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Quando eu era adolescente, paquerar não estava exatamente no topo da minha lista de prioridades. Eu até tive lá as minhas namoradas e colecionei alguns crushes por amigos (mesmo sem nem desconfiar que era gay), mas estava mesmo focado nas amizades, nos trabalhos da escola, nos quadrinhos, no videogame… Eu achava que quando terminasse a faculdade é que eu teria bastante tempo para arrasar nos dates!
Então, imagina a minha alegria como um jovem solteiro que acaba de se mudar para a Baía de São Francisco, uma região tão vibrante para a tecnologia, a cultura e a sociedade LGBTQABCDEF+. Eu achava que ia arrasar nos encontros. Da primeira vez em que saí para dançar em Palo Alto, puxei conversa com uma garota simpática, achando que estava sendo super sedutor com meu sotaque europeu e meus movimentos sexy na pista de dança. Daí ela perguntou que tipo de carro eu tinha. Quando respondi que a grana era curta demais para comprar um, ela foi parando de dançar comigo. Só alguns anos depois é que eu soube que esse tipo de pergunta é uma maneira de sondar quanto dinheiro alguém tem na conta.
Com o tempo, descobri que flertar na vida pós-faculdade era bem mais complicado do que eu imaginava. Hoje, se a paquera não está rolando na vida real, as pessoas recorrem aos aplicativos de pegação. Mas o que acontece para que nem mesmo meus amigos mais espertos, bonitos e bem-sucedidos consigam achar um amor nesses apps? Talvez seja porque não dá para resumir em tão poucos pontos tudo o que somos. Talvez porque dados tão simples, como a altura, a etnia ou a idade, sejam um fator de rejeição imediata.
Hoje tenho a impressão de que é quase impossível conversar com desconhecidos quando vou a um bar em São Francisco. Ou as pessoas já estão com seus amigos ou não tiram os olhos da tela do Grindr, tentando se dar bem até o fim da noite. Algumas talvez não tenham nem se aventurado a sair de casa e estejam no Tinder em busca de um match.
De repente até rolam ótimas conversas no aplicativo, mas em geral o desfecho é o ghosting – o que é muito cansativo para o emocional. Isso me faz pensar no quanto esse tipo de app está desgastando o ânimo de tecer amizades e relacionamentos na comunidade gay. Quem precisa de um namorado quando pode escolher um bofe escândalo como se estivesse pedindo sushi pelo aplicativo de entrega?
Recentemente, puxei papo com um motorista de Uber francês. Perguntei o que ele achava de São Francisco para paquerar, se ele tinha uma namorada. Ele disse que não curtiu a vibe das americanas, que achou elas muito materialistas. E contou que na França o clima era de romance, e que quando as pessoas se apaixonam nada mais importa. Para ele, bom mesmo é aproveitar o momento, tomar uma cerveja, curtir e compartilhar as coisas simples da vida com alguém.
Esse papo fez minha mente viajar para fora da cena gay em São Francisco, que para mim está muito contaminada por esse espírito do Grindr. Parando para pensar, a maioria dos meus melhores encontros tem sido com pessoas de fora da cidade e longe dos apps.
Lembrei das paqueras maravilhosas que rolaram em viagens a países como o Brasil e a Turquia. Quando se sai de uma cultura obcecada com juventude, tanquinhos e riqueza, é libertador encontrar pessoas que valorizam a personalidade, curtem uma boa conversa e se abrem para uma atração emocional, e não só física.
Quando estive em São Paulo a trabalho, me arrisquei em alguns dates e fiquei maravilhado ao ver quão genuínos, acolhedores e divertidos os brasileiros são. E muito descontraídos também: os encontros rolam de maneira mais solta, no bar, na balada, no parque – até para almoço te chamam!
Os brasileiros me parecem mais extrovertidos e relaxados; gostam de puxar conversa mesmo quando estão com os amigos no boteco ou na pista. Quando você vê, já está dando um, dois ou três beijinhos para cumprimentar alguém que acabaram de te apresentar.
No último verão que passei na Turquia, marquei alguns encontros pelo Tinder – e logo descobri que dois deles eram acompanhantes (uma palavra mais bacana do que michê). Ironicamente, o único cara com quem eu acabei saindo foi alguém que eu conheci no lobby do hotel.
Quando conheci esse cara, amigável e charmoso, não me contive. Fui falar com ele e, na conversa, pedi seu telefone e o convidei para tomar uns drinques. A gente saiu durante as três últimas semanas que eu passei na Turquia. E nos divertimos muito sendo nós mesmos, aproveitando a companhia um do outro e rindo desse universo louco que nos conectou em um lobby de hotel.
Eu às vezes sinto que as redes sociais e os apps de pegação estão nos fazendo sonhar com pessoas perfeitas, inatingíveis. Talvez fosse melhor focar em quem está interessado em você por quem você é, não pelo que você representa nem pelo conforto material que pode oferecer. Dar mais atenção às pessoas genuínas, honestas, gentis, atenciosas. Valorizar os caras interessantes que gostem de ler, que tenham senso de humor e que te façam rir –saber cozinhar é um diferencial.
Neste momento sinto que a tecnologia está matando o romantismo, mas acredito que há esperança. A questão é que, para viver um romance, é preciso ter intimidade. É preciso expor quem realmente somos e mostrar a nossa vulnerabilidade. Claro, todos temos medo da rejeição, da desaprovação. É por isso que hesitamos antes do primeiro beijo ou da possibilidade de derrubar a parede que erguemos para nos separar dos outros.
Então eu tenho desafio para vocês: abram-se para a honestidade e a vulnerabilidade, que têm o poder de fazer brotar conexões autênticas, daquelas que trazem romance de verdade, amor e alegria às nossas vidas. E aí? Vocês estão prontos para encarar esse desafio?

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