No tempo em que se lia livros, mesmo que obrigatoriamente para o vestibular, me parecia bastante torpe o deslumbre pela insanidade de Quincas Borba, reiterando que “a dor é pura ilusão”. Teve que me passar alguns pares de anos (não vou dizer quantos para não revelar a idade) secundando em estar neste prosaico dia para finalmente concluir que Machado de Assis foi o Nostradamus de sua geração. Aliás, lembra que nos anos 90s a gente lia muito “de sua geração” nas reportagens? Digressão à parte, Assis estava certo sem ao menos supor que estaria: a dor deveras é ilusão. Você é testemunha veemente de que a dor foi extinta, igual ao Rinoceronte Negro do Oeste Africano.
Não vou dizer “no meu tempo”, pois foi tipo ontem. O fato é Steve Jobs não tinha lançado o iPhone e todos sofríamos por não haver qualquer entretenimento parecido com o excesso de informações inúteis da web. A gente sofria igual a Virginia Woolf narrou em “Mrs Dalloway”. Veja se tem o filme “As Horas” no Netflix para você entender um pouco mais. E essa merda eles nomearam de “ócio”.

Viver no ócio era tipo gostar de alguém sem que ela soubesse e ligar em sua residência na esperança que atendesse só para ouvir “alô” – e depois desligar na cara. Não dava pra saber quem estava ligando pois ninguém havia pensado em criar o identificador de chamadas. Não sei os outros, mas uma vez eu aborreci o carteiro com incontrolável ansiedade de receber o retorno de uma carta havia escrito duas semanas anteriores. Até havia comprado um perfume só para borrifar no papel. Mas espirrei de longe a fragrância, se parecesse que o cheiro foi proposital, poderia evidenciar a real intenção de consumir o matrimônio.
Era mágico ler “logradouro” e saber de cor os dados. Hoje todo o mundo é arroba. Essa “arroba” que escrevi na frase anterior foi para gerar ambiguidade, saca? É que “arroba” era a medida equivalente a 14,69 quilogramas. Logo, escrevi “hoje todo o mundo é arroba” para remeter ao endereço de e-mail e fazer analogia de que todo o mundo é um saco de uma safra agrícola que somente é valorada por seu índice de massa corporal e desconhece seu fabuloso destino.

Também era consequência do ócio ficar o dia todo grudado no rádio a esperar tocar “That Thing You Do” e lograr em gravar a música na fita K7 desde o comecinho, mesmo que colocassem vinhetas da emissora em cima da canção.
Eu me lembro que as letras de música eram elaboradas com esmero, mesmo as criadas pelos Mamonas Assassinas. Usava ser necessário haver algum tipo de esforço verdadeiro em tudo, mesmo que fosse para conquistar a escória. Pra ter idéia de um vulgar de esforço, taí a Mariah Carey que não me deixa mentir: ela atingiu um tom que excede à mais aguda escala de um piano – tom somente então emitido por golfinhos. E por ter sido a única ‘Mulher sapiens’ que logrou com a nota, mereceu um artigo no Guinness Book, o equivalente a uma menção na Wikipedia. Que vida cruel, Camões, ela tem menos popularidade que a Giovanna derrubando o forninho. É uma lástima notar que você nunca verá uma Alanis Morissette surgir.
Não sei o porquê de você floodar a timeline do Justin Bieber. Achava que transgredir era sinônimo de varar a noite e estar, meu bem, por um triz, pro dia nascer feliz, o mundo inteiro acordar e a gente dormir. Essa era a vida que eu quis. Só entende quem namora.
O que você diz amar, a selfie, eu já me relacionei com ela nos anos 80s, com o fator implicante de que só podia fazer no máximo 36 fotos e que me custava ficar uma semana sem comer o lanche no colégio. Sinto falta da trema na linguiça. LINGÜIÇA. O que será do “SHIFT + 6” nos dias do porvir? Tomara que se transforme num “S2”. E você é tão virtual que nem se deu ao trabalho de criar uma equivalência para “stalker” em português. Futuramente as pessoas poderiam estudar a etimologia do verbete ao ingressar no terceiro grau.
Sabe o que sinto? Aquela sensação de ir até a sua agência bancária para compensar um cheque, tentar se distrair com a sorveteria ao lado que não imagina o que vem a ser o sabor Nutella, ser questionado pelo caixa se é “crédito ou débito” uma vez que o cartão explicitamente exibe somente a opção de débito e, além do valor do sorvete sabor vermelho super faturado devido aos impostos, ainda pagar com parcimônia pela ignorância alheia.
Ouso, aqui, escondido atrás desta conexão wifi, discordar publicamente de Caetano: graças a Zuckerberg você desconhece a dor e a delícia de ser o que é. Mande um Snapchat agradecendo à vida por não saber o que é dor.
E faça a gentileza de pensar em mim, pelo menos quando esgotar a bateria do smartphone. No mais, tenho certeza que a Tati Bernardi não dá Google em seu próprio nome.
Obrigado por chegar ao fim do texto, o seu clique foi muito importante pra mim. Ia me apresentar agora, todavia, a minha graça não interessaria mais do que as minhas arrobas e se pudesse eu seria a Danuza Leão. Apenas almejo merecer um cantinho da sua timeline. Suplico para que me siga nas redes sociais, juro que não posto foto de prato de comida e tampouco frases motivacionais.
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