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“Travesti dá a bunda. Alguém contrata uma traveco pra ser babá, professora ou uma secretária? Não! Por isso travesti faz pista, meu querido”. Foi a resposta que Andréa de Mayo me deu, quando a entrevistei em 1992, numa pesquisa antropológica sobre a vida das travestis. Militante dos direitos LGBT+, Andréa foi empresária do bas-fond paulistano, dona da Prohibidus, boate trash-cult que ficava na rua Amaral Gurgel, centro de Sampa. Contemporânea de Brenda Lee, Condessa Mônica, Cláudia Wonder e Janaína Dutra, travestis do underground que espalharam muito glitter e montadas, aguentaram muita porrada na luta LGBT+.
Peitou com coragem no programa de Serginho Groisman, na época no SBT, o político Afanásio Jazadji que defendia que homossexuais deveriam ser retirados do convívio social. Aproximou-se de políticos para pedir pelos direitos civis da comunidade LGBT+. Morreu esquecida no ano 2000, vítima de uma cirurgia plástica para retirada de silicone industrial.
Após vinte anos da morte de Andréa, chegamos no Dia Nacional da Visibilidade Trans, data que eterniza o dia 29 de janeiro de 2004, quando pessoas trans ou travestis pela primeira vez estiveram no Congresso Nacional em Brasília, para falar diretamente para os parlamentares sobre a realidade deste grupo, lançando a campanha “Travesti e Respeito”.
Deste dia até agora, colecionamos algumas conquistas como o direito do uso do nome social e alguns acessos na área da saúde. Mas ainda é pouco para assegurar a vida das pessoas trans. A Associação Nacional de Travestis e Trans (Antra), divulgou relatório recente, comprovando que nós continuamos no 1º lugar do ranking mundial de países que mais matam travestis e pessoas trans.
Considero o Dia da Visibilidade Trans uma das datas mais significativas para o movimento, a luta e a comunidade LGBT+, porque é através da visibilidade trans, que aprendemos a ver outras cores da bandeira do orgulho. Antes enxergávamos só os gays e lésbicas, preferencialmente os normatizados. Os nossos olhos então se abriram para as mulheres e os homens trans, estes últimos, raramente mencionados. Passamos a entender que travesti não é só a garota da pista, nem a transformista do Carnaval, mas quem deve ter seus direitos de cidadania assegurados. A discussão antes reduzida na orientação sexual, foi ampliada para identidade de gênero, biológica e afetos. Tivemos que nos deparar com o fato que genital não define identidade, nem limita expressão de gênero, muito menos afetos e prazeres. Graças às pessoas trans ou travestis, começamos a perceber que as identidades, os sentidos e os amores não estão encarcerados no binário. Há muito mais de 50 tons entre o masculino e o feminino. E podemos transitar entre esses tons conforme quisermos, descobrindo e manifestando novas possibilidade de ser e de sentir.
É a Era Trans, a época para transcendermos todos os padrões, amarras e algemas. Mas transcender é só para fortes. O Dia da Visibilidade Trans é sobretudo uma data que celebra a coragem de pessoas que estão dispostas a correr risco de vida simplesmente para serem quem elas sentem que são. É o tributo mais verdadeiro à autenticidade.
A luta pela inclusão das travestis e pessoas trans no trabalho, na saúde e na cidadania continua e é cada vez mais urgente. O Dia da Visibilidade Trans deve ser um dia para assumirmos o compromisso por um futuro inclusivo e também recuperarmos a memória da nossa história LGBT+, coroada por personagens de coragem como Andréa de Mayo e muitas outras e outros que nos despertaram para algo maior: o direito de viver.
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