Ex-goleiro Roger revela polêmica ao posar nu para ‘G Magazine’

O ex-goleiro Roger José Noronha da Silva (51), conhecido por suas passagens pelos times de futebol São Paulo e Flamengo, fez revelações sobre um episódio marcante de sua carreira em uma entrevista ao podcast “De Primeira”, do UOL. Em 1999, Roger aceitou posar nu para a revista G Magazine, o que desencadeou uma série de acontecimentos que o levaram a pedir, ao técnico do SPFC, que o “emprestasse” a outro time.

Roger, o que ficou conhecido entre os torcedores como o “eterno reserva de Rogério Ceni”, explicou que o ensaio nu foi cuidadosamente pensado e discutido com antecedência. Ele relembra não foi o primeiro jogador a posar nu, mencionando os casos de Vampeta e Dinei, mas a situação criou um mal-entendido com o então técnico do Tricolor Paulista, Paulo César Carpegiani.

“Foi muito pensado, conversado, eu não fui o primeiro. Se eu tivesse sido o primeiro a ser convidado, acho que não faria. Mas, como Vampeta já tinha feito, o Dinei já tinha posado também, e não deu problema nenhum, foi uma repercussão natural, normal, eu achei que seria do mesmo jeito do Vampeta e do Dinei, nada que atrapalharia a carreira ou que desse uma polêmica em relação a isso, então foi tudo bem pensado”, disse o ex-jogador.

No dia de um jogo no Morumbi, o ex-futebolista conta Carpegiani pediu para que adiasse a publicação das fotos até janeiro. Roger concordou sob a condição de obter autorização da revista. No entanto, após a derrota do São Paulo no respectivo jogo, Carpegiani declarou publicamente que Roger não jogaria mais pelo clube caso o ensaio fosse publicado.

- BKDR -

Roger descreveu a situação como um mal-entendido que não deveria ter acontecido. Ele explicou que, após tentar resolver o problema com a revista e Carpegiani, optou por ser emprestado ao Vitória para evitar mais controvérsias e não atrapalhar o São Paulo no Brasileirão. Posteriormente, retornou ao São Paulo e conquistou títulos, incluindo o Rio-São Paulo e a estreia de Kaká.

“Foi um mal-entendido que não deveria ter acontecido, mas aconteceu. Pouca gente sabe disso, mas o Carpegiani, que era o treinador, me pediu no dia do jogo no Morumbi, a gente estava concentrado no CT da Barra Funda, de manhã cedo, os jogadores que não estavam convocados para o jogo treinavam, eu fui assistir ao treino, como fazia todas as manhãs que eu estava concentrado, e ele me pediu: ‘Roger, tem como você adiar essas fotos para janeiro’?. Eu falei: ‘Professor, acho que não vai ter problema nenhum, mas eu preciso ligar para o dono da revista e pedir essa autorização’. […] No final do jogo no Morumbi, o São Paulo perdeu, e um repórter perguntou ao Carpegiani sobre a revista. Ele falou: ‘Conversei com o Roger hoje de manhã e falei para ele que, se a revista for para a banca, ele não joga mais no São Paulo’. Aí foi aquela repercussão, uma coisa que já estava tudo encaminhado para ser resolvido naturalmente teve aquela repercussão, cheguei na minha casa tinha 10 repórteres para me entrevistar”, contou o ex-goleiro de futebol.

“No outro dia, acordei cedo, liguei para o cara da revista, e eles falaram que se fosse por eles a revista naquele dia, o que eles mais queriam era polêmica para sair a revista. Eu falei com o Carpegiani e ele: ‘Roger, como é que eu volto atrás no que eu falei?’. E aí foi um problema, um abacaxi para descascar. O São Paulo se reuniu comigo, falaram que o Carpegiani tinha o direito de não contar comigo, mas a instituição São Paulo não tinha nada a ver, eu não tinha feito nada contra o meu contrato com o São Paulo. Aí eu pedi para ser emprestado ao Vitória para abafar o caso, para não atrapalhar a sequência no Brasileirão, e depois voltei em 2001 para o São Paulo. Já cheguei sendo campeão do Rio-São Paulo, na estreia do Kaká, e depois fiquei quatro anos no São Paulo. Então, foi um mal-entendido que poderia ter sido evitado”, contou Roger ao videocast.

Dessa forma, a G Magazine prosseguiu com a sua publicação, naquele outubro de 1999. “No dia seguinte à coletiva”, lembrou Roger, em outra entrevista ao UOL Esporte, em 2017. Assim, a edição 25 da revista, foi às bancas de todo o Brasil por R$ 6,90. Atualmente, é possível encontrar fãs vendendo a referida edição por até R$ 200.

Essa situação o levou à transferência para o Vitória Futebol Clube, onde o caso foi abafado por cerca de um ano. Quando ele retornou ao São Paulo, Carpegiani já não era mais o treinador.

“[Carpegiani] se precipitou. Seria mais íntegro se ele falasse o que ocorreu, do que ter colocado o São Paulo nessa situação. Eu sofri as consequências. Ele queria que eu ficasse afastado por um mês por indisciplina. Mas eu não queria aceitar, seria assinar que fiz coisa errada, e não fiz nada errado”, acrescentou à entrevista concedida em 2017 ao UOL Esporte.

Apesar de todas as circunstâncias, Roger contou, também ao UOL Esporte, que nunca se arrependeu de seu ensaio nu, pelo contrário, ele acredita que toda a polêmica que se seguiu foi um apoio importante na luta contra o preconceito e na busca pela igualdade de gênero. O ex-jogador contou que recebeu apoio de diversas esferas e vê esses eventos como oportunidades para desafiar os estereótipos relacionados aos homens que posam nus, enquanto destaca a importância da busca contínua pela igualdade entre homens e mulheres.

“Eu recebi apoio de vários segmentos. Acho que essas coisas são boas de acontecer, porque mostra o preconceito contra o homem posando nu. Para mulheres é diferente. E o mundo busca tanto essa igualdade entre homens e mulheres”.

Apesar das dificuldades enfrentadas, o episódio acabou gerando mais oportunidades para outros jogadores posarem nu para a revista gay, como Bruno Carvalho, do Flamengo, em 2002, e Túlio Maravilha, ídolo do Botafogo, em 2003.

Assista à entrevista na íntegra:

Do futebol à política

A carreira de Roger no futebol começou nos anos 90, quando iniciou sua trajetória no Flamengo. Ele fazia parte da mesma geração que revelou nomes como Djalminha, Paulo Nunes, Marcelinho Carioca e Júnior Baiano na Gávea. No São Paulo, onde, apesar de ser frequentemente reserva de Rogério Ceni, permaneceu de 1997 a 1999 e de 2001 a 2004. Segundo informações do “Almanaque do São Paulo”, o ex-jogador fez 51 partidas como titular, obtendo 26 vitórias, 13 empates e 12 derrotas durante esse período. Suas contribuições foram fundamentais para conquistas como o Campeonato Paulista em 1998 e 2000, o Rio-São Paulo em 2001 e a Libertadores em 2005.

Além de suas passagens pelos times já citados, Roger também teve experiências com outros clubes, incluindo Portuguesa e Vitória em 2000, bem como uma breve passagem pelo Santos de dezembro de 2005 a julho de 2007. Em sua estadia na Vila Belmiro, Roger novamente enfrentou o desafio de ocupar o banco de reservas, desta vez atrás de Fábio Costa.

Roger encerrou sua carreira nos gramados em junho de 2008 devido a uma lesão crônica no ombro. O goleiro, então, antecipou sua despedida do futebol profissional enquanto atuava pelo Botafogo (RJ), clube pelo qual chegou em setembro de 2007 e, por vezes, novamente ocupava a posição de reserva.

Além de sua carreira esportiva, Roger ingressou na política, buscando contribuir para sua comunidade. Em 2012, ele se candidatou à prefeitura de Cantagalo (na região serrana do Rio de Janeiro) e, embora não tenha conseguido se eleger, conquistou 2.112 votos. Já em 2008, foi eleito vereador com 599 votos, tornando-se o quarto candidato mais votado no município. Também ocupou o cargo de coordenador regional do Democratas (DEM), que posteriormente se fundiu com o PSC (Partido Social Cristão) e acabou resultando no União Brasil (UNIÃO).

O ex-jogador mantém um perfil no Instagram, o @rogerjnoronha.

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