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Professora e historiadora, Sued Carvalho (UP) disputa uma vaga a deputada federal pelo Ceará. Mulher trans e bissexual, a candidata tem 27 anos e mora em Juazeiro do Norte (CE). Em entrevista ao Gay Blog BR no “Especial Eleições 2022“, ela falou sobre sua trajetória política e propostas.

Sued Carvalho, candidata a deputada federal pelo UP do Ceará (Foto: Divulgação)

Formada em História pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Sued trabalhou e estudou durante toda a graduação. “Ministrei aulas em escolas particulares, assim como fui professora substituta durante o período da graduação, pouco antes da colação de grau passei em um concurso para professora estadual, cargo que exerço desde 2018“, conta a candidata.

Politicamente engajada e militante da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), desde 2017, a jovem associa a luta das mulheres trans às dos trabalhadores em geral. “Minha candidatura é marcada pela independência de classe, sou trabalhadora, uso SUS, ando de transporte público e não receberei um centavo sequer de empresários. Quero lutar por um país melhor para os trabalhadores”, afirma Sued.

Estou na rua para defender um país melhor para a classe trabalhadora e, especialmente, para as mulheres trans trabalhadoras e não irei abaixar minha cabeça, irei travar o combate, algo que é importante politicamente, pois outras candidaturas de esquerda evitam tocar nessa temática por temer perder eleitores”, acrescentou a candidata.

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Sued Carvalho (Foto: Divulgação)

 

GAY BLOG BR: Qual a sua formação e trajetória profissional?

Sued Carvalho: Sou formada em História pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e atualmente sou professora de ensino médio da referida disciplina. Trabalhei e estudei durante toda a graduação, pois sou oriunda de família pobre. Ministrei aulas em escolas particulares, assim como fui professora substituta durante o período da graduação, pouco antes da colação de grau passei em um concurso para professora estadual, cargo que exerço desde 2018.

 GB: O que motivou a se candidatar?

Sued: Na região do Cariri ajudei, junto a outros companheiros e companheiras, a fundar meu Partido, a Unidade Popular pelo Socialismo (UP), coletamos assinaturas, inserimos fichas no sistema do TSE e as levamos até os cartórios eleitorais, portanto sou politicamente engajada e militante da minha organização desde 2017. Minha principal motivação para a candidatura foi a revolta com a situação na qual encontra o Brasil e meu cansaço com essa política de conciliação de classe, onde os trabalhadores são obrigados e obrigadas a ficar com as migalhas do banquete dos ricos. Minha candidatura é marcada pela independência de classe, sou trabalhadora, uso SUS, ando de transporte público e não receberei um centavo sequer de empresários. Quero lutar por um país melhor para os trabalhadores: Moradia gratuita entregue para o povo, educação 100% pública e gratuita, 100% da verba estatal para Universidade destinada para instituições públicas, reforma agrária popular, etc. Tudo isso é possível!

Outra motivação para minha candidatura foi a importância, na minha concepção, de associar a luta das mulheres trans às dos trabalhadores em geral. Os ataques a nossos direitos como a reforma trabalhista, da previdência e a PEC 95, que congela gastos públicos por vinte anos, afeta especialmente as mulheres trans, que já são excluídas do mercado de trabalho e marginalizadas. Revogar essas medidas é essencial para que possamos pautar medidas afirmativas que garantam emprego e assistência especializada e esse grupo, do qual faço parte.

GB: Quais os desafios enfrentados ao ser uma candidata abertamente LGBTQ+?

Sued: Evidentemente a hostilidade em alguns locais, desde o início da candidatura escutei zombaria, ameaças de morte, etc. Contudo estou na rua para defender um país melhor para a classe trabalhadora e, especialmente, para as mulheres trans trabalhadoras e não irei abaixar minha cabeça, irei travar o combate, algo que é importante politicamente, pois outras candidaturas de esquerda evitam tocar nessa temática por temer perder eleitores. Nós não. Fui lançada candidata, eu e meus companheiros e companheiras estamos na rua de cabeça erguida defendendo um Brasil mais justo e igualitário, sem medo de perder votos de reacionários, votos que, digo tranquila, não nos fazem falta, desagradá-los para nós é um privilégio, não estamos do mesmo lado.

GB: Quais são as suas principais propostas? Há pautas exclusivamente para LGBT+?

Sued: A Unidade Popular pelo Socialismo defende a maior participação direta dos trabalhadores e trabalhadoras na política, assim sendo essa é minha principal bandeira. Caso eleita, pretendo organizar assembleias populares nas cidades cearenses para que possamos decidir, em conjunto, para onde irão as emendas parlamentares que eu vier a receber no cargo. Acreditamos que a população residente dos bairros de nossas cidades é que sabem onde estão os principais problemas a ser resolvidos.

Outra bandeira importantíssima é a defesa da educação 100% pública. Sou professora e sou diretamente afetada por medidas como a reforma do ensino médio e a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), portanto defendo profundas reformas no campo, dentre elas: Reforma popular do ensino médio, Nova BNCC popular, dar poder deliberativo para o Conselho Nacional de Educação, garantindo maioria para as representações sindicais e estudantis e proibir investimento estatal na educação privada.

A questão LGBT, especificamente a luta das mulheres trans, é importantíssima para nossa campanha, defendemos medidas afirmativas que garantam a empregabilidade dessas pessoas, cotas para mulheres trans em todas as Universidades Públicas e um programa nacional de saúde especializada para atender a esse público, garantindo tratamento 100% gratuito e de qualidade. Todas essas medidas só serão possíveis com a revogação da reforma trabalhista e da PEC 95, entendemos, portanto, essas lutas como integradas.

GB: Quais medidas você acredita serem necessárias para combater a LGBTfobia?

Sued: A mais importante, atualmente, é lutar pela revogação dos projetos de lei aprovados em diferentes Estados e Municípios que proíbem a discussão sobre diversidade, a qual chamam pejorativamente de ideologia de gênero, nas escolas. Na construção de uma sociedade que lide melhor com as diferenças o papel da escola é indispensável.

Acredito que a convivência é uma das melhores formas de superar preconceitos, pois é capaz de desconstruir estereótipos e sensos comuns maléficos, portanto defendemos medidas afirmativas que garantam a empregabilidade de pessoas LGBT e sua permanência nos espaços que antes eram fechados a elas, como as Universidades e pós-graduações, por exemplo.

Da parte das próprias pessoas LGBT eu acredito que a organização política é importantíssima, integrar-se a Coletivos, movimentos sociais e Partidos de esquerda é essencial, afinal quem fará essa transformação senão as trabalhadoras e trabalhadores LGBT? Não podemos apenas esperar que esse mundo, que sempre nos oprimiu, nos entregue o que desejamos. Só a luta muda a vida.

GB: O que você pensa sobre o uso e políticas da PrEP?

Sued: Sou favorável a Profilaxia Pré-Exposição associada a outras formas de prevenção. Recentemente houve uma polêmica que associou o uso das PrEP’s ao abandono da camisinha, considero isso algo irresponsável. A PrEP é mais uma maneira de tornar o ato sexual ainda mais seguro entre pessoas não portadoras de HIV e portadores do vírus, possibilitando uma vida mais saudável para o casal. São necessárias amplas campanhas de conscientização sobre essa e outras estratégias de prevenção.

GB: Como você avalia o governo de Bolsonaro?

Sued: Eu e meu Partido avaliamos o governo fascista do crápula Jair Messias Bolsonaro como o pior governo da História de nosso país. Através da omissão e da corrupção é responsável por mais de 600 mil mortes por Covid-19, o fim dos estoques regulatórios de alimentos para beneficiar os latifundiários causou a maior alta de alimentos dos últimos trinta anos, lançando 33 milhões de brasileiros na miséria e na fome, sem falar na destruição da Amazônia e na normalização da invasão de terras indígenas pelo garimpo ilegal, que o fascista Bolsonaro apoia e incentiva.

Para as pessoas LGBT foi um governo especialmente cruel, a retórica bolsonarísta legitimou ataques a nosso grupo e os números mais recentes mostram que em 2021 os ataques a comunidade aumentaram 8%, o Ceará passou de segundo a primeiro lugar em mortes de mulheres trans. Tudo está integrado. O governo Bolsonaro legitima e incentiva a violência contra pessoas LGBT. Derrotar Bolsonaro e o fascismo é urgente!

GB: Quais são as dificuldades hoje para mulheres trans acessarem a transição no Brasil?

Sued: O processo de transição hormonal para mulheres trans é caro e complicado. No país que mais mata mulheres trans no mundo, que é o Brasil, essas pessoas raramente encontram apoio de suas famílias, sendo expulsas de casa e sofrendo violências, portanto não tem uma rede de apoio afetivo para passar pelo difícil e, muitas vezes, doloroso processo de transição. Sem acesso a mercado de trabalho regular, muitas são obrigadas a prostituição para sobreviver e completar o processo, comprando bloqueadores de forma irregular e seguindo o tratamento sem acompanhamento, o que pode resultar em efeitos colaterais devastadores.

É urgente garantir para as mulheres trans trabalhadoras, que são maioria, o acesso ao processo de forma segura e 100% gratuita pelo Sistema único de Saúde (SUS), salvaremos muitas vidas e garantiremos para elas a dignidade por tanto tempo negada.

Confira a lista de candidaturas LGBTQIA+ de 2022 neste link.

Lista de candidatos LGBTQ+ nas eleições 2022 | Deputados, Senadores, Governadores




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