A artista paraense Rafa Moreira, em depoimento à revista Piauí, contou como, ao retratar travestis em suas telas, entendeu a própria identidade de gênero. O interesse em pintar esses corpos, surgiu após descer em uma parada de ônibus na BR-316, ponto de prostituição de travestis e mulheres trans em Belém (PA), para entender melhor a vida delas.
Desde então, Rafa começou a retratar o rosto delas em em acrílico sobre tela. A artista não só transformou essas mulheres na temática principal de suas obras, como também se entendeu como uma travesti. “Em 2017, passei a me entender enquanto artista e comecei, inconscientemente, a utilizar a arte para expressar uma coisa que eu não sabia falar ou nomear, essa questão da transexualidade e identidade de gênero. Naquela altura, eu me identificava enquanto viado e ponto. Me neguei durante muito tempo, e essa era uma forma de também me odiar, sentia uma coisa muito ruim dentro de mim crescendo cada vez mais” relata a artista em depoimento à Piauí.

Nascida em 1996, em uma família limitada ao conhecimento de questões de gênero e sexualidade, Rafa cresceu sem muita referência. “O que eu entendia da questão de gênero naquela época era o que meus pais falavam, porque a tevê não mostrava. Crescemos com uma televisão que só mostrava gente branca, cis, e, quando mostrava pessoas trans, era com um fundo de piada ou de objetificação”, conta.
Primeira pessoa da família a entrar em uma faculdade, Rafa é formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e há dois meses está no Rio de Janeiro. Oito obras da artista estão expostas na ArtRio, dividindo espaço com artistas consagrados. Como próximo passo, ela pretende pesquisar e retratar as travestis cariocas. “O percurso na Academia foi libertador pra me entender enquanto pessoa no mundo e enquanto artista”, pontua.

Após entrar em contato com as travestis e retratar esses rostos em telas, Rafa fez uma exposição de seu projeto que trouxe diversas questões internas para ela. “Um garoto trans parou de frente para uma das minhas obras e ficou muito tempo olhando, admirando… Comentei com um amigo, e ele, que conhecia o garoto, disse que talvez ele tivesse gostado tanto porque ele se identificou, já que era trans. Naquele momento tudo ganhou outro sentido. Percebi que estava representando alguém e não estava de coração naquilo” comenta.
A artista também lembra que no Brasil, a grande maioria de mulheres trans e travestis recorrem a prostituição por falta de oportunidades. “Na BR-316, uma das meninas me disse assim uma vez, e guardei essas palavras comigo: “Rafa, você acha que eu escolheria estar aqui passando frio, nesse perigo, fazendo tudo isso? Não. Eu não escolheria, mas ninguém quer dar emprego para travesti, ninguém olha para a gente”, pontua.
De acordo com Rafa, a arte é uma forma de quebrar imaginários que marginalizam corpos trans e travestis. Para ela, essas mulheres precisam estar na história e a suas obras são uma forma de eternizar esse rostos e questionar a hegemonia da sociedade. “Em 2018, fiz um autorretrato me colocando como uma das meninas ali da BR e aquilo foi uma libertação enorme. Comecei a me entender enquanto travesti, ser humano. Hoje não consigo separar ser artista de ser Rafa no dia a dia” contou à Piauí.
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