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Brasil e Estados Unidos vivem momentos similares: ambos são países onde acontecimentos bizarros se tornaram tão corriqueiros que parecem parte do rotina. Na última quarta-feira (06/01), terroristas invadiram o Capitólio, sede do Congresso norte-americano durante a validação da vitória do presidente eleito Joe Biden.

Não bastasse a violação da segurança nacional, os criminosos causaram a morte de quatro pessoas. Uma leitura desatenta dos fatos poderia deixar passar desapercebidos detalhes que manifestam o caráter ameaçador do ato para além de si próprio. Isto porque, segundo a antropóloga brasileira Rosana Pinheiro-Guimarães, professora da Universidade de Bath, do Reino Unido, há mais por trás das imagens de homens tatuados e musculosos, vestidos de peles e chifres, pintados com as cores dos Estados Unidos do que uma estética pouco convencional.

Pinheiro-Guimarães trabalha como pesquisadora e pesquisa a masculinidade e explica o chamado “tribalismo masculino”, ou “masculinismo”. “O princípio dos grupos tribalistas masculinos, ou masculinistas, é primeiro um ódio às mulheres, uma ideia de que as mulheres são objetos para reprodução humana simplesmente. Muitos dos grupos masculinistas norte-americanos defendem que as mulheres têm que ser caçadas, literalmente, e que nós só servimos para reprodução”, esclarece.

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Neste sentido, a estética é adotada como uma lembrança de tempos onde igualdade e direitos humanos não eram assuntos relevantes e prevaleciam de forma ainda mais opressora a masculinidade, a objetificação da mulher e a violência brutal contra o diferente. A “homenagem” pode se dar a diversos povos, como romanos, espartanos ou vinkings, por exemplo. Mas a reivindicação da virilidade, do direito à guerra e outras virtudes tidas por perdidas nas sociedades modernas é uma tônica nos seus pronunciamentos, além de corpos musculosos e tatuagens. Para a professora Pinheiro-Guimarães, é uma forma ainda pior do que o machismo como em ambientes de fundamentalismo religioso, pois não se trata apenas de subserviência da mulher, mas de verdadeira ojeriza ao feminino.

Embora não sejam novidade, movimentos do gênero cresceram exponencialmente ao longo da gestão de Donald Trump na Casa Branca, seja em referências acadêmicas ou em fóruns e discussões online. Alt-Right (direita alternativa) e QAnon são alguns dos movimentos extremistas mais diluídos nos Estados Unidos. Organizados em grupos pela internet e presenciais, o intuito dos líderes dos criminosos é sempre o combate às tentativas de reduzir as injustiças sociais, como as lutas LGBTQIA+ e a ação Black Lives Matters.

A pesquisadora ainda explica que, não coincidentemente, após a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, o número de vídeos traduzidos para o português e protagonizados por brasileiros cresceu substancialmente, além de ameaças diretas à outras pesquisadoras do assunto, como a professora Debora Diniz (das universidades de Brasília e Brown, nos EUA).

No topo de tudo isso, ainda existe Jack Donovan, escritor e principal estrela dos masculinistas, representante do extremismo sem limites do movimento. Donovan e seus seguidores praticam sexo homossexual entre si, mas não se consideram gays. Segundo os próprios, a motivação é a adoração e devoção à estética masculina, à virilidade e ao corpo do homem. Mesmo assim, para eles, a identidade gay ou afeminada se trata de um aberração e deve ser fortemente combatida. A defesa do ideal masculino, desta forma, não deveria ser confundida com a “fraqueza” de ser gay.

Estes e outros comportamentos defendidos pelo grupo de terroristas lança séria questão sobre a importância dos debates sobre sexualidade e gênero na contemporaneidade, visto que o tom monocromático das ações de tais grupos extremistas acarreta numa crescente onda de violência – onde quer que estejam instalados.




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