Através de comunicado da assessoria, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) disse que pesquisadora Brune Coelho Brandão se tornou a primeira mulher trans doutora pela instituição. A defesa da tese, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia, ocorreu na última quinta-feira (27). O estudo “Psicologia e modos de subjetivação: a produção das transidentidades a partir da metodologia grupal” foi orientado pela professora Juliana Perucchi, trazendo questionamentos sobre cisheteronormatividade e LGBTQIA+fobia estrutural.

Para a pesquisadora, ao refletir sobre os processos de subjetivação, é fundamental levar em consideração determinados marcadores sociais. “Não trabalhamos com a perspectiva de neutralidade. Por isso, percebo a necessidade de conhecimentos produzidos por pessoas trans para pessoas trans. Existem muitas pessoas cis pesquisando as pessoas trans e isso gera certos impactos sobre esses corpos trans e travestis. Então, como estratégia de resistência epistêmica, comecei a pensar, produzir e me colocar enquanto uma pesquisadora que busca conhecimentos mais socialmente engajados“, explica Brune sobre sua metodologia de trabalho.
O interesse de Brune pela pesquisa teve início ainda na graduação, quando ela participou de projetos ligados ao Núcleo de Pesquisas e Práticas em Psicologia Social, Políticas Públicas e Saúde (PPS). Entre eles, o Visitrans, projeto de extensão que promove uma rede de troca de experiências e vínculos entre as pessoas travestis e transexuais da cidade de Juiz de Fora, através de atendimentos realizados no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da UFJF.
As histórias compartilhadas por meio do Visitrans foram determinantes para a construção do estudo. “Não escrevi essa tese sozinha. Essas pessoas me ajudaram indiretamente no processo de escrita e de produção científica, nos quais busquei ouvir pessoas em situação de vulnerabilidade, escutando marcadores sociais que não só gênero, mas também classe, raça, território, geração, sexualidade, utilizando uma metodologia de pesquisa-ação participativa“, destaca Brune.
“A universidade, por vezes, aceita nossos corpos, mas não as nossas ideias e epistemologias. Por isso, há de se refletir sobre a universidade que temos e a que queremos. Estarmos nesse espaço de uma maneira mais propositiva é uma forma de transformá-lo, no sentido de torná-lo mais acolhedor, de fazer com que o contexto acadêmico encare novos sujeitos protagonizando esse lugar”, acrescenta a pesquisadora.
Para a professora Juliana Perucchi, a pesquisa é só o início de uma série de discussões contemporâneas realizadas em todo mundo. “Tomara que a Brune seja a primeira de muitas outras pessoas transexuais a ingressarem no nosso e em outros programas de pós-graduação da UFJF. Queremos esses sujeitos como parceiros de trabalho e, talvez em um futuro próximo, em outra conjuntura de país, concorrendo às vagas de professores e pesquisadores”, pontua a orientadora.
Sobre o significado da conquista do título de doutora por uma mulher trans, Brune ressalta: “Estamos falando de vidas, e de vidas que valem a pena ser vividas, que queremos dignificar, levando em consideração toda a necessidade de reparação histórica e violações que a ciência tem imposto a nós ao longo dos anos“.

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