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Quando a mãe de Sidinei Júnior (22) estava grávida, o médico, ao fazer os exames, disse que estava tendo dificuldade para contar os dedinhos. Para a mãe, foi uma surpresa quando o bebê nasceu sem os braços e pernas.
Sidinei nunca se viu muito diferente de outras pessoas: foi pra escola, andou de skate, fez lutas… A descoberta da sexualidade veio na adolescência, aos 13 anos, quando teve um crush por um menino da escola.

Há três anos, Sidinei namora o comerciário Marco Antônio (53). O casal se conheceu através de um aplicativo de paquera. A independência de Sidinei surpreendeu Marco logo no primeiro encontro em Florianópolis, onde residem. O jovem rapaz sai de casa sozinho, pega ônibus, vai ao mercado, shopping e realiza uma série de tarefas sem precisar de ajuda. Esse lado independente de Sidinei está ligado à forma como ele vê o mundo: “Eu sempre tento ver o lado positivo das coisas”, diz o jovem escritor e youtuber.
O que os médicos disseram para a sua mãe durante a gravidez?
Nasci em 1998, numa cidade do interior do estado (SC), quando ainda não existia ultrassom em qualidades tão boas. A única coisa que informaram para minha mãe sobre minha deficiência foi que estavam com problemas para contarem os dedinhos. O nome médico para minha deficiência é “má-formação congênita dos membros superiores e inferiores”.

Como foi sua infância? Como era na escola?
Na pré-escola criaram uma cadeira com rodinhas para me locomover. Adaptações eram feitas nas escolas. Infelizmente, me mudei bastante de casa e, com isso, de escola. Acabava que em nenhuma das vezes consegui usufruir das adaptações feitas. Inclusive, até brincamos que eu ia passar por todas as escolas da cidade apenas para as adaptações serem feitas para os alunos futuros que pudessem ter alguma deficiência. E, sim, tiveram alguns episódios de bullying e preconceito que sei que me causaram traumas, mas hoje meu ativismo é para que outras pessoas não passem pelo mesmo.
E você foi bastante ativo?
Sim. Tenho uma irmã mais velha sem nenhuma deficiência e sempre fomos tratados igualmente pelos nossos pais e avós – a não ser pelas minhas “necessidades especiais” em locomoção e banho, por exemplo, então nunca me vi como diferente dos outros. Tanto que minha irmã ia na pré-escola, fazia dança, e isso me incentivou a querer o mesmo. No início, minha família ficou um pouco com medo de como eu iria me adaptar, mas acabei insistindo tanto que eles decidiram tentar. Depois da cadeira com rodinhas, decidimos pedir um skate para a minha melhor locomoção, até conseguir uma cadeira de rodas motorizada. Com o tempo, mais tarde, por volta dos meus 8 anos, eu mesmo pedi para fazer aulas de judô pela escola onde eu estudava, junto com a dança, que eu já fazia. E outras atividades físicas devido à minha deficiência, como fisioterapia, hidroterapia e equoterapia.

Com quantos anos você se descobriu gay?
Me descobri gay oficialmente com 13 anos. “Oficialmente” porque sempre senti uma atração por homens, mas nunca me questionei sobre isso, já que também tinha certo crush pelas coleguinhas de escola. Entretanto, com 13 anos, por um colega de escola que foi dormir na minha casa em plena comemoração do meu aniversário, eu comecei a sentir uma atração física muito maior. Primeiro que eu tinha feito recentemente minha cirurgia na coluna, e precisava ficar um tempo deitado, e fui deitar no colo dele. Depois ele me pediu massagem, e ficou acariciando meus braços, até quando eu quis deitar do lado dele na hora de dormir. Pela manhã, quando os pais dele foram buscá-lo, eu comecei a sentir saudades dele quase que imediatamente, não sabia explicar. Foi quando uma amiga minha da época, que era bissexual assumida, me questionou se talvez eu não fosse gay e estivesse apaixonado por ele. E foi a primeira vez que me confrontei e me questionei sobre isso. Desde então, nunca mais senti nada romanticamente por mulheres; apenas por homens.

Você conheceu o seu namorado através de um aplicativo de paquera, como foi o primeiro encontro?
Foi incrível. Encontrei com ele no trabalho dele, perto da hora do intervalo dele. Fui sozinho de casa até lá, com minha cadeira de rodas motorizada e os ônibus adaptados aqui da cidade. De lá, fomos até uma padaria próxima ao trabalho dele; ficamos, conversamos e nos conhecemos mais além do que já tínhamos conversado pelo aplicativo, apenas firmando o sentimento que já havíamos um pelo outro.
Como você vê a questão da acessibilidade no Brasil para as pessoas com deficiência, no shopping, restaurante, cinema etc?
Sou uma pessoa que, fora da pandemia, costuma ir bastante aos shoppings da cidade. Por Florianópolis ser uma cidade turística, nesses pontos se tem uma acessibilidade maravilhosa. Cinemas são um pouco mais complicados, uma vez que só fui em estabelecimentos onde o local para cadeirante é muito na frente, quase ficando com torcicolo ao olhar para a tela, e para acessar qualquer outro assento é necessário subir as escadas. Em Concórdia (SC), onde nasci, é bem mais difícil sair para a rua. Grande parte das ruas ainda é de paralelepípedo, o que dificulta andar com minha cadeira de rodas motorizada, e também é uma cidade com muitos morros. Alguns prédios de estabelecimentos comerciais se usam da desculpa de que é muito antigo para ter qualquer tipo de acessibilidade, e outros simplesmente não pensaram nos possíveis clientes com deficiência que poderiam entrar para comprar algo. Então, sim, já mudaram muitas coisas, existem locais extremamente acessíveis, mas não pensam muito em como a pessoa com deficiência chegará até lá, como todas as calçadas que passamos durante o trajeto, todos os ônibus que precisaremos pegar, etc. Não é muito uma questão de qual lugar é acessível ou não, mas sim todo o trajeto e toda a cidade estar adaptada para sua população com deficiência.

E, na sua opinião, o que a comunidade LGBT precisa fazer pelas pessoas com deficiência?
Mais bares e baladas LGBT com acessibilidade, os aplicativos de relacionamento terem acessibilidade para surdos e/ou cegos, promover debates entre pessoas com deficiência LGBTs para desconstruir algumas questões de fetiches ou de pensar que não nos relacionamos sexualmente com outras pessoas etc.
Você milita com duas bandeiras, PCD e LGBT. As causas se unem ou há preconceito entre elas?
Sim. É difícil por grande parte do movimento ativista das pessoas com deficiência ser feito pelos familiares dessas pessoas, que podem vir a ter algum outro preconceito, como contra LGBT, por exemplo. Enquanto isso, o movimento LGBT ainda é muito centrado no gay padrão, branco, cisgênero e sem deficiência.

Quais são os seus sonhos?
Meu maior sonho é dar certo nas carreiras de escritor e youtuber. Já lancei um livro, chamado “Destino Fatal”, que é uma fanfic dos filmes “Premonição”. Reconheço que preciso voltar a fazer vídeos para meu canal do youtube para ele dar certo. Também quero muito voltar para minhas aulas de canto, e talvez jogar ao mundo as músicas que venho escrevendo por um bom tempo. Tudo isso ficou parado por conta da pandemia, todo o mundo em casa. Tenho um pouco de vergonha de fazer meus vídeos e treinar minha voz. Mas com certeza são planos que quero colocar em prática em 2021.
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