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Durante boa parte da minha vida, muitos sinais foram piscando para indicar que a minha sexualidade não se encaixava exatamente na categoria hétero. Terminei com a minha namorada porque não enxergava uma vida em comum com ela, comecei a sair para dançar nos bares gays de São Francisco e uma das minhas maiores diversões era assistir à série “Queer as Folk” com meus amigos, como contei para vocês no meu último artigo.
Eu poderia até desconfiar, mas naquela época ainda não sabia se era realmente gay. O que estava faltando? A minha primeira noite com um homem, claro. E ela acabou rolando, mas não exatamente da maneira mais previsível, que seria ficar com um cara em uma dessas baladas no Castro.
A experiência, aliás, foi bem diferente do que você pode imaginar. Eu havia viajado para Amsterdã, na Holanda, para participar de uma conferência de tecnologia –o tipo de evento em que não se espera encontrar homens gays. No meio de tanto gente, lá estava eu, mas com um visual diferente: um pouco antes, tinha feito luzes no cabelo. Talvez fosse mais um desses sinais (afinal, que hétero faria isso?).
Mesmo sem querer, acho que estava dando pinta, porque um cara muito fofo veio falar comigo, o Gregory. Ele também era americano e estava lá trabalhando como voluntário em TI. Eu achei ele interessante, gostei do seu jeitão todo falante e amável, então começamos a conversar.
Lembro que eu fiquei encantado com aquela conexão gostosa com uma pessoa de personalidade tão alegre e amigável, e acho que ele também sentiu algo diferente por mim. Tanto é que, no final do dia, o Gregory me convidou para tomar um drinque em um bar que ficava ali perto, a algumas quadras do hotel onde estava rolando a conferência.
O bar tinha uma atmosfera, digamos, bem peculiar. A primeira coisa que eu reparei foi nas várias estatuetas de macacos nas prateleiras –e que eles tinham uns pintos enormes. Quando olhei ao redor, só vi homens. Daí caiu a ficha: era um bar gay.
Fui na onda e comecei a me sentir como se nós dois estivéssemos em um primeiro encontro, uma mistura empolgante de frio na barriga e incredulidade de que aquilo estivesse realmente acontecendo. Conversa vai, conversa vem, percebi que a gente estava meio que flertando um com o outro. Quando a gente bebe, a inibição vai para o espaço, então estava me sentindo bem à vontade com isso.
O que me atraía no Gregory não era nada de especial no corpo dele. Eu lembro que ele tinha uns olhos muito bonitos, mas não era esse tipo de atração física que eu estava sentindo. O que eu estava desejando era esse contato de pele com pele, tocar, pegar na mão, abraçar. Mas como começar?
Depois de alguns drinques, a gente voltou para o hotel e ficou conversando no lobby. A verdade é que nenhum dos dois queria que a noite acabasse ali, então ficamos enrolando para nos despedir. Até que, no momento em que a gente ia realmente se dar tchau, ele pegou a minha mão e começou a brincar com os meus dedos.
Sentir a mão dele na minha me deu ainda mais vontade de ir além nesse contato de pele que eu tanto queria. Chamei ele para subir comigo para o meu quarto, mas fui logo avisando: não vai rolar sexo. Estava com um pouco de medo, porque tinha acabado de conhecer o Gregory e não sabia bem o que esperar dessa noite. Mas ao mesmo tempo me sentia seguro, porque ele era um cara legal, inteligente, e eu sabia o que desejava.
Ficamos juntos a noite toda. Não transamos, mas rolou o que eu queria: carícias, abraços, conchinha. Na manhã seguinte, eu acordei e pensei: “ah, eu sou gay”. Passar a noite com ele foi surpreendentemente confortável. Esse contato de pele, o carinho, o desejo, tudo isso me pareceu, finalmente, natural.
E foi assim que eu achei a peça que faltava no meu quebra-cabeça. Foi tão bom que, se o Gregory morasse em São Francisco, acho que poderíamos ter saído mais vezes. Como ele vivia em Seattle, não nos falamos mais. Alguns anos depois, ele fez um perfil no Orkut e me encontrou lá. A gente teve uma conversa curta, mas muito legal.
Depois daquela noite, tive certeza de que havia chegado a hora de começar a sair com caras. E foi isso o que eu fiz quando voltei para casa, mas de início não contei para ninguém. Até que chegou o momento em que eu me apaixonei por alguém e percebi que não fazia o menor sentido manter a minha sexualidade em segredo. Eu havia encontrado a porta do armário, mas ainda faltava abrir.
Eu queria que meus amigos conhecessem meu namorado. Até aquele dia, eu não tinha contado para eles que era gay, só tinha me aberto com meu irmão e minha cunhada. Então eu resolvi chamar todo mundo para a minha festa de aniversário e apresentei aquele homem novo para a turma simplesmente assim: “oi, gente, este é o meu namorado”. Para minha surpresa, meus amigos não ficaram nada surpresos. Acho que eles já sabiam, e foi muito gostoso ver como eles ficaram felizes por mim, por eu ter assumido a minha verdadeira sexualidade.
Depois dessa festa-revelação, eu me senti realmente libertado. Foi muito bom poder me expressar dessa forma, sem amarras, sem medo. Para mim, um novo caminho estava se abrindo – agora fora do armário, de uma vez por todas.
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