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Nossa sexualidade se define aos tenros anos de idade. Com 3 ou 4 anos nossa orientação está definida, tanto Freud quanto os geneticistas concordam que a pulsão é algo entre o somático e o psíquico. Isto é, tem algo de orgânico e muito de social na construção da nossa sexualidade. Ambos concordam que não existe cura gay ou mudança de sexualidade, apenas nossa capacidade de aceitar.

Já contei que meu avô era herói de guerra, fui membro da igreja e do movimento bandeirante e, embora jamais tenha escutado frases homofóbicas, isso construiu um muro em mim. Sim, fui do tipo de idiota que fazia piadas sobre gays e tinha preconceito. Meu melhor amigo me contou que era gay e me afastei dele. Hoje, percebo que a maioria dos meus amigos sabia de mim, em outro texto descrevo que fui vítima de homofobia dos 12 aos 17 anos. Na época só entendi que meu tio me odiava. Quando comecei a militar, me dei conta que ele me chamava de viadinho, de gay. Cheguei a dormir com faca debaixo do travesseiro com medo dele e resolvi o caso com a policia. Agressão contra menor, afinal eu não me percebia gay e nem sabia que o que era homofobia. Mais tarde descobri que naquele que seria meu primeiro emprego, na escola em que estudei a vida toda, em que fui homenageado, ganhei uma placa, deixei de ser contratado por ser gay, quando eu mesmo ainda desconhecia minha sexualidade como tal.

Com 20 anos, fui beijado por um rapaz com a desculpa da bebida e minha vida se transformou, me percebi gay, fui ao completo desinteresse por mulheres, mudei de Florianópolis pois tinha medo de não ser aceito.No Rio trilhei uma rota da vergonha ao orgulho. Primeiro estranhei os beijos entre colegas gays, frases no feminino, hoje acho uma brincadeira engraçada.

Nunca escondi de ninguém minha sexualidade, mas também não levantava bandeira. Eu era um educador, gestor de carreiras, psicanalista e gay. Pelo meu trabalho em educação fui convidado a entrar no Partido Popular Socialista por seu presidente, deputado Comte Bittencourt , e numa conversa com membro da nacional do partido, ele muito sutilmente disse para eu me aceitar. Foi quando entendi que minha sexualidade era política. Fui colocado dentro da militância, meio de paraquedas.

- BKDR -
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Uma longa trilha da vergonha ao orgulho | Eliseu Neto
Foto: Eliseu Neto

Foi um profundo aprendizado sobre sexualidade, identidade de gênero, redesignação sexual. Me descobri ainda moralista e cheio de preconceitos, contra os quais luto até hoje. Nossa educação judaico-cristã nos arraiga preconceitos racistas, machistas, homofóbicos, transfóbicos. Em piadas, brincadeiras, agressões colocamos eles para fora. Não existe graça em agredir minorias. Até show de drags tem piadas sobre passividade, o cara ser discreto ou ter “jeito de macho”. Nosso gosto é pautado em tudo que aprendemos e a luta contra ele é inglória. Resta-nos aprender, identificar e ao menos não compactuar com piadas e agressões. Agora, tenho muito orgulho da minha orientação sexual, de escolher dedicar parte da minha vida para combater a homotransfobia, inclusive sendo o responsável pelo Supremo Tribunal Federal ter enfrentado o tema da leniência governamental frente ao genocídio que sofremos. 300 LGBTs são mortos no Brasil por ano, 44% das mortes mundiais e acordado que LGBTfobia é crime de racismo social. Talvez muito dessa trajetória tenha me dado forças para essa luta pela criminalização.

Sinto-me mais preparado para lutar contra os preconceitos, mas creio que jamais estarei totalmente livre deles, todo dia percebo um preconceito escondido, mas eu os enfrento. Por isso digo, com conhecimento de causa de quem já desconheceu a própria sexualidade e já foi um babaca homofóbico preconceituoso e hoje é um lutador pelos direitos das minorias, quão longa é a luta contra nossa educação, a moral que recebemos e a trilha para o orgulho de ser gay. Nunca me esqueço do meu pai dizendo que sou mais macho que muito homem que jamais teria tal coragem.

“Sinto vergonha de mim” – Ruy Barbosa.




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