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Criada em 24 de janeiro de 2004 e desativada em 30 de setembro de 2014, a rede social Orkut foi pioneira no Brasil, chegando a ter mais de 300 milhões de usuários ao redor do mundo. Scraps, depoimentos, avaliações, pessoas que visitaram o perfil, comunidades com nomes divertidos, BuddyPoke e Colheita Feliz são alguns dos recursos saudosos que a rede social deixou.
A rede social teve o nome do criador da plataforma, o turco Orkut Buyukkokten, que reside nos Estados Unidos e já trabalhou no Google. Atualmente, o engenheiro é CEO do hello.com e, desde 2019, é colunista do GAY BLOG BR.

Gay e militante da diversidade e da igualdade, Orkut é comentarista frequente sobre impactos positivos e negativos das redes sociais. Também é um ávido programador, barman e massagista profissional. Adora dançar e interagir, principalmente com os brasileiros. Buyukkokten, inclusive, vem anualmente ao país para tomar caipirinhas e conhecer pessoas.

Em entrevista exclusiva para o GAY BLOG BR em 2019, Orkut Buyukkokten falou sobre relacionamentos na era digital e sua visão sobre gay culture. Relembre a entrevista:
Ser gay é algo que você lida com transparência desde a época do Orkut.com. Você se considera ativista? E quando esteve no Brasil, conheceu alguma festa/balada?
Participo ativamente de eventos e causas LGBT e também hospedo muitos eventos. Nos Estados Unidos, estive envolvido com organizações StartOut, GLAAD, Dot429 e REAF. Ainda não tive oportunidade de ir a nenhum evento LGBT no Brasil. No entanto, estou ansioso para participar e fazer parte da comunidade gay no Brasil.
O estudo recente do Human Technology mostra que o uso de aplicativos de relacionamento pode ser bastante tóxico. Como é este cenário de apps para gays?
O Center of Human Technology tem monitorado o tempo de uso em smartphones e grau felicidade dos usuários. O aplicativo número um que torna as pessoas mais infelizes é o Grindr. Em aplicativos como o Grindr, você não é uma pessoa; você é uma figura ou uma parte do corpo. A experiência de usar esses aplicativos nos dessensibiliza e nos emburrece. Isso nos reduz a nossos corpos. O impacto negativo da objetivação mútua que experimentamos nesses aplicativos torna o namoro, o romance e o sexo insignificantes, não satisfatórios. Meu conselho seria excluir e parar de usar os aplicativos que se concentram em gratificação instantânea, sexo casual e “fast fodas”.
O tempo de uso de apps de relacionamento foi considerado desproporcional à felicidade. Em que momento o usuário deve perceber que é hora de desconectar e dar um tempo?
As pessoas usam aplicativos como o Grindr por média de hora por dia. E esse tempo é gasto sentindo infeliz e ruim sobre nós mesmos. Gastar tempo nesses aplicativos nos faz sentir inseguros, isolados, desesperados, ansiosos e infelizes. Muitas vezes, quanto mais tempo se conversa online com alguém, mais expectativas podemos criar. Minha recomendação seria transcender essas experiências pessoalmente, o mais cedo possível: seja uma xícara de café ou uma caminhada em um parque para compartilhar experiências da vida real.
Qual é a principal diferença da paquera de dez anos atrás e a atual, via redes sociais?
Uma década atrás, simplesmente bastava sair na rua para flertar, receber um sorriso e começar uma conversa. A conversa fluindo poderia levar para algo a mais: um drink, um jantar ou talvez uma balada. Se gostássemos da companhia um do outro, consideraríamos o encontro um sucesso. Poderíamos terminar a noite com um beijo: um sinal de que ambos estávamos interessados um no outro e que possivelmente queríamos nos ver novamente. Vivemos em uma época em que a maioria das experiências de paquera e namoro no mundo real foram substituídas por aplicativos de namoro orientados por likes. Esses aplicativos essencialmente tornam nossas relações descartáveis. Também nos permite manter a ilusão que há sempre alguém melhor lá fora ao virar da esquina. Nunca foi tão fácil para nós nos conectarmos com outras pessoas, nunca tivemos mais opções de pessoas para amar e, talvez, seja essa mesma possibilidade e escolha que torna nossos sentimentos de solidão mais agudos, mais presentes e reais.
Sobre a plataforma do orkut.com, qual foi o maior desafio?
Nós não estávamos antecipando o quão rápido orkut.com iria crescer quando lançamos. A arquitetura e a infraestrutura inicialmente não foram criadas para lidar com milhões de usuários. Como resultado, tivemos um grande desafio de engenharia para tornar o aplicativo escalável com uma plataforma ativa que já contava com uma enorme base de usuários.
Qual função ou recurso você mais gostava no Orkut? Há algo de que se arrepende?
Minha parte favorita do orkut.com eram comunidades. Elas forneciam um espaço onde todos se sentiam seguros e podiam genuinamente expressar como se sentiam e o que pensavam. Reuniu as pessoas em torno de paixões compartilhadas e possibilitou a criação de relacionamentos significativos. Algo que eu gostaria de ter feito naquela época é lançar versão app para dispositivos móveis.
O que há de novo sobre Hello? O que devemos esperar do aplicativo este ano?
No momento, estamos trabalhando em nossa versão para web do Hello e um novo design. Esperem por atualizações emocionantes. Temos também personalidades que abraçam a cultura LGBT, bem como inúmeras comunidades populares como Gays Do Brasil e Gays De São Paulo, criadas e moderadas por nossos membros LGBT.
De modo geral, como você avalia a comunidade LGBT atualmente?
Eu acho que, mais do que nunca, é importante praticar a gentileza em nossa comunidade. Os gays geralmente não são gentis uns com os outros – a menos que haja algum interesse: seja um contato comercial, um dating ou para ser PA. Muitas vezes, você vai a um clube ou bar e conhece pessoas que simplesmente o julgam por sua roupa. Na noite, as pessoas parecem ter muita ansiedade, exageram com drogas pesadas e focam no sexo casual. Você percebe que é uma selva lá fora e você odeia que isso se tornou sua comunidade. Mesmo drag queens, que muitas vezes são referências para os gays, podem encarnar personagens odiosos e desagradáveis. Eu posso entender a ocasionalidade de humor, mas não entendo colocar “padrãozinho” em um pedestal, sabendo que eles estão sendo maus, e conscientemente ou não, espalham o ódio. É assim mesmo que queremos retratar nossa cultura? Há tantos homens gays fantásticos que são modelos para todos nós, que tiveram um impacto indiscutivelmente bom no mundo. Às vezes, quando penso em como nos tratamos, sinto que diminuímos nossas conquistas. As capas de muitas revistas gays vivem enaltecendo estrelas de cinema ou celebridades que saíram do armário. Tenho amigos que se assumiram quando tinham 13 anos. O que faz com que as histórias de celebridades e histórias de filmes sejam tão importantes? Por que não podemos celebrar e colocar pessoas com realizações criativas ou intelectuais nas capas em vez de modelos bonitas? A comunidade gay é incrivelmente criativa, compassiva, inteligente e generosa. Produzimos alguns dos empreendedores, designers, engenheiros, atletas e artistas mais talentosos do mundo. Precisamos nos concentrar nisso também. Nós não precisamos ter uma comunidade girando em torno de tamanho de pau, cultura clubber, lacração, jock-straps, go-go dancers e dildos de 30 centímetros. Seja orgulhoso e feliz por ser quem você é. Não se contente com menos. Não ofereça seu corpo a alguém que não vai enviar mensagens de texto ou ligar para você no dia seguinte. Viva e respire seus valores e seja aquela pessoa que aspira ser. Saia do armário, seja orgulhoso, seja esperto, esteja comprometido. Seja forte. Não deixe ninguém sabotar seu brilho. Seja você mesmo.
Please come to Brazil!
Com certeza, eu estarei aí ainda este ano. Estamos no processo de finalizar meu itinerário.
Leia os textos da coluna do Orkut neste link.
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