Minas Gerais tem como uma de suas candidatas ao senado a professora de Educação Física Sara Azevedo (PSOL). Moradora de Belo Horizonte (MG), ela é lésbica e tem 37 anos. Há 15 anos na política, engajou no movimento estudantil assim que entrou na universidade e, logo, se filiou ao PSOL.
Essa não é a primeira vez que Sara é candidata. Em 2016 e 2020, concorreu a uma vaga na Câmara de Belo Horizonte. Em 2014, disputou as eleições como candidata a deputada federal e a vice-governadora em 2018. “Aceitei a indicação para concorrer a senadora neste ano, porque acredito que devemos aumentar a representatividade no Senado”, afirma.

Entre os desafios de ser uma candidata abertamente lésbica, ela diz que está em transmitir “que as candidaturas de grupos minorizados representam o interesse da sociedade como um todo, que a nossa luta é a luta de todo mundo”. “Acho que seja um problema não só das LGBTs, mas de todas as candidaturas que vêm de grupos minorizados”, declara.
Na última segunda-feira (29), Sara se reuniu com integrantes da comunidade LGBTQ+ no comitê da campanha, onde pautou 14 compromissos. “Entre eles está a proposição de uma lei para instituir uma cota para pessoas trans nos quadros de pessoal das empresas. Também me comprometi a apresentar programas que visem a permanência de jovens LGBT+ nas universidades e institutos federais”, conta.
No que diz respeito ao combate à LGBTfobia, a candidata diz que a maneira mais eficaz a qualquer outro tipo de discriminação é através da educação. “Temos que investir em uma educação pública que seja emancipadora, que consiga não apenas passar o conteúdo do vestibular, mas que relacione as disciplinas com o mundo externo às escolas”, afirma.
Sara é uma das entrevistadas da semana no especial “Eleições 2022“, e conversou com o Gay Blog BR sobre sua trajetória política, propostas, além de abordar temas como a LGBTfobia, PrEP e a fome no Brasil.

Confira na íntegra a entrevista com Sara Azevedo
GAY BLOG BR: Qual a sua formação e trajetória profissional?
Sara Azevedo: Eu sou formada em Educação Física pela UEPA (Universidade do Estado do Pará). Eu me mudei para Belo Horizonte (MG) em 2010 para tentar a vida como professora. Nos primeiros meses, trabalhei como atendente de telemarketing enquanto me preparava para o concurso do Estado. Depois consegui ser aprovada na seleção pública e me tornei professora da rede estadual.
Em 2016, colaborei com a Prefeitura de Contagem (MG). Lá, participei da equipe do projeto “Comunidades Educadoras”, que foi reconhecido pela UNESCO como uma das iniciativas em prol da Educação mais bem sucedidas do mundo. Também fundei e coordenei a Rede Emancipa aqui no Estado de Minas Gerais. Esse projeto oferece cursos de idiomas e pré-vestibular para jovens de periferia de Belo Horizonte, Ibirité, Manga, Montes Claros, Pouso Alegre e Uberlândia.
GB: O que motivou a se candidatar?
Sara: Estou há 15 anos na política. Engajei no movimento estudantil assim que entrei na universidade e logo me filiei ao PSOL. Sou uma das fundadoras do Juntos!, coletivo de juventude, e do Juntas!, coletivo feminista. Também já fui conselheira fiscal do PSOL Nacional e presidente do PSOL-MG. Atualmente, sou vice-presidente do PSOL-MG e diretora técnica da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (uma instituição de formação política do PSOL).
Tenho trajetória na atuação institucional da política. Creio que seja um caminho natural que o partido aposte em mim. Essa não é a primeira vez que me candidato, já concorri a uma vaga na Câmara de BH, em 2016 e 2020; disputei como candidata a deputada federal em 2014 e a vice-governadora em 2018.
Aceitei a indicação para concorrer a senadora neste ano, porque acredito que devemos aumentar a representatividade no Senado. Essa é a casa legislativa com maiores poderes na República, pode contribuir muito para a adoção de políticas que tenham como objetivo melhorar a vida das populações de Minas e do Brasil.
GB: Quais os desafios enfrentados ao ser uma candidata abertamente LGBTQ+?
Sara: Acredito que o principal desafio é romper com a crença de que falamos apenas para dentro da nossa comunidade. Acho que seja um problema não só das LGBTs, mas de todas as candidaturas que vêm de grupos minorizados.
Isso é uma barreira não só para estourar a nossa bolha, em relação ao eleitorado, mas também dentro dos partidos. O PSOL é uma exceção dentro desse universo. É raro vermos siglas que tenham dirigentes ou que suas principais apostas sejam de grupos minorizados. Nossas campanhas costumam ser tratadas como identitarismo vazio, que segue uma lógica de “moda”, em que se investe no grupo cuja agenda esteja em voga em determinado momento.
O desafio está em transmitirmos que as candidaturas de grupos minorizados representam o interesse da sociedade como um todo, que a nossa luta é a luta de todo mundo. Batalhamos pela união das pessoas e não por seu isolamento. Queremos uma sociedade mais solidária, empática e justa. É por isso que estamos aqui, ocupando os espaços políticos.
GB: Quais são as suas principais propostas? Há pautas exclusivamente para LGBTQ+?
Sara: A minha principal proposta é a taxação de grandes fortunas. Já há no Congresso, desde 2011, um projeto de lei que propõe essa medida, de autoria da Luciana Genro (PSOL-RS). No entanto, o texto ainda segue em apreciação e, desde 2021, está parado na mesa diretora da Câmara.
E sim, fiz um programa político exclusivamente para a população LGBT+. Nesta segunda (29), me reuni com integrantes da comunidade LGBT+ no comitê da campanha e tiramos 14 compromissos. Entre eles está a proposição de uma lei para instituir uma cota para pessoas trans nos quadros de pessoal das empresas. Também me comprometi a apresentar programas que visem a permanência de jovens LGBT+ nas universidades e institutos federais.
Também é um de meus pilares o compromisso com a Educação. No Senado, serei uma voz em prol do aumento do orçamento para a educação pública e para o desenvolvimento de projetos que garantam o acesso a todos os estágios da educação para a população. Vivemos em um tempo em que é necessário reforçarmos a nossa soberania enquanto Estado-Nação. E o primeiro passo para isso é qualificar e emancipar as pessoas.
GB: Quais medidas você acredita serem necessárias para combater a LGBTfobia?
Sara: Os preconceitos, de maneira ampla, são uma questão de ordem moral. Ou seja, não partem de uma concepção individual, simples recusa do convívio com grupos de pessoas diferentes. É um problema sistêmico, que existe por uma razão social. Não é mero acaso. É através dessa dinâmica que a sociedade é desmobilizada, que a população se divide e que impede a união das pessoas. Perde-se a solidariedade e a empatia, sobretudo.
Assim, a maneira mais eficaz de combate à LGBTfobia, ao racismo, ao machismo, ao capacitismo e a qualquer outro tipo de discriminação é através da educação. Temos que investir em uma educação pública que seja emancipadora, que consiga não apenas passar o conteúdo do vestibular, mas que relacione as disciplinas com o mundo externo às escolas.
Não aprendemos matemática ou história à toa. Existe uma razão para que isso seja ensinado às pessoas. O objetivo é dar autonomia a elas, é permitir-lhes pensar sobre as coisas, guiar-se sem a orientação de outra pessoa. A escola deve ser a prioridade número um do Estado. É na escola que aprendemos a respeitar o outro. É o primeiro local em que nos inserimos em um contexto social de fora da nossa casa e da nossa família. É onde vamos criar boa parte de nossa autoimagem e ter contato com o novo.
Por outro lado, é importante termos assegurado constitucionalmente o nosso direito à existência. É importante adicionar no inciso IV do artigo 3º da Constituição, que diz sobre as responsabilidades da República, a promoção do bem de todos sem preconceitos de orientação sexual e identidade de gênero. Esse deve ser um compromisso do Estado.
Além disso, é importante criar uma lei que trate especificamente sobre crimes motivados por LGBTfobia. Há de se refletir melhor os contextos em que a LGBTfobia é praticada. Só assim conseguiremos calibrar a punição correta para esse tipo de violência. A equiparação ao racismo não é ideal, pois são questões que têm origens diferentes e formas de expressão distintas. Além disso, permanece sendo tratado como um crime de baixa gravidade.
GB: O que você pensa sobre o uso e políticas da PrEP?
Sara: Eu vejo como um avanço da saúde pública, apesar de ainda não ser a forma ideal de erradicar o HIV. Até que tenhamos uma vacina eficaz contra a doença, o tratamento preventivo pode auxiliar na contenção da disseminação do vírus. A questão é que o PrEP exige disciplina na realização do tratamento, barreira que seria superada com uma vacina, por exemplo. Outro ponto é que, mesmo que os benefícios sejam maiores, o PrEP pode provocar alguns efeitos colaterais a longo prazo, como a sobrecarga de alguns órgãos, como os rins.
Uma grande falha nessa política de saúde preventiva é a comunicação para a população. É observado um retorno do costume de ter relações sexuais desprotegidas, principalmente entre os homens gays mais jovens. Deve haver uma comunicação oficial intensa para a orientação das pessoas, há de se explicar que o PrEP previne apenas a infecção por HIV, mas que diversas outras ISTs permanecem sendo evitadas somente com o uso de camisinha. É possível, por exemplo, contrair Hepatite B e, a depender do tempo para identificação do vírus, desenvolver uma doença crônica — o que implicaria em fazer tratamento medicamentoso pelo restante da vida e, em alguns casos, deixar de ingerir álcool.
GB: Como você avalia o governo de Bolsonaro?
Sara: É um governo que atua em benefício próprio. Bolsonaro foi ineficiente em todos os aspectos, somente se importou com seus interesses eleitoreiros e de perpetuação de sua família na política. A verdade é que ele é um inepto, que se atrapalha até quando age em interesse próprio ou de seus cupinchas. Bolsonaro representa o atraso, o ódio e a política coronelista.
GB: Cerca de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil atualmente. Como senadora, o que pode fazer para mudar esse quadro?
Sara: Em um primeiro momento, é necessário garantir a permanência do Auxílio Brasil no valor de R$ 600 e derrubar o seu prazo de validade. A renda básica é um mecanismo importante para reduzir as desigualdades sociais no curto prazo e movimentar a economia.
No entanto, para solucionar o problema da miséria é preciso mais. O Estado deve garantir o acesso a bens e serviços básicos através de políticas que incentivem o emprego digno, que fortaleça a educação pública desde a base até o ensino superior, além de reforçar o SUS e as políticas de assistência social.
Como senadora, poderei articular ou participar de movimentos que tenham tais objetivos. O acesso às emendas parlamentares também permite que eu sugira o encaminhamento de verbas para obras públicas e programas sociais.
Confira a lista de candidaturas LGBTQIA+ de 2022 neste link.
Lista de candidatos LGBTQ+ nas eleições 2022 | Deputados, Senadores, Governadores
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