso básico a ser chamado pelo próprio nome e andar sem correr o risco de ser assassinado.

GB: Quais os desafios enfrentados ao ser uma candidatura abertamente LGBTQ+?

Espaguete: No meu caso, sinto que além de ser uma bixa travesti bissexual, o que me garante já uma boa dose de transmisogínia vindo da extrema direita como das radfem principalmente, também se soma a isso o fato que eu defendo até as últimas consequências a emancipação das pessoas LGBTQ+, o que faz com que seja necessário tocar em temas como o da família. Porém, entendo a história do movimento LGBTQ+, eu entendo que a nossa luta jamais poderia ser confortável e agradável para as pessoas se não ceder em conquistas, afinal vivemos em uma sociedade que baseia estruturalmente a opressão e subjugação da nossa comunidade. Sendo assim, um pouco de desconforto daqueles que se opõem ao avanço das LGBTQ+ vale a pena para que possamos construir uma luta com a radicalidade necessária(radical de ir a raíz do problema) para superar esse sistema.

GB: Quais são as suas principais propostas? Há pautas exclusivamente para LGBTQ+?

Espaguete: Tenho pautas que estão direcionadas a população LGBT+ e algumas que inclusive acabam abarcando outros grupos de pessoas, porque no final do dia muitas de nossas pautas não se referem somente a nós. Direito à moradia por exemplo, através da criação de casas de acolhimento e capacitação para pessoas vítimas de violência doméstica, destinação de verbas para construção de lavanderias, creches e refeitórios públicos, universalização do acesso ao PREP/PEP e também dos medicamentos da terapia hormonal, educação sobre sexo, gênero e sexualidade na educação básica.

Mas também entendo a necessidade de superar essa desigualdade, defendo medidas como cotas para pessoas trans e travestis em concursos públicos e universidades bem como políticas de permanência da educação básica até a graduação. 

GB: Quais medidas você acredita serem necessárias para combater a LGBTfobia?

Espaguete: Para além de um grande debate público e da organização dessa população em conselhos e entidades representativas locais, também é preciso criar reformas estruturais que permitam o fim da LGBTfobia na prática cotidiana. Políticas de empregabilidade, moradia aliadas a uma incorporação de uma formação antiLGBTfóbica nos currículos de todos os profissionais com a finalidade de incluir e receber essa população LGBT que vai ser incorporada na sociedade em uma dinâmica menos desfavorável.

Sem dúvidas, o exemplo de Cuba nos últimos 30 anos é algo que pode muito nos inspirar no sentido de criar uma sociedade verdadeiramente antiLGBTfóbica e é por isso inclusive que eu reivindico o socialismo como único horizonte consequente para as LGBTs que querem combater todas as opressões.

GB: Como você avalia o governo de Bolsonaro?

Espaguete: O governo Bolsonaro representa nacionalmente uma tradição fascista que já existe há muito tempo na nossa burguesia e, internacionalmente, serviu muito bem para o processo de reorganização do capitalismo internacional e da dominação do Brasil pelo imperialismo, notadamente pelos Estados Unidos. Bolsonaro traz não somente um retrocesso em tudo o que diz respeito aos direitos de mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTs, PCDs e para os direitos trabalhistas, mas também um alinhamento na política externa nunca antes visto, nem mesmo durante o período da ditadura militar, com os Estados Unidos.

Mas se Bolsonaro é essa derrota que ele é para o povo brasileiro, e para as LGBTs em especial, ele não carrega essa culpa sozinho e devemos dizer denunciar em alto e bom som aqueles que fazem frente ampla com o fascismo para retirar direitos, nenhum é aliado. Os militares que mamam como nunca na teta do governo, os ministros de Bolsonaro,  o agronegócio e até aquelas instituições que vez ou outra trocam farpas com o executivo como é o STF e o grosso do Congresso Nacional e Senado.

A verdade é que nenhum desses que citei cabe a nós LGBTs defender. Nossa defesa é das nossas, das LGBTs e dos trabalhadores que lutam junto a nós, numa perspectiva classista e revolucionária.

Confira a lista de candidaturas LGBTQIA+ de 2022 neste link.

Lista de candidatos LGBTQ+ nas eleições 2022 | Deputados, Senadores, Governadores




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Jornalista gaúcho formado na Universidade Franciscana (UFN) e Especialista em Estudos de Gênero pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)